O Rei De Nada

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 Chegamos onde uma vez foi a capital da França. Esse reino foi um dos primeiros a cair. Ela está em frangalhos, poucas pessoas nas ruas, e as que estavam claramente eram vulneráveis a qualquer ataque, seja humano ou não. Enquanto nos aproximávamos do palácio real, uma voz irritante ficava cada vez alto. Decidimos averiguar.

 Nos deparamos com o próprio Rei Luís XIV da França conversando sozinho. Na verdade, estava ordenando pilares de pedra em formato de pessoas a realizarem suas funções. Depois, ele diz dramaticamente:

 -Oh! Meu reino! Ele poderia ser o mais duradouro da Europa! Mas o Destino tomou ele de mim!

 -Mas que porcaria é essa que você está fazendo?

 -Cuidando do meu reino, não está vendo?

 -Seu reino não é uma pilha de pedras.

 -É tudo o que sobrou, Edgard Finn.

 -De onde você o reconhece? Perguntou Shinoshi.

 -O Bruxo Lanceiro, o Samurai Renegado e a Cria Nibiriana tem chamado bastante atenção por onde tem andado, embora eu tenha quase certeza de que muitas das notícias são mentirosas.

 -A Jaime não é cria de nibirianos! Eu disse derrubando uma das pilhas de pedra.

 O Rei olhou profundamente para a menina -que ficou assustada com meu gesto bruto- como se alguma memória crítica estivesse vindo à tona. E no silencio que ficou, alguns barulhos estranhos, talvez gemidos, vinham do subsolo.

 -O que é esse som?

 -É por isso que eu tenho que falar constantemente. Abafa os sons dos cultos.

 -Tem um culto logo abaixo de nós? Disse Shinoshi colocando os ouvidos no chão.

 -E que cara estranha foi aquela, Rei?

 -É melhor que a criança se retire...

 Seguindo as recomendações dele, pedi para Jaime do local. Ela me obedeceu sem questionar como o usual. Luís XIV sentou-se no trono empoeirado para dizer:

 -Teve uma família cuja mãe pertencia a etnia germânica e pai era francês. A mãe ficou prenha de um nibiriano e morreu no parto. Já o pai, perdeu a sanidade devido a isso e aquelas coisas no céu. A Igreja me pediu permissão para sentencia-lo à crucificação no mar de forma legal. A criança que o casal já tinha, se perdeu. Talvez ela seja a Jaime.

 Quando Luís XIV se distraiu por um momento, eu já estava com a Purificadora no pescoço dele. Creio que o rei nunca passou por isso pois se encheu de medo. Era óbvio que eu deveria fazer algo sobre isso. Eu o lembraria do dever do Rei:

 -Você é o rei, o escolhido por Deus para governar nas suas Terras. Então, cadê ele? Um rei governa, apaga seus inimigos do mapa para garantir mais um dia no trono. Não fica ordenando pedras a se moverem. Não se rende à Igreja por mais que devam andar juntos. Por hoje, não irei mata-lo pelo que fez com o pai da criança. Irei te ajudar a se livrar daqueles invasores no subsolo. Mas vou atrás de você se eu não ver mudanças, entendeu?

 Apesar do suor intenso, o Rei Luís XIV da França concordou. Fomos até onde Jaime ficou afastada admirando o palácio descuidado. Quando ela notou nosso retorno, parecia tão preocupada. E o olhar dela me impediu de contar a verdade. Fui fraco. Cheguei na conclusão de que ela não merecia saber aquilo.

 -Que cara é essa, Edgard? Nunca te vi desse jeito. Comentou Shinoshi.

 -Nada não, esquece.

 -Mas e o papo da verdade ser o caminho de Deus? Não vai fazer igual fez com Timoté?

 -Vamos dar uma olhada nesse culto para ajudar o rei.

 -Hipócrita...

 Eu ignorei o comentário dele. De qualquer forma, juntos, descemos cautelosamente as escadas iluminadas por tochas, as coisas ficaram bizarras, nos escondemos no canto mais escuro da sala. Um grupo de pessoas encapuzadas ao redor de uma mesa da qual havia um porco amarrado. Um dos membros mostrou uma faca afiada dizendo:

 -Que Deus aceite este sacrifício e fique mais próximo de nós!

 Sem antecipação, as tripas do pobre porco foram expostas. Os cultistas comeram dela. Felizmente, por já ter me deparado com essa situação antes, eu fechei os olhos da Jaime a impedindo de ver essa cena horrorosa. Após deliciar-se das tripas, o membro que o matou diz:

 -Vocês estão ouvindo?

 -O que, irmão?

 -Essa voz...não. São várias, mas são do mesmo lugar.

 Este membro, subiu as escadas com pressa em direção à superfície. Seu grupo foi atrás dele e nós também, mas ainda mantendo distância. O membro que escutava vozes olhou os céus apontando para um Colhedor do Caos dizendo:

 -Aquele! Aquele está falando comigo!

 De repente, esse homem começou a ter mudanças repentinas de humor. Desde risadas extravagantes, para dor, tristeza e raiva. Entretanto, durante uma das crises de risos, ele simplesmente desapareceu. Sem deixar nenhum vestígio.

 -Hamm, o que estávamos fazendo aqui mesmo? Disse um outro membro confuso.

 -Eu não sei. Talvez indo preparar um sacrifício para nos aproximarmos de Deus? Sugeriu um cultista. Como se nada tivesse acontecido, todos os membros do culto desceram para o subsolo.

 -Vocês viram o que eu vi?

 -Sim. Aquele homem desapareceu e foi esquecido. Edgard, vamos descer a acabar com isso.

 -Não vai ser necessário.

 -Como assim? Você não quer agir? Cada dia você pensa diferente.

 -Elesmesmos vão se matar, um a um. Estão em um ciclo e nem percebem...

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