Destinos Entrelaçados

26 4 44
                                    

"O quê?! Você beijou ela? Como assim você me conta isso só agora, quase duas semanas depois do beijo, Chaewon?" A voz de Sakura soava incrédula, quase ofendida, mas com um tom de quem já esperava por aquela revelação. "Na verdade, eu já desconfiava... Para ser sincera, todo mundo já desconfiava! Esse foi o assunto principal entre mim e Kazuha. A gente ficou imaginando como teria sido o beijo de vocês, e, claro, o que uma de vocês fez para estragar tudo depois. Mas, ok, não é isso que importa agora. O que eu quero é que você me conte tudo. Em detalhes, Chaewon. Agora!"

Chaewon, do outro lado da linha, rolou os olhos, exausta, mas com um sorriso discreto nos lábios. Ela não podia ver o rosto de Sakura, mas sabia exatamente como a amiga estava naquele momento. Os olhos dela deviam estar arregalados de curiosidade, o rosto dividido entre um sorriso travesso e uma ansiedade quase infantil. Além disso, Kazuha, provavelmente sentada ao lado de Sakura em sua cama, estava ouvindo cada palavra em silêncio, absorvendo tudo como se fosse uma novela.

— Hmm, meio que beijei ela por impulso e, depois, falei que a gente devia esquecer porque, sabe como é... isso não vai dar em nada. Feliz agora? — Chaewon respondeu com uma pitada de sarcasmo, tentando soar desinteressada, mas, por dentro, cada palavra que ela dizia parecia rasgar um pedaço do seu próprio coração. Ela sabia que a mentira de que "não daria em nada" era apenas uma desculpa para fugir do que realmente sentia.

"Você não disse isso!" O grito agudo de Sakura fez Chaewon afastar o telefone do ouvido instintivamente, franzindo o rosto de dor. "Você só pode estar brincando comigo! E com Yunjin também!" A voz de Sakura reverberava com frustração e choque. "Chaewon, escuta, você e Yunjin são definitivamente almas gêmeas, e ninguém duvida disso! Você já parou para pensar na coincidência absurda de vocês terem se reencontrado numa boate depois de cinco anos? Cinco anos, Wonie! Isso não é só sorte. Isso é destino, se você quer saber!"

Chaewon mordeu o lábio, sentindo o peito apertar enquanto as palavras de Sakura ecoavam. "Destino" era uma palavra forte. E, embora ela não quisesse admitir, aquilo fazia todo o sentido. O reencontro com Yunjin não parecia uma simples coincidência, mas a dor daquele afastamento ainda era uma ferida aberta que nunca cicatrizara completamente.

"Eu sei que você ainda a ama," continuou Sakura, a voz mais suave, quase compreensiva. "todo mundo sabe, principalmente você e ela. Mas, ao invés de facilitar as coisas, você prefere tornar tudo mais difícil, mais doloroso, tanto para você quanto para ela. Eu sei que é complicado, principalmente por conta da confiança... Afinal, ela provavelmente estava planejando ir embora sem te dizer nada. Mas isso foi há cinco anos! Cinco anos, Chaewon. Ela fez isso porque te amava mais do que qualquer coisa. Talvez vocês possam recomeçar... como amigas, até que você consiga confiar nela de novo. Que tal?"

A essa altura, as palavras de Sakura atingiram Chaewon como um soco. Lágrimas ameaçavam escapar de seus olhos, mas ela piscou rapidamente, lutando para manter a compostura. Como era possível que uma pessoa fosse tão vulnerável à outra?

— Ok, Kkurq. É... depois a gente se fala, pode ser? — Chaewon cortou, a voz trêmula. — Tem alguém se mudando para o apartamento da frente faz alguns dias e isso tá me matando de dor de cabeça. Não que seja culpa da pessoa, mas... ah, você entendeu. Até mais. — Ela desligou rapidamente antes que Sakura pudesse insistir ou dizer mais qualquer coisa.

Chaewon suspirou fundo, jogando o celular no sofá ao lado. O silêncio da tarde invadia o apartamento, interrompido apenas pelo barulho constante de móveis sendo arrastados e batidas no chão vindas do apartamento da frente. As palavras de Sakura ainda giravam em sua cabeça, ecoando em um turbilhão de sentimentos confusos.

Sentindo-se sufocada, Chaewon decidiu que ouvir uma música suave poderia ajudar a acalmar sua mente. Mas, ao procurar seus fones de ouvido, lembrou-se de que os havia deixado no estúdio dias antes. Ela afundou o rosto nas mãos, frustrada, sentindo o peso das emoções.

Notas de um Encanto | PURINZOnde histórias criam vida. Descubra agora