As Consequências do Destino

Capítulo 3 - Gael Silva

Eu sempre sou racional, e as poucas vezes que deixei a cabeça de baixo tomar as rédeas só tomei no cu, como agora. Aquela desgraçada... Como ela teve coragem de me deixar aqui pendurado em uma árvore, sem dignidade nenhuma?

Não poderia esperar menos de Samanta Sayuri. Já que, desde pequena ela é o cão, com o rostinho de anjo aqui na terra. Mas é como dizem, o diabo é totalmente tentador. É até cômico como essa frase se encaixa perfeitamente neste caso, pois mesmo que eu não queira admitir, desde que eu vi Samanta na colação de grau da faculdade da minha irmã, que notei como ela está linda.

Ano passado, minha irmã se formou no curso de medicina. É claro que eu não perderia a oportunidade de ver Sara, enfim, se tornar a excelente profissional que sabia que seria. Eu não poderia estar mais orgulhoso daquela moleca, mas ao mesmo tempo, odeio lugares lotados. Acho que isso se deve ao fato de eu ter sido criado na calmaria do campo. Por isso, meu objetivo era acompanhar a cerimônia a uma boa distância daquele turbilhão de pessoas.

Cheguei depois que todos estavam acomodados. Fiquei de pé bem ao fundo, passando o olhar por todo lugar em busca da minha mãe. Encontrei-a, mas o que prendeu mesmo meu olhar, foi uma linda mulher com cabelos ruivos e rebeldes, e um sorriso que iluminava o lugar. Demorei alguns segundos para reconhecer quem era a moça. Mas assim como foi tão rápida quanto foi a minha atração pela moça, foi minha surpresa. Lembro que meu pensamento do momento foi: Puta que pariu, fiquei brevemente interessado por Samanta Sayuri. Eu, um homem formado de 38 anos, me sentindo atraído por uma pirralha de 25 anos. Que merda que estou na cabeça, para isso acontecer?

Em minha defesa, a última vez que havia visto essa garota ela tinha apenas 16 anos. Depois disso, me mudei de cidade para fazer faculdade. Cursei agronomia durante 5 anos, me formei e retornei para o sítio, que agora já é uma grande fazenda. Entretanto, um ano antes do meu retorno, Samanta também se mudou para cursar arquitetura. Por isso, faz muito tempo que não vejo essa menina, que agora na verdade naquele momento já era uma mulher.

Naquele dia ela não me viu. Pois, assim que terminou a cerimônia, ela parabenizou minha irmã e foi embora para não perder o ônibus para a cidade de Solidão. E eu só me aproximei de minha família após o salão já ter diminuído a metade da capacidade total.

O pior, é que o encontro que tive com a maldita hoje, me fez lembrar da atração daquele dia. Porra, eu preciso me encontrar com Julia, para descarregar tudo isso. Tenho certeza que essa atração se deve ao fato do estresse com a fazenda. Conheço Julia desde a adolescência, quando precisamos descarregar o estresse nos encontramos e saciamos um ao outro. E é disso que eu preciso neste momento!

Desde que meu pai faleceu há 3 anos atrás, devido a um infarto eu assumi o sítio. Isso aconteceu um ano depois que retornei. Naquele momento eu sabia que deveria me tornar o homem da casa, com 35 anos. Talvez pareça que já tinha uma idade elevada, mas considerando que era meu pai que cuidava da administração do sítio, eu tinha a cabeça de um moleque. Por isso, no dia de seu enterro eu prometi ao lado de seu caixão, que cuidaria de minha mãe e minha irmã. Além de que, faria nosso sítio se tornar uma grande fazenda.

Durante esses três anos que se passaram, eu comecei a arrendar pequenas partes do sítio do outro vizinho, o Sr. Eduardo, para aumentar a criação de gado. Depois disso, começamos a trabalhar com plantações de milho. Assim, comprei mais porções de terra, e hoje, a parte que um dia foi o sítio do Sr. Eduardo, faz parte de minha fazenda. Agora a minha principal fonte de renda é do agronegócio da fazenda.

O mugido da vaca sanguinária me traz de volta ao presente, me fazendo perceber que ela está indo embora junto com o sol. Samanta me paga por hoje. Aquela desgraçada gostosa, vai se arrepender por ter feito eu ficar pendurado sem dignidade nenhuma a tarde toda.