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Noah estava sentado à secretária do seu quarto, debruçado sobre os livros, tentando estudar para o próximo teste de Física. Mas a concentração era escassa.

Desde aquele incidente na escola, o que deveria ser uma simples rotina académica transformara-se num desafio angustiante.

A imagem da sombra preta no espelho e a frase escrita com a humidade, "Onde está a Ema?", pairavam sobre ele como um espectro.

Não conseguia afastar esses pensamentos, por mais que tentasse focar-se nas equações e nos diagramas.

A cada página virada, sentia como se algo estivesse a espreitá-lo, como se a própria casa, até então um lugar seguro, se tivesse transformado numa prisão invisível.

Os seus pais tinham saído para visitar os avós e não voltariam até de manhã. Estava sozinho naquela noite, mas já se sentira assim mesmo com eles por perto.

O mundo, de algum modo, tornara-se mais estranho e inóspito desde aquele dia.

Noah suspirou, esfregando os olhos cansados. O vento lá fora soprava com força, uivando como se estivesse a tentar forçar a entrada.

Havia uma tempestade a formar-se, isso era certo. O céu, já escuro pela noite, estava agora pintado com nuvens negras e ameaçadoras.

Os primeiros pingos de chuva começaram a bater contra a janela, criando um ritmo irregular que ecoava por todo o quarto.

Por um momento, Noah pensou ter ouvido algo além da chuva e do vento. Uma voz.

Pequena, sussurrante, como se estivesse a ser trazida pelo vento. Parou de escrever e levantou a cabeça, atento. Não havia mais som além da tempestade lá fora.

O coração acelerou um pouco, uma sensação de nervosismo tomou conta de si.

Ele riu de si mesmo, tentando afastar a paranóia crescente.

"É só a tempestade", murmurou para si, tentando convencer-se.

Mas as vozes... pareciam reais. Mais uma vez, vieram. Sussurros, palavras distorcidas que ele não conseguia entender, mas que lhe enchiam os ouvidos.

Agora, vinham de mais perto, como se estivessem a entrar pela porta entreaberta do seu quarto. O som parecia rodeá-lo, confundir-se com o bater da chuva.

Noah levantou-se de repente, o coração a bater mais depressa, as palmas das mãos húmidas de suor.

"O que é isto? Estou a ficar doido?" Pensou ele.

Fechou o livro de Física com força, como se aquele simples gesto pudesse pôr fim aos sussurros. Mas o som não cessava.

Tornava-se mais insistente, como um zumbido persistente que se infiltrava nas paredes, nos móveis, e dentro da sua própria mente.

De repente, um estalo alto ecoou pela casa, seguido de uma escuridão total. O quadro elétrico fora abaixo.

A tempestade intensificara-se, e o vento agora uivava como uma criatura selvagem, feroz e descontrolada.

Noah ficou ali, imóvel, no meio da escuridão do seu quarto, os olhos arregalados.

O som da chuva era ensurdecedor, e o vento batia com tanta força nas janelas que ele temeu que elas se partissem a qualquer momento.

O único som mais forte que a tempestade era o bater do seu coração, que parecia querer saltar-lhe do peito.

Tentou acalmar-se. Respirar fundo. Só uma tempestade. Só um apagão. Nada de extraordinário.

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