Capítulo 03

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𝔼𝕕𝕦𝕒𝕣𝕕𝕒❤️‍🔥

Reviro os olhos internamente escutando a campanhia tocar pela décima vez consecutiva e até penso em ignorar e deixar a Vitória tocar aquela porra até o dedo cair, mas se com dez apertadas naquela merda eu já estava ficando louca e a beira de um infarto, imagina se eu ignoro?

O pior de tudo é que eu sabia que ela não ia desistir, sabe muito bem que eu estou em casa, nunca saio inclusive, são raros esses momentos.

Eu nunca fui de muitos amigos né? Hoje em dia sou menos ainda, não posso me dar ao luxo de confiar em ninguém.

Até tenho algumas colegas por aqui, mais é coisa bem básica mesmo, conversa sobre coisas banais, trabalho, coisa de internet e por aí vai...

Pessoal daqui é muito nem aí pra nada, são gentis, unidos quando necessário mas bem no canto deles mesmo, se tu não der muita abertura eles não se preocupam em querer permanecer na tua vida ou criar vínculo não.

Exceto a Vitória, pessoa que eu mais tento fugir na minha vida por alguns motivos...

Pego minha toalha e me enrolo novamente nela, eu louca pra tomar um banho e a querida me empatando, eu devo merecer mesmo, Deus me livre.

Passo pela sala de casa enrolada na minha toalha e paro de frente pra porta abrindo a mesma com raiva, porra, por que não me esquece por uns dias?

Já me vê todos os dias no trabalho, me manda 500 mensagens no WhatsApp, me marca em tudo quanto é postagem no insta, será que não tá bom de perturbação não cara?

- Fala Vitória, o que foi de tão importante dessa vez que tu não podia só mandar um áudio pelo WhatsApp?

Perguntei sem paciência ao abrir a porta mas a cara de pau dela nem queimava, veio toda sorridente pro meu lado me abraçando e eu precisei retribuir achando graça da situação.

Vitória é legalzinha, tem um coração bom sabe? Só é chata chatinha, grudenta que dói, morro de medo de ser dependência emocional ou algo do tipo em cima de mim, por isso evito também.

Eu já tive e não é fácil de lidar, nem sei se conseguiria lidar caso alguém tivesse sobre mim. Passei tanto tempo sendo controlada que hoje em dia evito até amizades, justamente pra não ter ninguém no meu pé.

- Cara, se eu mandasse mensagem tu nem ia me responder, eu te conheço Eduarda, tu é inimiga das redes sociais. - sorri sem graça e me afastei me jogando no sofá, nisso ela tinha total razão, odeio redes sociais e mais ainda ficar batendo papo, única ligação que atendo é a do Mica, isso por que não podemos nos ver pessoalmente também se não nem ele. - Fiquei meia hora tocando essa porra de campainha, não ia me atender né? - ainda bem que ela já até sabia, já bati a porta na cara delas.

- Não, não ia mesmo, tava entrando pro meu banho na paz de Deus, louca pra comer alguma coisa e deitar na minha caminha, fazer qualquer coisa que não envolvesse sair de casa ou ver ninguém hoje, tô morta de cansaço Vih.

Falo e ela me olha fazendo uma careta como se repudiasse meu desejo do dia.

Vitória é festeira, não tinha como não ser na verdade, é fiel do sub do morro, pai é bandido também mas é aposentado, e a mãe é uma mina toda montada, marca presença em todos os bailes, tá nem aí pra nada, nem sendo dona da creche que inclusive é onde eu trabalho.

A mulher ligou o botão do foda-se, Vitória puxou pra ela todinha, foi na creche que nós nos conhecemos por falar nisso, não trabalha mas vez ou outra ajuda a mãe em algumas coisas por lá.

Desde então não sai do meu pé e muito menos me dá paz.

- Ai garota, tu jura que vai continuar com essa tua mania de se esconder na toca da gata? - sorri achando graça das palhaçadas dela. - Uma mulher linda dessas, toda gostosa, cheia do que os caras lá fora gostam, possibilidade máxima de achar um Bandido gostoso pra te dar um patrocínio mesmo que não seja nada sério e tá aqui enfornada dentro dessa casa, vamo reagir mina, anda!

Bateu palma vindo na minha direção tentando me puxar pela mão mas não conseguiu, Vitória é toda pequenininha, um cisquinho de gente, e eu graças a Deus sou cavala, perna grossa, cintura fina, peito e bunda grandes, nem se ela quisesse mesmo ia aguentar me puxar.

Mas bicha é linda, tem um corpão também, só não gosta dos exageros que nem eu.

- Eu gosto da minha paz Vitória, sair não é comigo, nem to atrás de me envolver com ninguém não, esse negócio é problema pra vida da gente. - me levanto prendendo o cabelo em um rabo de cavalo. - Deixo essas coisas pra quem curte.

- Duvido muito que tu não curta um pagode, uma cerveja, um monte de macho gostoso portando um fuzil.

Olhei pra ela dando um meio sorriso, a piranha tocou no meu ponto fraco cara, tudo que eu gosto e to fugindo a quase 2 anos.

- Gostar eu gosto, mas vou recusar o convite.

- Vai recusar o caralho, hoje tem festa pras crianças aqui na comunidade, o Coronel que patrocinou conhece? - concordei mesmo nunca tendo chegado perto. - Pois é, e de quebra vai rolar um pagode lá pelas 23:00, vai ser gostosinho Duda, bom que tu conhece gente diferente.

Falou justamente pra pessoa que odeia conhecer gente nova.

- Não sei não Vitória, não tô muito afim não.

Saio andando pro meu quarto ao fazer uma nota mental em pegar meu shampoo no guarda roupa e ela me acompanha se sentando na beirada da cama.

- Eu sou tão sozinha Duda, tu sabe que não tenho tantas amigas assim, a maioria só liga pra dinheiro ou querem furar meu olho com o Piloto, mas em ti eu confio demais e me recuso a ter uma amiga que não gosta de curtir a vida, então tu não tem escolha.

Se levantou entrando na frente do meu guarda começando a mexer em tudo, fiquei até pensativa sabe? Com dó também, ela realmente é uma pessoa sozinha, nem a mãe inclui ela em nada mas eu realmente não sei se quero sair de casa, to sentindo que hoje não é meu dia.

- Sei se vou pra lugar nenhum não, tá?

- Vai sim, e vai com esse vestido aqui. - tirou meu vestido azul do guarda roupa e veio na minha direção pondo ele por cima de mim, ele era realmente lindo, acabei de comprar e nem tinha noção de onde usar, não saio pra nada. - Imagina esse vestido destacando teus gêmeos? - gargalhei alto negando com a cabeça. - Eduarda, eles são lindos demais pra ninguém não ver, tem que por pra jogo minha filha, tentar tirar essas teias de aranha da buceta, se bobear tá até virgem de novo.

- Ai Vitória, Deus me livre de você, que exagero...

Cruzei os braços colocando o vestido na cama, mas a real é que ela tinha razão, 2 anos que não dou pra ninguém e quando dava não sentia nada, o pau era tão fino que nem cócegas fazia, parecia um dedo.

Fora a pegada que era de centavos, da nojo só de pensar o que aguentei por tanto tempo.

- Tô mentindo? Não to não Eduarda, tu não tem escapatória gata, eu vou pra casa me arrumar e passo aqui de moto pra te buscar, fica pronta tá?

Me deu um beijo na bochecha e saiu toda saltitante da casa, tive nem tempo de descordar mas, pensando bem não era ma ideia né?

Respiro fundo olhando pro vestido e resolvo fazer pela primeira vez em muito tempo o que estava com vontade.

Peguei todas as minhas coisas indo tomar meu banho, lavei meu cabelo, sai enrolada na toalha, sequei o cabelo e comecei a me arrumar passando uma maquiagem não muito pesada na cara, acho desnecessário.

Por último coloquei o vestido escolhido pela querida e calcei minha rasteirinha da Santa Lola.

Enquanto esperava a vitória passar pra me pegar, coloquei meu celular e o dinheiro na bolsa, nem sei por que mais tava sentindo vontade de desistir já, uma sensação esquisita no peito sobre sentir que iria acontecer alguma coisa hoje que não ia ser muito propicia pra mim.

Mas deixa estar né? Vitória tinha razão, não dá pra eu parar de viver, já perdi tempo demais.

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Reféns | DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora