O Ninho Cego

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 Fazia menos de doze horas que nós três começamos a andar juntos, em direção ao Oeste, rumo à Portugal, onde Shinoshi partiria para o que chama de "Novo Mundo". Que nome idiota. Lá somente serve para escravos coletarem recursos para as capitais. Deus não abençoou aquelas Terras.

 Sobre a viagem, Jaime sempre apontava, questionava, tocava, tudo que via. Por sorte dela, nosso acompanhante estava disposto a responder suas dúvidas. Mas para mim, foi bem irritante. A conversa, no entanto, foi cortada quando avistamos uma fazenda cuja plantação estava arruinada. Fomos silenciosamente até a única estrutura inteira dentro do cerco, o celeiro. Ouvimos pessoas conversando. Batemos na porta. Rapidamente ficaram quietos. Um homem usando uma espada totalmente enferrujada abriu a porta apontando ela para mim, o desarmei com minhas próprias mãos enquanto Shinoshi derrubou no chão. Rendido, gritou:

 -Eu me rendo! Peguem seus tributos e nos deixem em paz! Por favor!

 -Espere, não queremos confusão. Eu disse tentando o acalmar.

 -É mesmo?

 -Sim. Nos diga, o que aconteceu com seu terreno? Perguntou calmamente Shinoshi.

 -Vamos entrar, por que os demônios podem retornar.

 Assim que entramos, vimos uma mulher escondida colocando suas mãos nos ouvidos de um menino. Do lado deles, objetos caseiros improvisados, desgastados, reaproveitados estão dispostos como se fosse uma sala. O homem conversava com sua mulher:

 -Está tudo bem. Pode soltar ele.

 Apesar da desconfiança da mãe, ela tirou suas mãos. Foi nesse momento que reparei que o filho era cego. Jaime se apresentou para o menino, que ficou animado em ouvir a voz de outra criança. O pai falou para eles brincarem em outro lugar e eles foram. Eu questionei:

 -Ele nasceu daquele jeito?

 -Sim. Disse a mãe se escondendo atrás do homem.

 -Por que o impediu de escutar a discussão?

 -Escute, nós preferimos que Timoté continue não sabendo de Nibiru. O fim está próximo, nós sabemos disso. E seria cruel deixa-lo sabendo que não haverá futuro.

 Após o pai falar aquilo eu parei para refletir por um momento. Esse garoto. Essa criança cega nunca viu nada. Não fazia ideia de que vivemos no apocalipse. Não havia dúvida em mim, ele era a pessoa mais feliz viva.

 -E quanto ao terreno? Questionou Shinoshi.

 -Os animais foram raptados pelos nibirianos, um por um. A cada ataque, nosso terreno foi piorando.

 -Mas com invasões constantes desse jeito, não houve nenhum guarda treinado para os proteger?

 -A aldeia próxima até tem guardas, até mesmo sabemos onde há o ninho das criaturas, mas eles simplesmente não vão atrás dele pois são corruptos! Só fazem algo se forem pagos! Por isso eu ofereci dinheiro antes. Explicou o pai.

 -Onde eles estão? O ninho e os guardas. Eu falei já indo em direção à porta.

 -Pelo que eu soube, o ninho está em uma caverna ao Sul. Já os guardas, vadiando na aldeia.

 -Irei resolver tudo.

 -Vou com você, Edgard. Senhores, cuidem da Jaime que já iremos voltar.

 Após subirmos no cavalo de Shinoshi, eu tive que perguntar:

 -Por que está vindo?

 -Além de ficar de olho em você, explorar uma caverna não é algo que se pode fazer todo dia.

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