tarde quando a tempestade se formou, meus marujos mais experientes corriam entre a acastelagem do deque buscando recolher algumas velas para diminuir o vento que nos atingia. Quando enfim a frota seguia com velocidade, um vigia me gritou:
— Capitão! A sombra aproada! — E procurei-o no alto enquanto tinha minhas mãos ao timão.
Dentre a névoa que valsava baixa, no palco marítimo, a esperança nos surgiu. A ilha escura logo se revelou como um gigante. Não apenas mais um banco de areia onde faríamos contagens, mas sim, uma provável sobrevivente do tempo e do sentimento de meu povo que temia por ali navegar. Mas não nós! Não eu, o filho do maior dos exploradores em terra e mar. Havia feito de centenas meus escravos, havia dado nome a ilhas distantes como aquela. Quem mais aceitaria aquela missão se não eu?
— Horam! Ali, olhe para aquelas nuvens! — Apontou-me meu mestre-de-quartel, que detinha os olhos fixos no céu.
Pensei em ignorá-lo e continuar a admirar o montículo de terra que se tornava imensurável. Todavia, notei que não era somente meu velho companheiro quem observava além das nuvens tempestuosas. Depositei meu olhar sobre elas, havia algo mais do que as brumas. Cerrei a visão, buscando mais a fundo e nada encontrando da massa cinzenta e negra que se mantinha.
Um relâmpago cortou a escuridão. As primeiras gotas precipitaram ao mar, caindo como agulhas gélidas sobre nossas peles. Não era a água que resfriava nossos corações. Era um urro tão forte que parecia ter sido, ele mesmo, um trovão. Porém, não provindo do dilúvio, sabíamos que algo muito maior logo surgiria dali.
A fera não tardou a aparecer. Ela cortou os ares e os ventos da intempérie, que nada pareciam representar para o animal desmedido que estava galgando, solene como um pássaro qualquer. A sombra nos rodeou fazendo com que toda a frota tremesse diante daquela besta alada que ameaçava cair sobre nós com seus brados ensandecidos. Mirei meus canhoneiros, eles estavam estáticos de pavor e se deixaram levar pelos silvos da odiosa criatura. Não, não lhes permitiria.
— Alvo a estibordo! — bradei a plenos pulmões, meus berros teriam de ser mais aterradores do que os daquela ameaça. — Canhoneiros, preparem a munição! O inimigo se aproxima, rezemos! Rezemos irmãos!
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Rubra - A Guerreira Carmesim
FantasyObra vencedora do Concurso Cultural da Editora Pandorga, edição 2016. Em Akkikana, um mundo permeado por lendas de deuses e dragões, onde a magia parece jazer adormecida em meio às histórias e o passar dos séculos. Duine, uma poderosa cidade se ergu...