Capítulo 2 - Samanta Sayuri

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Estou em casa. Depois de cinco anos, estou de volta. Durante todo esse tempo, não consegui vir para cá. Nem mesmo para comemorações, como o aniversário de 30 anos de casamento dos meus pais.

Isso se deve à distância. Já que Solidão fica a quase 3 mil km daqui. É claro que o lugar mais solitário do mundo tinha que ficar no fim do mundo. Mas cada segundo que me senti triste, é compensado por este momento. Nós chegamos bem cedo, pois viajamos por 4 dias, parando em algumas cidades apenas para fazer refeições e repousar.

Após a chegada, me deitei e adormeci até a hora do almoço. Fiz a refeição e agora estou seguindo rumo a casa de Sarah. Havia prometido que ainda hoje iria me encontrar com ela para colocar todas as fofocas em dia. Na viagem não foi possível. Pois tinham coisas que não poderiam ser faladas na frente dos meus pais. Como, por exemplo, sobre o Ovo Mole.

Decidi passar pelo pasto, pois esse seria o caminho mais rápido até a casa de Sarah. Ando tranquilamente perdida em meus pensamentos e à minha frente há um lindo bezerrinho, tão dócil que até consigo acariciá-lo. quando de repente ouço mugido alto vindo de trás. Viro-me bruscamente e a cena que vejo me deixa até mole. Uma vaca, que acredito ser mãe do bezerro que faço carinho, vem louca em minha direção.

Corro igual em desespero, procurando algo em que eu possa subir. A essa altura não tenho opção de retornar, pois já estou no pasto que pertence a família Silva, e a vaca está na minha cola, a cada segundo mais perto. Puta que pariu, não acredito que passei cinco anos naquele inferno, e só tomando no cu, para me formar e morrer atacada por uma vaca! Na minha lápide vai estar escrito: Aqui jaz, uma mulher muito gostosa, mas também muito burra, que morreu atacada por uma vaca desalmada!

Então, para minha salvação, avisto uma árvore poucos metros à frente. Subo rapidamente, agradecendo a experiência que adquiri durante os anos brincando com Sarah de casinha na árvore. Enquanto, o animal desalmado para debaixo da árvore, deitando e aproveitando a sombra. Eu devo ter sambado de salto alto agulha e lingerie na cruz, porque não é possível eu ser tão azarada assim.

Uma bela vista ao longe e se aproximando me chama atenção. E que bela vista. Não, melhor, que vista mais gostosa. Sempre soube que minha fantasia da princesa ser salva pelo cavaleiro algum dia iria se concretizar. Só não esperava que iria ser um peão com uma calça jeans surrada, camisa com os primeiros botões abertos mostrando seu peitoral, de botinas, chapéu, com o cabelo castanho e olhos misteriosos, além de que, está deliciosamente suado.

Ele se aproxima e toca a vaca de perto de onde estou, desce do seu alazão, mostrando o quão alto e bronzeado naturalmente ele é, e se vira pra mim. Obrigada Minha Nossa Senhora das Mocinhas Mal Comidas, vou até acender uma vela em agradecimento. Mas quebrando totalmente minhas expectativas, ele fecha a cara e diz:

- Como você, que foi criada a vida toda na roça, é tão sonsa de ir mexer com um bezerro com uma vaca tão próxima? - Estava bom demais para ser verdade. Broxei depois disso.

E como um homem pode ser tão xucro? - Devolvo a ofensa.

- É meu charme natural.

- Você pode pelo menos me ajudar a descer? - Olho em expectativa esperando o mínimo de cavalheirismo.

- Subiu sozinha, consegue descer sozinha também. - Desço, puta da vida, ou melhor, cuspindo marimbondos, como minha mãe diz.

Assim que piso no chão, noto que ele me admira mesmo que não admita, me trazendo uma certa satisfação. Mas o que me agrada mesmo, é que ele está virado para mim e de costas para a vaca. Então, não nota que o animal sem alma está se aproximando novamente para atacar. E o melhor, é que eu estou bem mais perto do cavalo que ele.

- Assim como eu consigo me virar sozinha, você também consegue. - Ele me olha sem entender, enquanto eu subo no cavalo e ele se vira, vendo o animal chegando. Ele faz menção de subir no cavalo, mas eu atiço o alazão a correr em direção a casa dos Silva, enquanto grito para o xucro. - É melhor você subir na árvore, se não quiser levar uma chifrada na bunda. Tenho certeza que em algum momento ela irá se cansar e ir embora.


As Consequências do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora