Capítulo 1 |Exorcismo ou Doença?|

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Mamãe acreditava que eu era serva de Deus quando completei doze anos,e foi correndo ao padre falar que através de um sonho o nosso pai maior tinha falado com ela que eu deveria ser esposa de cristo.

Padre Calixto era extremamente devoto,entregue e temente,então ele foi atrás de respostas deixando claro que os sonhos de minha querida mãe eram verdades.

Comecei meus votos de castidade aos quatorze anos,e entrei pra vida eterna e casta abrindo mão de ter uma vida comum.Iniciei o aspirantado com quinze anos,a idade que a ordem do Padre Calixto permitia.Ele me explicava tudo o que sabia,era mais velho e tinha anos de ensinamento,então fazia todo possível para me passar o que sabia.E conseguiu,já que eu estudei a bíblia de trás para frente

Tinha algo que mais me chamava atenção:Os demônios.Eu sempre queria saber mais sobre essa parte,mas quem era devota a Deus pouco se assustava com aquela parte obscura da bíblia.

Eu morava em um campo perto de Londres,eu nunca me sentia bem na cidade,sempre ficava procurando e buscando algo que eu não sabia,geralmente eu era respeitada na cidade já que andava com os padres e as freiras.

Sentada em um dos bancos da sala de estudos perto da igreja,eu cansei da bíblia,não por estar cansada de Deus,mas achando estranho eu estar tendo relances de mulheres gritando,e eu perdida naquele meio.Provavelmente era o Diabo me testando,como o Padre falou que ele faria,e eu estava acreditando ser a verdade.

Sabia que ele não iria se importar se eu saísse antes,então peguei minha mochila,pensando que a época do postulado,que a gente se entregava aos estudos,era quando as provações começavam,e eu sabia que não era fácil.

No caminho para voltar de casa,achei estranho alguns carros passando e o fato do Padre não ter me encontrado no caminho e reclamando que alguns minutos a mais não fariam diferença.

Eu sempre reparava nas folhas,e me questionava se Deus ficaria muito chateado quando eu roubava algumas folhinhas para fazer chás,ou macerá-las para fazer banho.Eu iria arrancar algumas,mas intrigada com a quantidade de carros passando,eu fui seguindo em toda minha curiosidade,até chegar perto da minha casa.

Meu coração martelou dentro do peito,e eu não pensei duas vezes em abrir a porta de casa,ainda vestida com o uniforme do colégio vendo minha irmã gritar e berrar,estava com olheiras profundas.

Meu pai não sabia bem o que fazer,ele tentava agarrá-la,mas ela dizia que não queria ninguém a tocando ou ficando próximo dela.Agora eu tinha entendido porque o Padre não reclamou comigo,ele estava dentro da minha casa.

—NÃO ENCOSTA EM MIM.

Minha mãe chorava,e mesmo perdida eu tentei entender o que acontecia ali.

—Isso é coisa do demônio,Padre.Ele está tomando minha filha,ela está precisando de um exorcismo.

Eu abri a boca chocada,mas minha mãe limpou as lágrimas e me tirou dali,e tudo que eu vi foram os médicos aplicando sedativos na minha irmã Jezebel,mas ela sorria ainda mais,e se descabelava de uma forma que eu sabia que ela não faria em sã consciência.

—Isso é esquizofrenia grave.—O médico da família pontuou,preocupado.

Minha mãe se virou na mesma hora,e me deixou atrás dela me protegendo.

—Claro que isso é coisa do inimigo,não é padre Calixto?

O homem que parecia sempre bondoso,parecia preocupado com a fé exacerbada de minha mãe.O médico e o enfermeiro tentaram novamente,com meu pai segurando Jezebel a tiracolo,enquanto eu assistia a cena vendo que o padre não sabia o que fazer,nem os enfermeiros,nem mesmo meu pai.Minha irmã ria ainda mais,e era uma risada grossa,que ela já deu algumas vezes quando brigava com o namorado e ficava nervosa,mas agora ria parecendo apavorada.

—E o que você pretende fazer com o seu presente de Deus,porra?

Minha mãe voltou a vir tentar me proteger,enquanto eu me encolhia.O que era aquilo que estava na minha irmã?Ela estava doente ou era o satanás?De coração disparado,eu arregalei os olhos quando a loira de olhos verdes se aproximou de mim,mesmo com minha mãe gritando histericamente que não.

—Você ainda é muito pequena para entender o que está acontecendo,coisinha,mas um dia vai saber que você faz parte de uma de nós.—Minha irmã sorriu...Gargalhou.—Freira burra do caralho.

—Deixa minha filha.—Minha mãe começou a chorar,mas meu pai pareceu nervoso e me pegou no colo me levando dali,subindo as escadas e me trancando no quarto.

Meu quarto estava cheio de cruzes,e o papel de parede de florzinha colorida manchado.Ele apenas se agachou e disse para eu não sair dali,batendo a porta e correndo de volta para baixo.Pensei em ficar escondida olhando,mas minha irmã naquele estado provavelmente deduraria.Ainda ouvindo seus gritos,eu me sentei perto da janela olhando o campo verde a se perder de vista,e a pequena casa dos caseiros.

Vi minha irmã correndo para fora,de calça jeans e camiseta branca,meus pais,o padre e o médico atrás dela.Ela pareceu me olhar,pois começou a tirar a própria roupa,deixando seus seios à mostra.

—JUDAS ISCARIOTES.

Arregalando os olhos,me deu vontade de chorar,o medo parecendo ser maior,e tudo o que eu ouvi meu pai dizendo foi:

—María feche essa cortina,minha filha.

E foi o que eu fiz,depois me tranquei dentro do quarto e tampei meus ouvidos,sabendo que aquele era o primeiro contato que eu tive com o Diabo,como eu sabia ser verdade desde que deixei de ler a bíblia para me interessar das plantas do jardim da sala de estudos da igreja.

Blasfêmia (livro 1 de 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora