𝗠𝗜𝗗𝗡𝗜𝗚𝗛𝗧 𝗥𝗔𝗜𝗡, 𝗋𝗂𝗈 𝗏𝗂𝖽𝖺𝗅

𝟢𝟢. 𝗗𝗘𝗔𝗧𝗛

˖ 𓂃 . ࣪ 𝓐 𝗖𝗛𝗨𝗩𝗔 𝗖𝗔𝗜́𝗔 tão forte que eu mal conseguia ver o caminho à minha frente. Era meia noite, não tinha uma mínima luz ao redor. As gotas eram como agulhas super finas, como se estivessem perfurando a minha pele, mas eu continuava correndo, tropeçando entre raízes e galhos quebrados. A floresta parecia um labirinto que me prendia e enganava, como se estivesse sendo controlada por uma bruxa extremamente poderosa —e específica, que eu sei bem quem é.

━━━ Rio! ━━━ Minha voz era alta, porém soava fraca em meio à tempestade.

Eu quero chorar. Na verdade, eu estou chorando, aos prantos, enquanto corro pela floresta, em busca de uma saída. Ela estava perto, eu sabia. Sentia isso. Sentia o poder da sua presença, mesmo que tivesse a possibilidade de ser apenas algo da minha imaginação.

Então eu a vi —ou melhor, uma sombra dela, parada entre as árvores, quase invisível sob a escuridão. Meu coração deu um salto.

━━━ Rio, por favor... ━━━ Eu queria correr até ela, queria respostas, queria entender por que tudo tinha virado isso —uma bagunça, uma traição. Mas, meus pés pareciam presos, como se o chão estivesse me engolindo e as raizes me deixassem estática ali.

Ela não se moveu. Não disse nada. Nem ao menos pareceu se importar. O silêncio entre nós era assustador, pior que qualquer grito. Eu queria que ela dissesse algo, qualquer coisa. O vento fluía ao meu redor, mas ela só me encarava, seus olhos verdes brilhando com frieza em meio à tempestade.

━━━ Por quê? ━━━ As palavras saíram mais como um sussurro.

Eu me sentia ridícula, de joelhos, com a lama subindo pelas minhas pernas e as lágrimas se misturando à chuva.

━━━ Por que você fez isso comigo?

Rio inclinou a cabeça levemente, o rosto que não demonstrava nenhum resquício de emoção, como se a pergunta fosse irrelevante. Como se eu não lhe importasse —e quem sabe realmente não o fizesse. Para alguém que sempre foi tão familiar e carinhosa, ela agora parecia distante, como se tivéssemos nos tornado estranhas uma para a outra.

━━━ O que faz aqui, Lena? ━━━  Ela finalmente respondeu, a voz fria, distante.

Aquilo me atingiu como um grande soco no estômago. Meu corpo estremeceu, mas não de frio, algo completamente distante disso. Era raiva, era dor, tudo misturado, sem eu conseguir separar nada, apenas como simples palavras me machucaram tremendamente.

━━━ Você... você me fez acreditar em nós. Eu confiava em você, Rio. ━━━ Minha voz saiu trêmula, alternando-se com soluços que eu tentava esconder.

Rio deu um passo para trás. Foi como um choque de realidade quando ela começou a se distanciar, virando as costas para mim enquanto evitava olhar em meus olhos.

━━━ Você nunca viu os sinais que estavam óbvios, Lena. ━━━ Ela disse com aquela calma que me corroía por dentro ━━━ Você acreditou no que queria acreditar.

━━━ Você me usou. ━━━ Foi tudo o que consegui dizer.

Rio riu — uma risada baixa, quase sem som, mas cruel.

━━━ Eu nunca te prometi nada, Lena.

Eu queria correr até ela, agarrar sua mão, obrigá-la a me olhar nos olhos e exigir a verdade, porque eu conheço-a muito bem para saber quando está mentindo. Não conseguir me encarar, as mãos tremendo e a sua respiração falha. Mas eu sabia que não podia. Algo dentro de mim estava quebrado demais para isso.

━━━ Você vai me deixar assim?━━━ Minha voz era um último apelo, um último pedaço de esperança.

Ela me encarou no fundo dos olhos por alguns segundos, e eu pude ver em meio á escuridão, uma lágrima solitária, mas depois de tudo, não sei mais se acredito na minha própria visão.

━━━ Adeus, Lena.