Planeta Do Caos

A Origem Do Brilho

 Por fim, saímos da França e entramos no Território do reino espanhol. Nibiru estava do mesmo tamanho que a Lua, se não maior. Passávamos em uma vila muito, mas muito bonita. Até diria que ela estava completa, sem nenhum sinal de destruição. As pessoas nas ruas pareciam felizes e agindo em harmonia. Eu considerei estar no paraíso. Mas logo abandonei essa ideia tola. O paraíso só é possível com Deus.

 Percebemos uma fila enorme em frente à Igreja. Nós espionamos pela janela para ver o que havia de tão importante lá dentro. A fila era para admirar uma pintura de Salvador, logo abaixo dela, um berço que é beijado pelos visitantes. Tudo ficou claro para mim:

 -Salvador nasceu aqui!

 -Pelo visto, a imagem dele traz união. Comentou Shinoshi.

 -Alguém aqui tem que saber se ele realmente nasceu brilhando.

 -Infelizmente, Edgard, não vai ter tempo para você descobrir.

 Após a fala surpreendente, uma flecha de balestra foi disparada, mas por conta da nossa rápida reação, o cavalo foi atingido no pescoço e não nós. Ele morreu na hora. Foi no chão que eu pude ver quem era responsável por aquilo. Ela me ensinou a como lutar. Sem ela, teria morrido uma semana sozinho, no máximo.

 -Mestra Silver? Que diabos você está fazendo aqui?

 A Silver era ruiva dos olhos verdes; muito alta e musculosa; deve estar por volta dos trinta e cinco anos; carregava várias armas nas costas. Desde pequena, ela cuidava da fazenda isolada de seu pai doente. Sempre teve interesse para armas, e como ela tinha que defender as terras, ganhou muita experiência. Porém nunca saia para explorar o mundo. Quando meu pai morreu, eu vaguei sem rumo até que acabamos nos encontrando. Fizemos um acordo, ela ensinaria a lutar e, em troca, eu falaria como é o mundo exterior. Como vocês devem lembrar, dediquei-me somente a aprender em como usar uma lança por ser longa e precisa, como a Justiça de Deus cujo papel eu tenho que espalhar.

 -Eu nunca esperei que você se tornasse esse tipo de homem, Edgard.

 -Do que está falando, Mestra?

 -Eu li os jornais. Você matou os pais dessa criança e abusa dela. Também me desculpei com Salvador por ter ensinado você a usar essa arma. Disse para ele que eu mesma iria pagar pelo erro.

 Sem mais nenhum aviso, Silver disparou mais flechas. Mas eu esquivei ou as desviei com a Purificadora. Shinoshi pegou Jaime e usou o cavalo morto como proteção. Minha Mestra pegou dois machados de mão única para lutar comigo. No meio dela, diz:

 -Você me mostrou o que é o mau, Edgard. Disse que era tudo contra os valores da Igreja..., mas você está contra ela!

 Eu acabei fazendo uma ferida grande no olho direito dela. Silver ficou mais agressiva, mas não cega pela raiva. Ela conseguiu cortar minha lança, que outra hora foi dela. Sabia que sem a Purificadora eu não sei lutar tão bem. Porém eu não desistiria tão facilmente. Continuei firme.

 Lentamente, eu fui a superando. Encerrei a luta a enganando fingindo pegar na mão esquerda a metade da qual possuía a ponta afiada, sendo que a verdadeira estava na direita, atravessei a lâmina no pescoço dela:

 -Você...me superou...mas se eu não retornar com sua cabeça para Salvador...ele virá atrás de você novamente...ele irá salvar essa criança!

 Então, a Mestra Silver morreu. Apesar de apenas ter sido enganada, eu ainda tenho muito respeito por ela. Juntei as mãos dela no peito e fechei os olhos. De repente, percebi que havíamos chamado atenção, porém, uma senhora chegou falando:

 -Vocês são amigos do Salvador? Não acredito que ele irá retornar para cá depois de tanto tempo!

 A velha parecia genuinamente simpática. Até demais. Aproveitei para ver se descubro algo muito, muito, importante:

 -Sim. Essa mulher estava profanando a imagem dele. Senhora, poderia nos dizer se conhece Salvador?

 -Ah, mas é claro que eu conheço! Eu ajudei a mãe dele a parir, inclusive.

 -Jura mesmo? Ele realmente nasceu brilhando? Até mesmo Shinoshi quis saber se é verdade.

 -Sim. É verdade. Porém, jovens, é muito mais do que isso...

 -Por mais que eu esteja morrendo para saber, vamos para um lugar mais...privado. Podemos ir até a sua casa?

 A senhora nos recebeu com muita hospitalidade. Jaime adorou sua comida. Eu fiz questão de reparar minha lança o mais rápido possível. Não me sinto relaxado sem ela. A velha sentou na sua cadeira e diz:

 -A mãe de Salvador não era boa da cabeça, sabe? Ela, por vontade própria, entregou o corpo para aqueles demônios. Ahhhhh, e como a gravidez foi sofrida. O nascimento foi um evento. Viajantes de todo lugar queriam vê-lo, ou mata-lo. Para garantir uma segurança própria, os anciãos da Igreja o transformaram em um cavaleiro como nenhum outro e até mesmo deram seu nome. É uma história linda, concordam? No momento certo, ele vai destruir Nibiru...

 -HAHAHAHAAHA!

 Eu simplesmente não conseguia me controlar. Era maior do que eu. A verdade era hilária demais para não rir. Salvador era cria de nibirianos! Os tais anciões só se aproveitaram do acontecimento único de seu nascimento para usá-lo de ferramenta com o intuito de manipular mais gente! Deus, você é maravilhoso!

 -Me desculpem. Senhora, quem mais sabe disso? Eu disse após respirar bem fundo.

 -Só eu, jovem, por quê?

 -Por que você virá conosco!

...

 Eu usei as moedas que ela tinha, vendi o que valia alguma para comprar um cavalo novo com uma carruagem. A velha continuava dormindo com um bebê. Contudo, alguém gritava loucamente enquanto apontava alguma coisa no céu.

 Nibiru estava se movendo. Era sútil, mas estava aumentando e diminuindo em certas partes, além de se aproximar da Lua. O Planeta Escuro estendeu uma parte de si para engoli-la sem mais, nem menos. Shinoshi raciocinou:

 -De acordo com Lucien Newton, isso implicaria a vida na Lua...

 -Deixaisso para lá, temos muito a andar ainda.