Capítulo 5

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Os dias e meses se passaram, e Rose e Victor foram se conhecendo cada vez mais. Victor sempre encontrava uma maneira de preparar algo especial para Rose, mesmo que chegasse cansado do trabalho. Ele fazia questão de tê-la em sua casa para jantar. A saúde física de Rose melhorava a cada dia, à medida que ela se alimentava com prazer e dava a devida importância não apenas à alimentação, mas também à sua saúde mental. A cada sessão terapêutica, ela sentia sua evolução e um conforto crescente no coração e na alma.

Havia momentos difíceis, é claro; havia dias em que ela desejava voltar a se trancar em seu quarto, com a dor latejando em seus ouvidos e alimentando sentimentos negativos. Mas sempre que lembrava da força e coragem de seu vizinho, que se tornava cada vez mais presente em sua vida, sentia um impulso que a motivava a continuar firme em seu objetivo de superar a dor.

— Estou conseguindo superar a dor, Jared, mas jamais irei esquecer você. — Rose dizia, fitando o retrato em que sorria para seu falecido marido, com seus cabelos loiros e olhos da cor do oceano. Ele era jovem, apenas dois anos mais velho do que ela.

Decidida, Rose sentiu que era hora de doar as coisas de Jared. Já havia feito uma faxina em sua casa com a ajuda de Victor, mas ainda não tivera coragem de mexer no closet organizado do falecido.

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— Como você se sente? — Victor aproxima sua cadeira em direção a Rose, sentada em seu sofá cinza, em sua sala enorme, fazendo-a se sentir estranhamente nervosa com a simples ação.

— Bem. Sinto-me mais leve. Recebi ajuda dos pais de Jared para doar seus pertences. Eles pareciam aliviados com a minha atitude. Percebo que querem me ajudar também e que não preciso fugir deles. Sempre foram boas pessoas; não sei por que esqueci tudo de bom que fizeram por mim e por ele.

— Mas não se sinta culpada por isso. Você sabe que não estava bem e que agora é o momento certo para tê-los de volta em sua vida. — Victor a conforta.

Rose o encara, um sentimento estranho começa a aflorar em seu interior. Um sentimento que havia sentido há muito tempo e que fora perdido.

— O Barry está roncando. — Ela ri, achando graça no som peculiar que o cachorro faz enquanto dorme no meio da sala do advogado. Victor ri junto, encantado com a risada de sua vizinha. Ele adorava sua risada e começava a adorar várias coisas nela, mas se repreendia sempre que pensamentos invasivos surgiam.

— Ele está te dando muito trabalho? — pergunta o dono do animal. 

— Claro que não. Ele é a melhor companhia que eu poderia ter. Assim como ajudou você naquela fase, ele está fazendo o mesmo por mim. — a vizinha tinha a presença do cão por horas no seu dia, enquanto Victor estava de volta ao trabalho.

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Um ano se passara. Rose voltou ao seu trabalho como arquiteta, começando com a sua própria casa, restaurando o projeto arquitetônico de seu lar. Mas não ficara presa a empresa imobiliária, apesar de ela trazer boas recordações. Mas Rose precisava começar com calma e o melhor foi conseguir trabalhos residenciais para clientes comuns.

Mas o mais importante, Rose já estava apta a enfrentar os seus conflitos internos. Ela conseguiu enfrentar as suas dores, mesmo tendo recaídas e momentos que achava que nunca mais iria conseguir se reerguer. Mas ela era a prova viva que era sim possível se libertar de suas dores internas, mesmo que para isso precisasse reunir paciência, força e coragem, mesmo quando parecia não haver mais um pingo dessas virtudes.

A arquiteta mal sai do banho quando chega do trabalho e vai direto para a casa vizinha, de toalha grudada ao cabelo recém lavado e qualquer roupa encontrada em seu closet agora organizado.

— O prato de hoje é um macarrão instantâneo vagabundo com vários condimentos e ingredientes aleatórios que encontrei na geladeira. Que tal, vizinha? — Victor está à espera de Rose, enquanto a panela está fumegando no fogão.

Mas não é isso que chama a atenção da mulher, mas sim o estado físico do advogado, que encontra-se sem camisa, seus ombros largos expostos mostravam o esforço e disciplina de Victor na academia. Ele está apenas com uma bermuda de moletom cinza, deixando suas pernas largas expostas e com alguns fios escuros espalhados em sua pele clara.

Sem mais reprimir a si mesma como fizera nos últimos meses de puro desejo, a mulher segue seu caminho firme em direção ao homem sentado em sua cadeira familiar. Uma das mãos trêmulas de Rose posicionam-se no ombro nu de Victor, outra segura o apoio de braços da cadeira para se firmar, e num piscar de olhos Rose se encontra no colo de seu vizinho.

Victor a encara perplexo, mas seus desejos são compatíveis com da mulher sentada sobre ele e entender que ela deseja o mesmo o deixa ainda mais ansioso. Então ele ergue uma das mãos grandes e pousa no rosto de Rose, fazendo-a fitar completamente seus olhares num só.

— Tem certeza? — questiona, Victor.

— Com toda a certeza. — Rose não deixa dúvidas, cola seus lábios desejosos nos do advogado, e juntos começam uma dança incansável para tentar aplacar o desejo que estavam guardando há um tempo.

O macarrão instantâneo secando naturalmente na panela, enquanto eles estão prestes a pegar fogo e seus sussurros são mais altos do que o ronco do cachorro dormindo no sofá.

A toalha que antes se encontrava na cabeça de Rose agora está jogada no chão em algum lugar, junto com a sua blusa.

— Precisamos continuar lá em cima. O Barry pode acordar a qualquer momento. — Victor aconselha, beijando o pescoço nu de Rose, enquanto ela puxa os cabelos escuros dele em agonia.

— A panela. — a mulher pronuncia-se agoniada e corre rapidamente para desligar o fogão.

Já de volta para os braços do advogado, numa só velocidade, Victor entra no cubículo de vidro que dá para o segundo andar com a mulher grudada ao seu colo.

Já no quarto, pacientemente e ao mesmo tempo numa ansiedade quente, e sendo a primeira vez que o cadeirante chega naquele ponto nesses anos de paraparesia, Victor explica para Rose como poderiam avançar para a segunda parte, como ambos podiam sentir o prazer, com a sua deficiência sendo um pequeno atalho na relação, mas que podiam trabalhar nisso juntos. Rose aprende rápido e como se já houvessem feito aquilo centenas de vezes conseguem se emaranhar em sintonia e prazer.

Juntos, entenderam que recomeços existem e que era necessário abraçá-lo. E Rose entendeu que para o enfrentamento da dor, era preciso encarar, não fugir ou tentar esconder.

Tudo pode ser superado, basta haver esperança e paciência, não existindo uma fórmula secreta, apenas uma forte dose de coragem, sendo capaz de catalisar o processo e assim possibilitar um recomeço.

Abraçando RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora