Capítulo 2

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Minha irmã tinha morrido,e com o passar dos anos eu estava vendo a forma que minha mãe vinha definhando cada vez mais.Eu já estava no noviciado,já usava roupa de noviça e já me comportava como tal.Era interessante como eu era respeitada a medida que sofria bullying,mas no geral não parecia ser ruim.

No final da aula,eu sempre ia estudar com as freiras e as irmãs,praticava a caridade e já vivia meu noivado com cristo antes do casamento.Eu me sentia bem apesar das dúvidas,principalmente sobre o que havia acontecido com a minha irmã,e quando o padre não estava geralmente eram bem mais respondidas.As freiras pareciam gostar de mim,e eu me sentia bem conversando com elas.

No final da aula,as irmãs mais velhas estavam recolhendo o material dos estudos e eu me preparava para voltar para casa.Estavam comovidas porque duas de suas freiras seriam destinadas a um convento em um lugar distante aqui mesmo na inglaterra,e a outra para um monastério em Cambridge.Aquele tinha se tornado meu maior sonho,viver longe da sociedade me dedicando a Deus e Cristo.Seria um tempo de aprendizado,eu queria saber tudo.

Com as irmãs voltando para o convento,e eu para casa,as vezes rolava conversinhas baixas que eu fazia questão de participar,mas não podia falar com mais ninguém,ou era considerado fofoca.Ou seja,naquele momento eu iria pecar,mas não me importei e apenas me aproximei do que uma das noviças falava.

—Birmingham não é um bom lugar,é cheio de bruxas,e não como essas de época,trabalham com magia pesada,naturais...Eu já vi uma delas com o Padre Calixto,ele não falou nada porque é discreto,mas já imaginamos que se existisse fogueiras como antes era pra lá que iriam.

Porque estavam falando dessa cidade?Ficava a duas horas de Londres.Intrigada,eu as deixei para trás,recolhi meus pertences e sai andando,como sempre gostando de cheirar as flores,entender o nome das folhas,e não deixar de agradecer a Deus por ter criado a terra daquela maneira.

Usando minha mochila,tentando ajeitar a corneta na minha cabeça,o sol quente estava castigando,mas ao olhar para cima,eu já conseguia ver as nuvens carregadas.Abaixei a cabeça quando um carro passou,e um homem desceu parecendo bêbado.Eu já estava chegando em casa.Ele assim que me viu arregalou os olhos,e eu pensei em ajudá-lo,mas ao ver a garrafa em sua mão,e seus olhos lacrimejando entendi que seu problema era outro.

—Você é igual a ela...

Antes que eu reagisse,meu pai saiu de casa e correu até mim,com uma espingarda que eu nem sabia que ele tinha,atirando para cima,e tudo o que eu fiz foi olhar para trás vendo o homem cair no chão,e gritar que eu parecia com ela.

Meu pai não parecia tão devoto,mas naquele momento arregalou os olhos,e disse baixo:

—Eu que não acreditava em tentações,desde do dia que sua irmã morreu eu passei a acreditar.

Fiquei quieta,e apenas abaixei a cabeça.Minha mãe veio da cozinha limpando as mãos,e meu pai contou tudo o que havia acontecido.Minha mãe ficou séria,deixando eu e meu pai sozinhos.

O assunto da minha irmã parecia proibido,e quando o clima pesou eu me levantei dizendo que iria subir.Com o olhar avaliativo do meu pai,ele voltou a olhar para dentro da cozinha,e um pouco desconfiado ele apenas concordou com a cabeça.

5 anos depois...

Nós imploramos por misericórdia, qualquer hora, qualquer dia

We begged for mercy any hour, any day

Para trazer de volta o anoitecer, oraríamos

To bring back nightfall we would pray

Você nos deixou sangrando numa chuva de balas de prata

Blasfêmia (livro 1 de 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora