FILHA DO PASTOR

Capítulo 37

Malu On

Eu mal consegui prestar atenção no que Thiago estava dizendo. Minha cabeça girava, e tudo que eu queria era sair dali. A voz dele parecia distante, abafada pelo turbilhão de emoções que crescia dentro de mim. Ele falava, tentava se explicar, mas eu só conseguia pensar na cena de minutos atrás, naquela mulher gritando que ele era "dela", e no olhar de PL que confirmou tudo.

— Malu, vamos conversar... — ele repetiu, se aproximando.

Eu respirei fundo, lutando para manter a calma, mas minhas mãos tremiam de raiva e frustração.

— Thiago, eu... — comecei, tentando organizar os pensamentos, mas a dor e a confusão eram fortes demais. — Depois da escola... eu quero ficar sozinha.

A expressão dele mudou na hora. Eu via o nervosismo nos olhos dele, aquela urgência de tentar consertar as coisas, mas eu não podia. Não naquele momento. Era informação demais para processar, e eu não tinha forças para lidar com isso agora.

— Sozinha? — ele perguntou, a voz tensa.

— É... eu preciso de um tempo pra pensar. — Olhei para ele, sentindo meu peito apertar. — Só me deixa um pouco, Thiago. Por favor.

Sem esperar resposta, virei as costas e continuei andando, ignorando o aperto no peito que se intensificava a cada passo. Não queria ver a expressão dele, não queria ouvir mais nada. Tudo o que eu precisava era de espaço, de silêncio, de tentar entender o que estava acontecendo entre nós.

Caveira On

Eu fiquei parado ali, vendo a Malu se afastar, cada palavra dela ecoando na minha cabeça. "Quero ficar sozinha". Puta que pariu, como aquilo doeu. Meu instinto era correr atrás dela, fazer ela me escutar, me deixar explicar tudo, mas ao mesmo tempo... Eu sabia que tinha ferrado tudo. Sabia que tinha criado essa merda toda.

— Thiago, cara, dá um tempo pra ela — PL disse, vendo minha expressão, tentando acalmar as coisas. — Deixa a Malu respirar um pouco.

Mas como diabos eu ia deixar? Eu estava vendo ela se afastar e parecia que eu estava perdendo ela mais a cada segundo. Meus punhos estavam cerrados, e tudo que eu queria era ir atrás dela e acabar com essa distância. Mas PL estava certo. Não adiantava forçar. Se eu insistisse agora, só ia piorar a situação.

— Analu, sai fora — eu disse de repente, sem nem olhar pra ela. — Some da minha vida de uma vez.

Ela ainda estava parada ali, com aquele olhar de fúria, mas dessa vez não respondeu. Só saiu, jogando o cabelo e resmungando algo que eu nem me dei ao trabalho de ouvir. Tudo que importava naquele momento era a Malu. Ela precisava de um tempo... mas quanto tempo? E será que, depois disso, ainda ia ter algo entre a gente?

Suspirei, sentindo o peso daquela merda toda nas minhas costas. Meu coração ainda tava acelerado, mas agora era mais pelo medo de perder ela de vez. Eu sabia que tinha que deixar ela pensar, mas a ideia de ficar parado, esperando, me matava por dentro.

Malu On

O intervalo chegou, e eu estava com a cabeça longe, ainda tentando entender tudo o que tinha acontecido mais cedo. Thiago, Analu... A confusão de sentimentos dentro de mim era insuportável. Sentei sozinha num canto do pátio, mas não demorou muito até que Thata e Thaty me encontrassem. Elas sempre sabiam quando algo estava errado comigo.

— Malu, o que aconteceu? — Thaty perguntou, sentando do meu lado com uma expressão séria. Thata já se sentou do outro, com o rosto preocupado.

Eu tentei segurar as lágrimas, mas não consegui. Respirei fundo, olhando para as duas. Se tinha alguém que eu podia confiar, era nelas.

— Eu nem sei por onde começar... — disse, a voz embargada. — Hoje, antes de vir pra escola, uma mulher loira, a Analu, veio pra cima de mim na rua. Me puxou pelo cabelo e começou a gritar que eu estava "roubando" o homem dela. Que o Thiago era dela.

Os rostos das duas mudaram na hora. As expressões de preocupação viraram pura indignação.

— O QUÊ? — Thata exclamou, os olhos se arregalando de raiva. — Ela fez o quê contigo?

— Puxou seu cabelo? — Thaty completou, já começando a levantar como se quisesse sair correndo atrás da Analu. — Essa mulher é louca! Como assim?

Eu suspirei, sentindo o nó na garganta se apertar ainda mais.

— Eu não sabia o que fazer. Ela ficou gritando na rua que o Thiago era dela, e PL teve que aparecer pra separar tudo. Eu só... eu só não acredito que o Thiago me deixou passar por isso. Que essa história com essa mulher ainda existe.

Thata e Thaty estavam furiosas agora. Elas se entreolharam, e eu sabia que as duas já estavam bolando um plano na cabeça.

— Aquela vaca da Analu... — Thaty começou, claramente já fora de si. — Se ela encostar em você de novo, Malu, a gente resolve isso de um jeito que ela não vai esquecer.

— Exatamente! — Thata completou, cruzando os braços com raiva. — Como é que essa mulher ainda tem a cara de pau de aparecer? A gente já odiava ela antes, mas agora... Isso é demais!

— O Thiago não fez nada? — Thaty perguntou, como se não acreditasse.

— Ele tentou falar comigo depois, mas eu disse que queria ficar sozinha — expliquei, baixando a cabeça. — Eu não consigo entender como isso aconteceu, como ele deixou essa mulher entrar de novo na nossa vida. Eu achei que tava tudo bem entre nós, mas agora...

As duas ficaram em silêncio por um segundo, mas eu via que estavam prontas para explodir de raiva.

— Ele vai ter que se explicar direitinho — Thata disse com firmeza. — E se ele deixar essa mulher se meter de novo, a gente vai atrás dela. Não vamos deixar você passar por isso sozinha, Malu. A Analu não sabe com quem mexeu.

Eu sabia que elas estavam do meu lado, mas a verdade é que isso só me deixava ainda mais confusa. Parte de mim queria lutar, encarar essa situação e deixar claro que eu não ia deixar essa mulher estragar tudo. Mas outra parte... só queria se afastar, fugir dessa bagunça e entender se tudo isso ainda valia a pena.