Já faziam quase duas semanas desde que Adam entrou em sua vida - profissionalmente falando.
Estão em meados de outubro agora.
Bev o encontrava, fazia os exames necessários, Daniel relatava uma melhora significativa e, em poucas palavras, as consultas passavam mais rápido, sempre após a fisioterapia.
O Doutor continuava a tentar se aproximar de alguma forma. Perguntou a ela sobre suas pinturas, técnicas, se isso a divertia. Beverly, por sua vez, respondia da maneira mais curta e objetiva possível para não prolongar seu tempo naquele hospital. E então, voltava para seu apartamento, em Manhattan.
Ah, Manhattan!
Onde vem aqueles que procuram sucesso, onde moram os homens mais ricos da alta sociedade. Nas calçadas, pessoas de diversas classes culturas e diferente estilos estão sempre fazendo truques, cantando, esperando que algum caça talentos os notasse.
Beverly gostava de vê-los pela janela.
Ver essas pessoas se esforçando com tudo o que acreditam, para si, parecia mágico. Algo longe de sua realidade. Ela nunca se esforçou para nada, a não ser, claro, esconder sua frustração e outros sentimentos incômodos dentro de um baú com sete chaves, que só é aberto quando o pincel toca a tela. Isso a fazia extravasar, era bom, até virar trabalho e se tornar uma obrigação.
Via todos eles, sozinhos na rua, andando e se preocupando com que roupa vão em alguma reunião no dia seguinte. Via eles poderem esbarrar uns nos outros sem medo de quebrarem algo, via eles se estressando, isso a divertia também.
— Dan? — Perguntou, olhando para ele, que estava na porta da varanda.— O que acha disso?
Daniel, já entendendo o que a ruiva queria dizer, retrucou:
— Uma dádiva. Mas sabe, você também tem várias.
Dan, com seus 1,87 se aproximou de Beverly, colocando a mão de maneira suave em seu ombro. Ele é sim, um homem bonito.
Seus cabelos são pretos, com olhos cor de mel, pele bronzeada e em algumas palavras, eram pronunciadas por ele com um certo sotaque italiano. Seu sorriso é alinhado, bonito, as mulheres sempre o olham quando ele e Beverly saem de casa juntos.
A maioria das pessoas do prédio não sabem de sua história, acham que eles namoram, mas não, tudo é profissional, de certa forma. Tirando, claro, a amizade dos dois.
— Quais? — Suspirou, evitando se inclinar na varanda.
— Veio de uma família rica, que tem condições de cuidar de você. Mora em Manhattan, é inteligente, e claro, tem um amigo maravilhoso como eu! — Ele sorriu. — Sem contar que você nasceu em uma geração em que uma vacina consegue fazer com que seu osso vai recuperando o colágeno.
— Eu preferia ter nascido sem a doença. — Respondeu, se afastando da varanda e passando pela porta branca com pequenas janelas de vidro.
— Mas já que nasceu com ela, ver o lado positivo não seria tão ruim, sabe disso, não sabe? — Daniel a seguiu.
Beverly as vezes tinha essa conversa com Danny. Ele sempre a aconselhou a levar essas coisas com um pouco mais de otimismo, agradecer por diversas coisas em sua vida, mas por algum motivo, a ruiva não conseguia ver o que tinha de bom em ter os ossos de vidro. Em comer coisas seletivas, sentia dores o tempo todo, tinha que levar agulha nos braços várias vezes.
O que tinha de bom nisso?!
— Daniel, pode ir para casa.
Não que adiantasse muita coisa, ele é seu vizinho, mora literalmente ao lado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vidro
RomanceBeverly é diagnosticada com uma doença raríssima desde bebê. Acostumada a confiar cegamente em seu médico de longa data, ela se sente desamparada quando ele se aposenta, deixando um vazio em sua vida. Mas, quando um novo médico jovem e ambicioso ass...