Capítulo 1

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Com a cabeça latejando de dor e o estômago revirado, despertei naquela manhã.

Ressaca é uma desgraça.

Quem poderia imaginar que a mistura de bebidas com procedências duvidosas resultaria nisso?

A festa do dia anterior foi peculiar, para dizer o mínimo. Eu gosto de ir a festas, mas o dia seguinte é horrível pra mim.

Na real, eu gosto da forma que as festas conseguem preencher um certo vazio em mim de forma momentânea.

Como eu disse, o dia seguinte é o pior dos castigos para mim. Não só pela ressaca e pela dor de cabeça insuportável, mas pelo arrependimento e a certeza de que, mais uma vez, estou prejudicando minha relação com a pessoa mais importante em minha vida: minha mãe.

Eu sei que ela detesta quando faço essas coisas. Ela quase surtou quando coloquei piercing nos lábios e quando pintei o cabelo de ruivo.

Mas eu meio que a entendo. Sair para festas quase todos os dias, trocar o dia pela noite bebendo e dançando com pessoas estranhas não é uma coisa de se orgulhar.

Mas, porra...eu estava na melhor fase da minha vida, precisava aproveitar bastante. E não é como se eu não fizesse nada além disso, eu faço academia.

Que foi? Eu bebo, mas não quero ficar com barriga de tio que bebe cachaça.

— Nunca mais vou beber na vida. – Disse, mentindo como tantas outras vezes em que me encontrava à beira do vaso, vomitando até a alma.

Aquela deveria constar na lista das piores sensações do mundo.

Encarei meu reflexo no vaso sanitário. Estava um caco. Olheiras profundas, resquícios de maquiagem do dia anterior borrados no rosto, e uma marca de batom no pescoço cuja origem era um mistério.

Enquanto eu encarava a minha lastimável figura, ouvi o rangido da porta do meu quarto se abrindo. Em seguida, passos de salto ecoavam em minha direção.

Maldição.

Era ela.

— Bom dia, querido. – Vi minha mãe apoiada na porta, os braços cruzados, me olhando com a expressão mais severa do mundo. — Preciso falar?

— Já entendi. – Respondi, levando a mão à barriga ao sentir meu estômago revirar. — Pode deixar o sermão para depois? Minha cabeça tá explodindo.

Ela respirou fundo, concordando com a cabeça. Eu podia sentir a decepção dela, por isso evitei encará-la. Estava sem coragem.

Com delicadeza, ela segurou minha mão e me conduziu até o box do chuveiro, fazendo-me sentar no chão antes de ligá-lo.

— Deixei o café da manhã e os remédios na sua cama. Estou saindo para o trabalho agora. – Ela soprou um beijo em minha direção. — Eu te amo, meu filho.

— Desculpa, mãe. – Murmurei baixinho, mal conseguindo articular as palavras. — Te amo.

Fechei os olhos, revivendo cada momento da noite anterior em minha mente. O som dos saltos se distanciando ecoava no quarto e, quando ouvi a porta se fechar suavemente - pois ela sabia que eu estava com dor de cabeça -, permiti que algumas lágrimas escorressem dos meus olhos.

Eu sei. Sou o pior filho do mundo e não mereço a mãe incrível que tenho.

Sei que ela espera mais de mim, algo além. Ela me enche de orgulho enquanto eu só lhe causo desgosto.

Terminei meu banho com grande esforço, enquanto minha consciência pesava mais do que nunca. Naquela ocasião, o peso era ainda maior, pois percebi que minha mãe estava tão exausta que nem proferiu um sermãozinho sequer, apenas... me encarou com decepção, e aquilo doeu mais do que qualquer castigo.

Babá por EnganoWhere stories live. Discover now