Fragmentos do Passado

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Chaewon não conseguia acreditar. Ou melhor, ela não queria acreditar. Não queria aceitar que, depois de Yunjin ter desaparecido de sua vida, e da vida de suas amigas, por cinco anos, a primeira coisa que saía de sua boca fosse aquilo. Ela sentia uma mistura de incredulidade e desgosto. Preferia pensar que aquilo não passava de um devaneio, algo que sua mente cansada tinha inventado, mas a realidade batia de frente. E, como sempre, doía.

O peito de Chaewon vibrava de raiva. Sentia o sangue correr mais rápido por suas veias, como se cada batida de seu coração fosse um eco ensurdecedor dentro do corpo. Seus olhos semicerraram, e o olhar que lançou a Yunjin poderia cortar diamantes. Yunjin estava ali, em carne e osso, mas Chaewon não sabia se era capaz de acreditar nas palavras daquela que um dia foi sua confidente. Sabia que Yunjin devia ter suas razões, ou pelo menos esperava que tivesse. Ela tinha que ter.

Enquanto Yunjin se aproximava devagar, cada passo soava como uma batida de tambor surdo na mente de Chaewon, que instintivamente se afastava. O espaço entre elas era preenchido por um vazio sufocante. Mesmo em silêncio, as palavras não ditas estavam pesadas no ar, como se o cômodo estivesse se fechando ao redor delas.

— Vem aqui. Vamos conversar, por favor. — A voz de Yunjin soou, quase como um sussurro desesperado, trêmula. Quando sua mão alcançou o pulso de Chaewon, ela apertou com uma urgência desconhecida, como se aquele fosse o último laço que as unia. E, sem dizer mais nada, arrastou-a até o sofá.

Chaewon sentou-se com os ombros tensos, a vontade de chorar pesando sobre seu peito como uma âncora. Ela piscou rapidamente, tentando evitar que as lágrimas escapassem. Ela não iria ceder, pensou. Não assim, não depois de tudo. Então, esperou. Esperou que Yunjin dissesse algo que explicasse, que aliviasse o fardo esmagador do abandono que carregava. Mas tudo que sentiu foi o silêncio. Um silêncio que pesava mais do que as palavras que esperava ouvir.

Yunjin, por sua vez, observava a garota à sua frente, o coração acelerado como se estivesse prestes a despencar de um precipício. Tudo que queria naquele momento era abraçar Chaewon, envolver seu corpo pequeno nos braços e protegê-la de todo o sofrimento que causou, até o amanhecer. Anos haviam se passado, mas, para Yunjin, o espaço vazio deixado por Chaewon em sua vida nunca havia sido preenchido. Ela sentia falta de Chaewon todos os dias, e sabia que, apesar da distância, a garota diante de si provavelmente sentia o mesmo.

— Me desculpa. — A voz de Yunjin falhou ao soltar aquelas palavras, como se cada sílaba estivesse impregnada de um peso intransponível. Ela deu uma pausa, observando o rosto de Chaewon, buscando algum sinal de que suas palavras estivessem chegando até ela. Quando notou que a expressão da outra se suavizou minimamente, Yunjin tomou fôlego e continuou, ainda trêmula. — Eu sei que fui uma filha da puta por ter cortado o contato com você e com as meninas. Você não faz ideia do quanto isso me machucou também. Todas as noites, eu chorava em silêncio, sentindo sua falta. Eu só queria seus abraços... só precisava disso. Mas nem uma mensagem eu me permiti mandar. Quando entrei naquele avião... — Yunjin sentiu a garganta apertar. — Fui impulsiva. Apaguei os contatos de todas vocês, achando que, se cortasse todos os laços, seria menos doloroso. Eu nem sabia se um dia voltaria para a Coreia, e me convenci de que era o melhor. Mas agora... aqui estou eu. — Um sorriso triste, quase invisível, passou por seus lábios. Porém, mal teve tempo de se formar, sendo rapidamente substituído pelas lágrimas que ela tanto lutava para conter. Seu rosto molhado, as bochechas coradas, os olhos inchados. A dor estava ali, evidente.

Chaewon observou Yunjin chorar e, por um instante, quase cedeu. Quase cedeu ao impulso de abraçar a garota, de dizer que tudo ficaria bem, de confortá-la. Mas a raiva dentro dela não deixava. Porque, no fundo, não estava nada bem.

Tudo bem que Yunjin tinha seus motivos. Mas desaparecer por cinco anos, sem uma única palavra, sem uma explicação? Como alguém podia simplesmente achar que aquilo era aceitável? A cabeça de Chaewon girava com as lembranças daquele tempo, o sofrimento que havia suportado sozinha.

Notas de um Encanto | PURINZOnde histórias criam vida. Descubra agora