Faísca

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A escuridão me cercava. O peso de um mundo que já não existia sobre mim era esmagador. Pensava que a morte era o fim, um descanso eterno, mas... aqui estava eu. O calor familiar da chama ainda ardia dentro do meu peito, como se nunca tivesse sido apagado.

Abri os olhos, lentamente. A luz do sol entrou como uma faca, cortando a escuridão em que estive mergulhado por tanto tempo. Pisquei, ajustando a visão. A primeira coisa que senti foi o cheiro do mar, da areia e o barulho distante das ondas quebrando nas pedras. Mas não era Marineford. Era uma praia calma, deserta.

Minhas mãos tocaram a areia quente, mas algo estava errado. O meu corpo... doía de uma maneira indescritível. A última coisa que me lembro foi a lâmina de Akainu... atravessando meu peito. O calor mortal das suas magma... O sacrifício. Aquele sacrifício... Luffy!

Me forcei a levantar, o pânico subindo pela minha garganta. Mas não havia nenhum sinal de Luffy, dos Piratas do Chapéu de Palha, de Barba Branca... ninguém. Estava sozinho. Como? Por que estava vivo? Minha mente era um caos, e cada respiração era um esforço.

– Você acordou.

Uma voz suave interrompeu meus pensamentos. Me virei, buscando o som. Uma jovem se aproximava de mim, o cabelo balançando com o vento, uma expressão de alívio no rosto. Seus olhos me examinaram com uma curiosidade calma, diferente de qualquer olhar que eu já tinha visto antes.

– Você me salvou? – minha voz estava rouca, quase irreconhecível até para mim mesmo.

Ela assentiu.

– Você estava à beira da morte. Achei que não sobreviveria. – O tom era neutro, mas seus olhos diziam algo mais. Eles sabiam. Sabiam de algo que eu ainda não compreendia.

Tentei me levantar, mas o corpo não respondia. Ela se aproximou, ajoelhando ao meu lado e colocando a mão no meu ombro.

– Você precisa descansar. As suas feridas... não são comuns.

Havia uma sensação estranha no ar, como se o mundo ao nosso redor estivesse descompassado. Um frio na espinha me avisava que algo muito maior estava em jogo. Eu havia morrido, disso eu sabia. E agora... estava aqui. Vivo.

– Qual é o seu nome? – perguntei, tentando controlar o peso da situação.

– Hana – ela respondeu suavemente, seus olhos penetrando nos meus. – E você... é Ace, certo? O irmão de Luffy.

Eu não sabia como ela conhecia meu nome, mas de alguma forma, isso parecia ser o menor dos meus problemas agora.

Hana. Seu nome flutuava na minha mente enquanto tentava juntar os pedaços do quebra-cabeça que era minha situação. Ela sabia quem eu era. Isso significava que o mundo ainda estava de pé, que Luffy talvez estivesse... vivo.

– Como você me encontrou? – minha voz saía mais firme dessa vez, o choque inicial começando a se dissolver. Havia tanto que eu precisava entender. Como sobrevivi? Por que essa garota parecia tão calma ao meu redor?

Ela olhou para o mar, respirando fundo antes de responder.

– Eu estava colhendo ervas nas montanhas quando vi algo caindo do céu. Era como um meteoro... mas não era. Era você.

– O quê? Caí do céu? Isso não faz sentido. – Como assim? Eu estava em Marineford. Eu morri. Isso não pode estar acontecendo.

Hana inclinou a cabeça levemente, seus olhos cravados nos meus, como se estivesse tentando decidir quanto deveria me contar.

– Você... não estava morto quando te encontrei, mas também não estava exatamente vivo. – Ela parou, hesitando. – Era como se suas chamas estivessem acesas, mas sua vida estivesse presa entre dois mundos. Eu fiz o que pude.

Eu sabia que o mundo estava cheio de mistérios, mas nunca tinha ouvido falar de algo assim. Isso não se parecia com nada que qualquer Fruta do Diabo pudesse fazer... não que eu soubesse. As chamas do sol estavam se pondo no horizonte, e a escuridão da noite começava a cair, intensificando o mistério dessa ilha deserta.

Minha cabeça latejava com perguntas. Se eu não estava realmente vivo nem morto... quem ou o quê estava me mantendo aqui? E mais importante, por quê? Eu precisava de respostas. Precisava saber o que aconteceu com o resto do mundo. Precisava encontrar Luffy.

– Você está melhor agora – Hana disse, sua voz cortando meus pensamentos. – Mas precisa de tempo para se recuperar completamente. Suas chamas podem ter renascido, mas você ainda não está pronto para lutar.

Lutar. A palavra me atingiu com um peso que eu mal conseguia suportar. Lutar... O que restava para mim? Barba Branca estava morto. Minha tripulação, desmantelada. E Luffy... eu não sabia o que havia acontecido com ele. A última coisa que eu lembrava era seu grito desesperado ao meu lado, antes da escuridão me engolir.

A incerteza me corroía.

– Eu preciso ir embora daqui. Preciso saber o que aconteceu com o mundo.

– E você vai – Hana disse, levantando-se e me oferecendo uma mão. – Mas primeiro, você precisa entender o que aconteceu com você.

Peguei a mão dela, ainda me sentindo desconectado da realidade. Algo no olhar dela me dizia que ela sabia muito mais do que estava disposta a compartilhar agora. E eu tinha a sensação de que a verdade era algo muito maior do que eu poderia imaginar.

Enquanto me levantava, a última luz do dia desaparecia. O som suave das ondas era a única coisa que preenchia o silêncio entre nós. As chamas dentro de mim queimavam mais forte, e com elas, uma sensação nova. Algo que eu nunca havia sentido antes.

Estava vivo... mas de alguma forma, era como se eu tivesse renascido com uma nova missão. Uma que eu ainda não entendia, mas que estava determinado a descobrir.

O renascimento das Chamas - AceOnde histórias criam vida. Descubra agora