Blasfêmia (livro 1 de 4)

Capítulo 4

Quieta no quarto,eu fiz minha única refeição recolhida já que todas as freiras estavam nos seus afazeres.Quando a luz natural foi dando inicio a noite,eu acendi uma vela e apenas aguardei minha colega de quarto.Quando a garota entrou segurando um castiçal,eu me surpreendi por ser jovem para uma freira.Bispo Frederick disse que as freiras aqui costumavam ser mais velhas,e a menina assustada não parecia ser uma freira depois de formada.

Era uma noviça.E cada etapa para se tornar uma noiva de cristo tinha uma ala naquele monastério.

—Oi.—Disse,tímida,mas ela não respondeu,apenas abriu um sorriso fraco para mim e se virou deixando o castiçal de vela.—Eu sou a...

—Freira María Isabel vinda de Londres.O bispo falou da senhorita hoje.

Não foi como se ela tivesse gostado daquilo,e de ter mais uma garota chegando.Era loira,tinha os olhos praticamente amarelos,e não parecia muito contente,então eu também não quis abusar da boa vontade dela.A analisei,sem saber direito o que pensar.Logo ajustei o despertador para seis da manhã tentando me distrair,tendo em vista que era o único objeto moderno do quarto.

Acordei antes do despertador,ainda estava tudo escuro mas eu já conseguia ouvir os pássaros.Olhei para a cama ao lado vendo que estava bagunçada,mas não havia ninguém.Pensei em voltar a dormir,mas já estava sem sono,então acabei levantando vendo que as velas já tinham queimado.Fui até a janela e vi que Ruth,a irmã que dividia quarto comigo andava sem rumo e descalça para perto da imensa cruz que havia ali.

Ela olhou para trás,e eu me escondi,pensando o que ela estava fazendo quase amanhecendo do lado de fora do quarto.Meu coração voltou a se apertar,era como se eu também estivesse perdida,precisando uma missa e algo que acalmasse meu coração e não o confundisse mais.

Seis horas eu saí andando para fora do quarto,mas no início do corredor dei de cara com uma mulher mais velha,vestida em um hábito azul.

—Você deve ser María Isabel,sou Madre Antonieta.

—Sua benção,Madre.—Abaixei a cabeça vendo sua pose altiva.

—Venha comigo,filha.—Disse a última parte irônica,e eu me perguntei se era "filha"mesmo que se falava,mas ignorei aquilo e a seguir até o outro lado do imenso monastério.Eu estava de pijama,mas fiquei ciente que naquela parte eu poderia andar assim perto de outras irmãs que tinham o mesmo título que o meu.Achei aquela parte esquisita,mas sabia que o Padre Calixto não me mandaria para um lugar desconhecido.

Ela abriu a porta do vestuário,onde tinha várias cabines para tomar banho.Já havia algumas irmãs fazendo seu asseio,mas graças a Deus não era possível ver nada.

A Madre não parecia muito contente,mas abriu ainda mais a porta para eu passar.

—Hábito bem arrumado,cuidado para a corneta não ficar torta,eu não tolero um fio fora do lugar.Cuidado com os horários,se passar você fica sem comer ou tomar banho,são as regras.

Eu não sabia que uma vida religiosa em um monastério era rígida daquela maneira,mas concordei com a cabeça,e abaixei vendo ela tocar no meu braço com rispidez.

—Se você se comportar de maneira inadequada paga as consequências.Depois do café da manhã o Padre Marco está te esperando.

Não disse nada,meu peito se apertou,e eu apenas aceitei.Fui tomar banho,sentindo a água escorrer pelo meu corpo mas eu nem me atrevi a olhar,eu achava aquilo errado.Depois de me enxugar,precisei esperar algum tempo até o cabelo secar completamente,e eu vestir meu hábito novamente,conferindo se estava bem passado.Coloquei meu terço de madeira,e saí indo em direção ao refeitório.

A falação era alta,as freiras conversavam e sorriam,mas outras pareciam acuadas,e mal tocaram na comida.Peguei minha bandeja olhando para trás,e me virei para frente levando um susto ao me bater com Ruth.Ela parecia me espiar,e quando me desculpei ela só abaixou a cabeça e pegou uma maça.Eu aceitei mingau,e sorri para as irmãs que serviam o café.