Prólogo *

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MESES MAIS TARDE
Reino de Dorne

- EU SUPLICO! EU IMPLORO MISERICÓRDIA!

Naquela montanha se ouvia os berros de desespero do pobre homem que ajoelhado no chão encarava a morte de perto, o farfalhar das folhas que mexiam com o vento, uma gaivota que passava vez ou outra e, aquele som potente de um rosnado tão feroz e macabro que fazia os pelos até do homem mais forte eriçar em pavor.

Todos os guardas se mantinham ligeiramente afastados do homem em prantos, esperando apenas alguma ordem de sua rainha que observava a cena com os olhos azuis afiados exalando seu ódio.

- Você jurou lealdade a mim, Sir Fillemon, eu sou a sua rainha! Ordeno que me diga a verdade em prol da sua salvação. Caso o contrário, será acusado de traição... E então morrerá como tal.

Apesar de todo estresse e raiva, seu tom de voz era ameno exalando uma calma que definitivamente não sentia.

- Me diga Sir Fillemon, irá preferir o fogo, ou honrar sua lealdade a coroa?

O homem chorava como um bebê que acabara de nascer e só busca o calor do colo de sua mãe.

O reino de Dorne era gelado, o céu cinza e cheio de nuvens não deixava esconder que o inferno se fazia presente de forma dura.

- VOSSA MAJESTADE NÃO COMPREENDE! EU NÃO TIVE ESCOLHA!

- ACHA QUE SOU UMA TOLA?- Explodiu com a respiração ofegante - EU SOU A HERDEIRA LEGÍTIMA DO TRONO DE FERRO, EU SOU A RAINHA DOS SETE REINOS A QUAL VOCÊ JUROU LEALDADE! VOCÊ DEVERIA TER ESCOLHIDO A MORTE AH TRAIR A MIM! - Tirou sua adaga da bainha e a pressionou no pescoço do homem que lhe encarava em puro pavor - Você vendeu segredos da corte em troca de um valor que não te servirá nem para limpar o próprio rabo, você está diante de sua rainha negando entregar quem lhe pagou. Como pode ter se vendido por tão pouco, Sir Fillemon?

O homem em questão era um dos que compunham a guarda real e fazia a escolta pessoal da rainha junto de outros guardas.

- Por favor Majestade, me perdoe... - Falou com a voz fraca.

Mas Jimin apenas permaneceu lhe encarando.

- Última chance Sir. Fillemon, o fogo ou sua lealdade a mim?

O homem permaneceu em silêncio deixando com que as lágrimas banhassem sua face e apenas abaixou a cabeça derrotado.

- Você fez sua escolha.

Se ergueu e caminhou de forma pesada até Silverwing que se abaixou ao ver a rainha se aproximando. Jimin subiu no gigante dragão por sua asa e sentou-se em seu acento.

- Sir Fillemon, sua traição custou sua vida. Você está condenado a morte por traição contra a Coroa... Que os Deuses estejam com você.

Todos os guardas se afastaram em seus cavalos deixando ali apenas a rainha em seu dragão, e o condenado.

- Silverwing, dracarys!

Seu comando não demorou mais que cinco segundos para ser atendido, logo o jato de fogo atingiu o homem que ainda vivo esperneava enquanto era engolido pela consequência de suas escolhas.

Jimin assistia a cena com o maxilar trincado enquanto em seus olhos eram refletidos o brilho ardente das chamas, e em sua pele era acolhida pelo calor que não sentia a tanto. Os guardas também presenciavam a cena de longe para não serem atingidos pelas chamas do dragão, e todos detinham o mesmo desejo de jamais querer ter o mesmo destino tão cruel.

- A rainha está impiedosa, isso não lhes assusta?

Comentou um guarda enquanto cavalgavam pela floresta e ouviam vez ou outra o rugido potente de Silverwing que voava no céu acima deles.

- Este é o preço de uma traição, Sir Cristopher, a rainha na verdade foi piedosa até demais.

- Não falo disso e sim no geral. Ela está tão diferente do que era quando princesa, mudou demais.

Sir Kim, o atual comandante da guarda real, suspirou olhando para cima.

- As vezes meus caros..- Se pronunciou fazendo todos prestarem atenção em si - A vida toma rumos inexplicáveis, rumos que não esperamos e que nos abala de forma terrível e temível. Vossa majestade teve seus motivos para hoje se tornar o que é, os Deuses não foram solidários com ela, pelo contrário, creio que Eles a castigaram por motivos que jamais saberemos.

- As vezes não foi castigo, apenas foi o que teve que ser. O reino ficou falando do que houve por meses, ninguém sabe ao certo o que de fato aconteceu e qual era a verdade. - Outro cavaleiro falou e alguns concordaram. - Uns dizem que nossa majestade estava enfeitiçada e por isso o defendeu, outros acreditam que o Rei foi um tirano e fez o que fez pois não queria netos bastardos e sim netos legítimos da realeza.

- O Rei era um homem cruel, ele fez Jimin assistir tudo junto do restante do reino. Eu estive no dia, lembro que me senti agonizado em ver o estado dela, quando o Rei decretou a sentença de morte ao-

- Chega de falar da vida da Rainha! - Sir Kim deu um basta - Entendo que foi algo público, mas ela proibiu a qualquer um de falar sobre, sabemos o quanto isso a deixa afetada. De qualquer forma, devemos chegar no castelo antes do anoitecer, devemos focar no caminho.

Ditou a repreensão de forma dura fazendo todos se calarem.

Acima deles, Jimin voava em Silverwing com o olhar distante e a mente mais ainda. Sequer percebeu quando uma lágrima fina escorreu por seu rosto.

Perdida em pensamentos e memórias dolorosas, se pegou novamente pensando como seria se tudo tivesse sido diferente.

[...]

Houve um tempo em que ela era como o sol, irradiando calor e vida, iluminando até os cantos mais sombrios da existência. Seu sorriso trazia a esperança de um novo amanhecer, e seus olhos, outrora brilhantes, refletiam o entusiasmo da vida. Mas o destino, impiedoso e cruel, arrancou-lhe o que mais amava, e com isso, apagou sua chama interior. Agora, ela é como a lua—fria, distante, refletindo apenas o brilho apagado de uma luz que já não é mais sua.

Assim como na lenda do sol e da lua, que vagam no céu sem jamais se encontrarem, ela se tornou prisioneira de uma tristeza sem fim, uma rainha cujos reinos são feitos de gelo e silêncio. Seu coração, antes vibrante e generoso, agora é um deserto inóspito, onde o amor não mais floresce. O que restou foi apenas a sombra de quem um dia foi, uma mulher consumida pelas adversidades do destino. Hoje, seu olhar é a noite, escura e interminável, e nela, não há mais promessas de amanhecer.

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The Weight of the Crow
Prólogo
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