Capítulo 1

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Amar você para sempre não pode ser errado

Mesmo que você não esteja aqui, não vou seguir em frente

É assim que tocamos

E não há remédio para as lembranças

Seu rosto é como uma melodia

Que não sai da minha cabeça

Sua alma está me assombrando e me dizendo

Que está tudo bemMas eu queria estar morta (morta, como você) 

~Dark Paradise - Lana Del Rey


Todos os dias eram os mesmos. A vida seguia a mesma monotonia diária, e os sentimentos de Rose não se alteravam. Nem mesmo a luz do sol extravagante ao lado de fora querendo iluminar o interior da casa com a sua luz, conseguia fazer Rose sentir algo. Sua alma estava imersa na escuridão; ela estava viva, mas não havia mais vida, vida que se fora com a perda de seu marido, hoje completando exatos dois anos.

A jovem mulher tentava entender qual era o real sentido de existir. A vida era cada dia mais pesada e insossa. De fato a vida de Rose não era um mar de pétalas de rosas, na verdade era um mar trevoso e cheio de espinhos perfurando a sua pouca paz a cada quebra de onda.

Com os cabelos molhados pingando em sua pele pálida e gotas grossas inundando lentamente o banheiro, Rose encara o espelho embaçado, respira fundo antes de limpá-lo e encontrar seu reflexo: uma mulher de rosto fino, com olheiras profundas abaixo dos olhos castanhos, lábios ressecados e um leve corte no lábio inferior. Sua visão não a assustava mais; ela não sentia absolutamente nada ao encarar sua feição desamparada, cercada pelo banheiro molhado e pelas roupas sujas e úmidas espalhadas pelo piso.

Rose sai para o quarto, que se encontra em uma situação semelhante, com roupas espalhadas por toda parte. A casa da jovem viúva é espaçosa; ela havia se mudado para lá assim que se casou. Era uma casa planejada para abrigar futuros filhos, mas nada do que foi sonhado e idealizado se concretizou.

Ela deita-se na cama de casal, deixando a toalha branca jogada no caminho, junto a outras dezenas de tecidos esquecidos no chão do seu imenso quarto, que parecia encolher conforme a bagunça crescia. Com o olhar vagando pelas rachaduras no teto, onde gotas de chuva entravam durante as tempestades, ela já não se importava mais. Ao lado da cama, há duas mesas de cabeceira. A da direita, mais próxima da parede, pertence a ela e abriga um abajur quadrado e quebrado, dois livros, que eram seus favoritos. A mesinha da cabeceira esquerda, que pertencia ao esposo falecido, contém apenas um abajur similar ao de Rose, mas permanecia intacto; sua luz ainda funcionava, embora não fosse acesa desde a última noite em que Jared adormecera no quarto ao lado da mulher que agora fitava o teto há longos minutos, sem reação alguma.

As paredes são de um tom cinza claro, agora desgastado, e a tintura branca ao fundo mostrava-se, querendo sobressair-se à coloração acinzentada que não era retocada há um bom tempo. O carpete bege não era aspirado há muito tempo, acumulando sujeira e uma mancha de vinho tinto bem no meio do extenso quarto. Nos cantos, jazia um monte de roupas sujas que não eram lavadas há cerca de um mês.

Um barulho faminto, oriundo do estômago da mulher debruçada na cama, a alertava sobre a fome, após longas horas sem ingerir alimento algum. Mas aquilo não provoca nenhuma reação; ela continua encarando a superfície acima. Contudo, um barulho em especial chama a atenção de Rose. Um latido alto e próximo gera um mínimo interesse na mulher sem emoção, mas ela continua inerte, até que o latido do cachorro se torna cada vez mais insistente e lamuriante.

Abraçando RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora