06 // 𝘤𝘢𝘱𝘪𝘵𝘶𝘭𝘰 𝘴𝘦𝘪𝘴

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𝐃𝐎𝐈𝐒 𝐅𝐈𝐋𝐇𝐎𝐒 𝐃𝐎 𝐎𝐂𝐄𝐀𝐍𝐎 𝐅𝐔𝐆𝐈𝐍𝐃𝐎
───── 𝐃𝐄 𝐒𝐔𝐀 𝐓𝐎𝐑𝐌𝐄𝐍𝐓𝐀 ─────

Elienth e seu pai estavam no porto da capital, depois de tudo o que aconteceu na celebração arruinada e da tempestade ele pensou que seria melhor para seu filho se distanciar da pressão e dos boatos que surgiram sobre ele dentro da corte, mas também do ódio do rei, de seu avô.

Ele nunca disse nada para o jovem, mas ele temia um pouco pelo que aquele homem poderia fazer a seu filho, especialmente depois de o ver matando aquela pobre águia sem nenhum traço de piedade em seu rosto, aquela imagem não havia deixado sua mente desde aquela noite, nem o som estrondoso dos trovões e dos prantos de seu filho, ele esperava que pudesse protege-lo, mesmo que fosse se afastando dele, mesmo que doesse para os dois.

──  Vou sentir muito a sua falta, filho.

──  Ah, eu também pai, mas vou voltar logo  ──  Ele respondeu, vendo o homem colocar uma mão reconfortante sobre seu ombro.

Eles escutaram o som dos sinos navais e da voz dos marinheiros chamando os últimos para embarcarem, o mais jovem suspirou, levantando seus olhos para o homem e então colocando sua mão sobre a dele em seu ombro, não para afasta-la dessa vez, mas apenas para segura-la por um momento.

──  É, preciso ir agora, se tudo melhorar consigo voltar para casa no próximo mês.

──  Espero que sim, lembre de me escrever quando chegarem   ──  O homem falou lhe dando um sorriso breve e entristecido, seu filho então assentiu e se virou indo, mas ele logo o interrompeu  ──  Ei, eu nem posso te dar um abraço para me despedir?

Elienth se voltou para ele rindo, surpreso, tentou abrir sua boca, mas estava incerto de como respondê-lo, então apenas voltou até ele e se deixou ser embalado por seus braços aproveitando aquele momento de afeto até se afastarem de novo quando escutaram o sino do navio tocando outra vez.

Ele sempre havia recusado qualquer afeto dele, eram ordens de seu avô, para evitar que cedesse a seus sentimentos e perdesse o controle, ele dizia também que era um castigo por sua maldição, mas naquela noite, quando ele mesmo pediu para ser abraçado, a tempestade apenas se acalmou.

──  É, eu preciso ir agora, obrigado.

──  Até logo, ma ebhier  ──  Ele disse o vendo se virar indo a embarcação.

──  Até logo, pai  ──  Ele se despediu.

E então entrando no navio seguiu pelo deque até conseguir vê-lo entre a multidão no porto, rodeado pelos guardas reais em seus uniformes azulados, acenando para ele e o vendo responder e logo eles içaram as velas, a figura do brasão da Casa Levirh se balançava no ar com os ventos do oceano, ele sentiu a brisa fria e fechou seus olhos por um momento, respirando junto a ela.

Enquanto crescia nunca teve muitas chances de ver o mar além da paisagem distante pelas janelas do palácio, algumas vezes passava horas admirando aquela imensidão azul, mas o rei nunca o deixaria ir conhecê-la de perto, ele sentia algo por essas águas, um vínculo, e sabia que isso vinha de sua linhagem, sabia que nunca poderia fugir daquilo, de como seus ventos seguiam as ondas e de como as correntes fluíam junto ao sangue seleren em suas veias.

─────

Riven não dormia bem há dias, nada conseguia fazer com que ele cedesse ao sono, a dor o incomodava, era mais difícil respirar deitado, havia passado horas tossindo na última noite, e sua mente não parava de pensar sobre sua mãe.

Ele não estava acostumado a ver o outro lado da cama frio e vazio, ela deveria estar ali, deitada junto a ele, talvez no deque bebendo com os outros, na cabine falando sobre seu último saque, mas deveria estar perto dele, ele não deveria estar sozinho.

Serine precisava ajudar na taverna, algumas vezes ela ia visitar as vilas pela região para tratar de doentes e feridos onde não haviam outros curandeiros e passava horas fora, quando era muito ruim eram dias ou noites inteiras, então ele ficava totalmente sozinho ali.

E quando ela estava ali ele tentava pedir para que se deitasse junto dele e ela sempre vinha com um sorriso gentil e preocupado em seu rosto, mas ele nem sempre tinha a valentia para fazer isso, ele se sentia envergonhado, parecia um garotinho assustado com medo do escuro que não conseguia nem dormir sozinho.

Ele desistiu de tentar adormecer depois de se virar vezes e mais vezes na cama e se levantou, tentando respirar profundamente e falhando quando a dor perfurou seu peito, então cambaleou até a mesa do quarto, encontrando sua imagem refletida no pequeno espelho sobre ela.

Ele estava horrível, seus cabelos eram a pior parte, Serine e alguns outros na taverna haviam dito que ele deveria corta-los, seguindo o costume seleren, quando se perdia algo ou alguém que amava eles faziam isso, simbolizando que uma parte de si mesmo foi perdida também, mas ele se recusava a acreditar que teria perdido qualquer coisa, que teria perdido ela.

Mas vendo o quão bagunçados estavam, se ele não conseguisse se esforçar para tomar um banho e pentear seus cabelos realmente teria que corta-los em algum momento, ele então pegou um pente largado sobre a cabeceira e o levou para seus cabelos.

Era só difícil, não se lembrar dela o tempo todo, de como ela o ajudava a pentea-los quando era pequeno, de como mesmo depois que ele cresceu e aprendeu a arruma-los sozinho ela ainda insistia em fazer isso, de como ela amava trança-los, de como ela cantava sua canção enquanto estava ali com ele, cuidando dele.

Ele desistiu outra vez, largando o pente sobre a mesa, sentindo mais e mais lágrimas escorrendo por suas bochechas, com seu peito doendo enquanto ele tentava respirar entre o choro, ele puxou sua camiseta vendo a mancha do hematoma surgindo embaixo das bandagens e soltando um suspiro fraco, então se colocando de bruços descansando sua cabeça sobre a mesa, ele estava exausto, das lágrimas, da dor, das lembranças torturantes.

Ele suspirou se levantando e secando seu rosto, então viu a paisagem da cidade iluminada pela janela sobre sua cama, pegou o casaco e o chapéu de Serine que ela havia lhe emprestado, junto de sua pistola.

Ela havia sim o dito para não sair, mas ele não poderia apenas continuar ali sem notícia alguma de ninguém, ele precisava de respostas.

𝐀 𝐀𝐆𝐔𝐈𝐀 𝐄 𝐒𝐄𝐔𝐒 𝐎𝐒𝐒𝐎𝐒 | história originalOnde histórias criam vida. Descubra agora