Capítulo 4

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Lucci Fallen

Observo Mahina com um sorriso amável enquanto ela se contorce no processo de teste. Meus olhos cintilam de excitação, mas mantenho a compostura. Como anjo caído, essa dualidade me define: cordialidade na superfície, perversidade no âmago.

— Inspire profundamente, querida. Logo cessará — sussurro com falsa empatia, deleitando-me com cada espasmo de seu corpo fragilizado. O procedimento é uma obra-prima de suplício: alucinações aterradoras invadem sua psique, febres escaldantes consomem sua lucidez, e convulsões violentas sacodem seus membros. Espectros de seu passado a atormentam, implacáveis. Uma eternidade de pura agonia — uma sinfonia que me extasia.

Existe, naturalmente, a possibilidade de Mahina não ser a eleita para nossa missão. Nessa eventualidade... bem, digamos que o recinto de testes necessitará de uma higienização meticulosa. Que transtorno, não é mesmo? Mas ora, tudo em nome da ciência, correto? Um riso sardônico escapa de meus lábios enquanto ajusto meu jaleco imaculado.

Devo confessar, há algo em Mahina que me intriga. Uma fagulha que a distingue dos demais cobaias. Será sua resiliência? Ou talvez aquele lampejo de determinação em seu semblante? Por um instante, quase sinto... Não. Não posso me permitir tais fraquezas. Afinal, sou meramente um pesquisador dedicado, não é? Um ser etéreo com um sorriso cativante e palavras melífluas, ocultando um núcleo gélido como as profundezas do inverno.

Enquanto a observo, não posso evitar refletir sobre nosso verdadeiro propósito. Mahina pode ser a chave para nosso retorno, a ponte entre este plano e o reino de onde fomos banidos. A ironia não me escapa: utilizar uma mortal para reconquistar nossos poderes perdidos.

Neste mundo, visto a máscara de médico com uma facilidade desconcertante. Um sorriso gentil brinca em meus lábios enquanto administro as "medicações" necessárias para nossos experimentos. Minha voz, suave como seda, oculta o veneno que corre em minhas veias etéreas.

Com um suspiro teatral, anoto em meu registro: "Mahina, sujeito número 19". Meus dedos deslizam sobre o papel, traçando linhas que poderiam ser tanto prescrições quanto sentenças de morte. A ironia da situação não me escapa — eu, um ser celestial caído, brincando de Deus com vidas mortais.

Observo Mahina se contorcer, sua tenacidade brilhando como uma chama obstinada. Por um momento, sinto algo... Compaixão? Não, inconcebível. Afasto o pensamento com um riso baixo e melodioso. Afinal, sou apenas um anjo caído, não é mesmo? Um ser de dualidades, onde a amabilidade é apenas o invólucro para uma crueldade profunda e calculada.

Meus olhos perscrutam o aposento, pousando em Marvin, que está confortavelmente instalado numa poltrona ao lado de Mahina. É a vez dele de monitorar nossa preciosa cobaia humana e nos manter informados sobre cada detalhe fascinante de sua experiência.

— E então, meu caro? Algum avanço interessante? Talvez algumas palavras desconexas ou sonhos intrigantes? — ingado casualmente.

Marvin me lança um olhar entediado antes de responder com uma secura que quase me faz gargalhar.

— Nada ainda.

Ele hesita por um momento, e então acrescenta com uma curiosidade mal disfarçada.

— Você já se aventurou pelos labirintos oníricos dela?

Ah, como adoro esse jogo! Com um suspiro teatral e um brilho malicioso nos olhos, respondo.

— Oh, Marvin, você sabe muito bem que não me intrometo nos sonhos dela durante as primeiras 48 horas. Onde estaria a diversão se não déssemos à nossa querida Mahina a chance de criar seus próprios pesadelos, não é mesmo?

Seis luas | Monster Romance & Harém reversoOnde histórias criam vida. Descubra agora