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Noah avançava com passos incertos, os pés quase vacilando a cada tropeço na estrada de terra e pedras.

Sentia o peso de Ema nos braços, o corpo dela desfalecido mas ainda quente, como se a vida estivesse ali, frágil mas resistente.

Ele próprio estava coberto de feridas, arranhões que lhe queimavam a pele e uma dor intensa no ombro que tentava ignorar a cada movimento.

O cansaço ameaçava vencê-lo, mas desistir não era uma opção.

Enquanto Ema respirava, ainda que levemente, ele não pararia.

Ela era tudo o que o fazia avançar, era o fio que o ligava à esperança de que ambos ainda podiam escapar daquele inferno.

A noite era densa, e a escuridão parecia envolver-lhes como uma sombra sufocante, mas Noah mantinha o foco em frente, os olhos varrendo a estrada, procurando algum sinal de abrigo.

As árvores altas inclinavam-se sobre o caminho, formando uma espécie de túnel sombrio, e o som dos galhos a estalar ao longe aumentava a tensão a cada passo.

Por fim, quando o corpo já ameaçava desistir, Noah vislumbrou uma silhueta metálica à frente: um carro abandonado, desgastado pelo tempo.

As portas estavam destrancadas, como se esperassem por eles.

Sem hesitar, ele puxou a porta do condutor e ajeitou Ema no banco do passageiro, com cuidado, tentando oferecer-lhe o pouco de conforto que aquele velho carro permitia.

Observou-a, o peito a subir e a descer num ritmo fraco, mas suficiente para o tranquilizar momentaneamente.

Noah correu para o banco do condutor, ligou o motor e o carro deu um ronco quase abafado, mas ainda funcional.

Com um suspiro, pressionou o acelerador, guiando o veículo pela estrada desconhecida.

A estrada levava-os cada vez mais perto do som distante das ondas do mar, que ecoava suavemente entre as árvores.

Noah percebeu que estavam a aproximar-se da costa, e pouco depois, avistou uma pequena cabana à beira de uma praia deserta.

O lugar parecia desolado e distante de tudo – um refúgio temporário que lhes traria algum tempo para recuperar as forças.

Ele estacionou o carro e saiu, voltando a pegar Ema nos braços, cuidando para não a magoar ainda mais.

A cabana era simples e desgastada pelo tempo.

Ao abrir a porta, o cheiro de madeira envelhecida e sal marinho invadiu-lhe os sentidos.

Havia uma lareira no canto, com restos de madeira parcialmente queimados, como se alguém tivesse estado ali não há muito tempo.

Noah levou Ema até um velho sofá de tecido gasto, deitando-a com delicadeza. Sentou-se ao seu lado, tentando recuperar o fôlego, mas a dor no ombro latejava, forçando-o a respirar fundo e cerrar os dentes.

Sabia que, se ele próprio não tratasse das feridas, não teria forças para cuidar de Ema por muito mais tempo.

Encontrou um kit de primeiros socorros num dos armários, uma descoberta providencial.

Com mãos trémulas, começou a desinfetar os cortes no braço e no ombro, o líquido a arder-lhe na pele.

Mas não se permitiu fraquejar.

Cada segundo era precioso, e ele precisava manter-se forte por ambos.

Finalmente, depois de cuidar de si o suficiente para aliviar o pior da dor, Noah voltou a atenção para Ema.

Ela continuava imóvel, os olhos fechados, a respiração fraca mas constante.

Com um pano limpo, começou a limpar o ferimento na testa dela, onde o sangue seco formava uma crosta.

Movia-se com o maior cuidado, os dedos a deslizarem pelo rosto dela num toque quase reverente.

– Vou cuidar de ti, Ema – murmurou ele, a voz grave mas suave. Era uma promessa, um voto silencioso que ele próprio não sabia até que ponto poderia cumprir, mas naquele momento, era tudo o que ele tinha para lhe oferecer.

Ema permaneceu calada, e Noah não sabia se ela sequer o ouvia.

Respirou fundo, decidido a verificar se havia mais ferimentos.

Os seus dedos deslizaram até à borda da blusa dela, hesitantes, mas determinados.

Com todo o cuidado, começou a puxar a blusa para cima, revelando o abdómen e procurando sinais de cortes ou hematomas na cintura.

Mas, num gesto rápido, Ema colocou a mão sobre a dele, impedindo-o de continuar.

Noah parou, observando-a com atenção.

Ela permanecia com o olhar fixo para baixo, evitando-o, mas o toque da mão dela contra a dele era firme, comunicando uma resistência silenciosa.

Ele inspirou fundo e, devagar, levou a mão até ao rosto dela, os dedos a pousarem com suavidade na pele fria.

Levantou-lhe o queixo, obrigando-a a encará-lo.

Os olhos dela estavam turvos, como se carregassem um peso invisível, e ele sentiu um aperto no peito.

– Ema... – murmurou ele, o tom da voz suave, num esforço para transmitir conforto.

O polegar deslizou pela bochecha dela, num carinho discreto mas profundo. Os olhos de Ema encontraram os dele, e, por um momento, tudo o resto pareceu desvanecer-se.

A proximidade entre eles intensificava-se, e, antes que pudessem hesitar, os rostos aproximaram-se lentamente, até que os lábios se tocaram num beijo.

Foi um toque calmo, sem pressa, mas carregado de uma intensidade que ambos precisavam.

Noah sentiu o coração acelerar, a adrenalina a pulsar-lhe nas veias, e as suas mãos deslizaram até à cintura dela, puxando-a gentilmente para mais perto, até que Ema se ajeitou no seu colo, os braços a envolverem-lhe o pescoço.

A respiração de Noah tornou-se mais pesada, e ele interrompeu o beijo apenas o tempo suficiente para puxar a própria blusa para fora do corpo, revelando a pele marcada por arranhões e feridas.

Os olhos de Ema seguiram os movimentos dele, e quando ele voltou a beijá-la, ela correspondeu com igual intensidade, deixando que as mãos deslizassem pelos ombros dele, sentindo as cicatrizes recentes e a força que ele tentava disfarçar por trás de cada toque.

Os lábios de Noah encontraram os dela de novo, e a cada beijo, a conexão entre eles parecia ganhar vida, um vínculo que palavras não poderiam expressar.

Ele deixou as mãos deslizarem pelas costas dela, puxando-a para si, até que ela começou a puxar a própria blusa, num gesto silencioso mas decidido.

Noah ajudou-a, afastando o tecido com cuidado, e voltou a envolvê-la num abraço firme, o calor do corpo dela contra o seu a afastar o frio que parecia ter-se instalado na cabana.

Durante aqueles instantes, nada mais importava – nem as feridas, nem o cansaço, nem o passado que os perseguia.

Ali, na penumbra daquela cabana à beira-mar, encontraram um refúgio no outro, um momento de paz em meio à tempestade.

Noah apertou a cintura dela durante o beijo, sentindo-a junto de si, como se aquela fosse a única certeza que lhe restava.

O som do mar ecoava ao longe, acompanhando o ritmo dos corações que batiam em sintonia, e, por alguns minutos, ambos deixaram-se levar pelo conforto que encontravam nos braços um do outro.

Era uma pausa breve, mas necessária – um vislumbre de esperança num caminho que sabiam que ainda estava longe de terminar.

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⏰ Última atualização: Oct 29 ⏰

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