Quinto capítulo

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Passar o dia na companhia de Agnes, sabendo que ela poderia estar me entregando de bandeja para o General do Leste foi uma das piores sensações da minha vida, mal consegui encará-la durante todo o dia sem sentir meu estômago se revirar com a possibilidade da traição orquestrada contra mim durante todos esses anos, por alguém que se dizia amiga da minha mãe. Era demais para mim.

Observar Agnes sorrindo e conversando com a Betânia, a costureira responsável por fazer minhas roupas, opinando de forma carinhosa e cuidadosa nos mínimos detalhes no vestido que usaria no meu vigésimo primeiro aniversário, me deixava sufocada e desesperada para sair do mesmo ambiente que ela.

Sempre achei que estava acostumada a traições, dado ao fato de conviver com alguém que deturpou seu juramento como General do meu reino, de proteger e zelar pelo monarca reinante e pelo povo em benefício próprio, mas estava enganada. O golpe de desconfiar de Agnes me tirou o rumo, como pode confiar tão cegamente em alguém por anos e entregar todos os meus segredos de bandeja a ela sem temer sua traição?!

Eu deveria saber que confiar cegamente em alguém, mas cedo ou mais tarde cobraria o seu preço. Um monarca jamais poderia confiar em ninguém, nem mesmo no seu consorte, pois a traição sempre vem quando abaixamos a guarda por confiar demais em uma pessoa.

- Foi uma ótima ideia, Agnes, os bordados de flores pelo vestido ficaram um primor. Não é verdade, vossa majestade? - ouvi Betânia questionar ao longe e virei para vê-la pela primeira vez, assim como o lindo vestido verde claro da cor dos meus olhos, com bordado de flores que começavam na parte de cima e seguiam por todo o comprimento da volumosa saia.

- Sim, Betânia, Agnes é extremamente dedicada e eficaz em tudo que se propõe fazer. E o vestido está magnifico, muito obrigada por sua dedicação em conclui-lo com tanto esmero, Betânia. - disse gentil sem tirar os olhos de Agnes, como se pudesse dizer a ela de forma silenciosa que sabia das suas mentiras.

- Não precisa agradecer, vossa majestade, só fiz o meu trabalho, mas fico feliz que tenha gostado do resultado. Espero que seu noivo também goste, quando vê-la usando - Betânia segredou empolgada, por saber que finalmente conheceria o homem com quem fiquei noiva por catorze anos, mas apenas sorri de forma discreta para não dá a entender que não estava nem um pouco feliz em conhecer o rei do Sul - É verdade que vossa majestade, jamais conheceu seu noivo, nem pessoalmente e muito menos por uma pintura, durante todos esses anos?

- É verdade, Betânia. Só soube que estava noiva quando estava com dezoito anos, desde então nunca me importei em saber com o rei do sul é.

- Mas...E se ele for feio, rainha Virgínia?! - Betânia questionou horrorizada e Agnes sorriu suave, dedicando sua atenção a alguns tecidos que estavam ali, aproximando-os com cuidado do vestido como se estivesse em busca de algo.

- O rei do Sul não é um homem feio pelo contrário, ele é tão lindo, encantador e culto quanto seu pai - Agnes disse sorrindo amorosa, se voltando para nós com um rolo de cetim da cor do vestido que usaria no meu aniversário nas mãos, entregando-o a Betânia enquanto a olhava curiosa para saber como ela parecia conhecer o rei do Sul tão bem - Por favor, Betânia, use esse cetim para fazer alças de amarrar no vestido, dará mais mobilidade e conforto, a vossa majestade.

- Excelente ideia, Agnes. - Betânia elogiou minha dama de companhia olhando para ela de maneira interrogativa, provavelmente querendo saber assim como eu de onde ela conhecia meu noivo.

- Agnes, como sabe que o rei do Sul é tão lindo, encantador e culto quanto seu pai?! Quando foi que conheceu o rei do Sul?! - questionei desconfiada e ela piscou confusa, como se não esperasse por minha pergunta.

Imperatriz do LesteOnde histórias criam vida. Descubra agora