Na sombra da yakuza - sakuatsu [tradução]

Capítulo 1

O mundo de Atsumu Miya era uma sombra projetada pela figura imponente de seu irmão gêmeo, Osamu. Na casa de Miya, o nome de Osamu ecoava com um brilho dourado, um padrão de louvor e expectativa que reverberava pelos corredores. Atsumu, em forte contraste, era a melodia invisível, um zumbido suave no fundo, sempre tentando encontrar seu lugar na música de suas vidas. Os olhos de seu pai se iluminaram de orgulho quando Osamu demonstrou sua maestria no combate corpo a corpo, a poesia letal de suas palavras e a precisão fria de sua mira. Os próprios esforços de Atsumu, por mais sinceros que fossem, sempre ficavam além do grande finale que Osamu compôs tão facilmente.

Crescer na sombra do brilhantismo do irmão era uma batalha constante, que fazia Atsumu se sentir inadequado e invisível. Ele se esforçou para imitar cada movimento de Osamu, para espelhar seus pontos fortes, para esculpir um espaço para si mesmo na tapeçaria do legado Miya. No entanto, toda vez que o olhar do pai caía sobre ele, era tingido com uma pitada de decepção, uma admissão silenciosa de que Atsumu nunca seria verdadeiramente o filho que ele queria. A distância entre eles aumentava a cada tapinha nas costas de Osamu, a cada aceno de aprovação que não vinha em sua direção.

A nota final que abalou a determinação de Atsumu foi o dia em que Osamu foi nomeado herdeiro da yakuza Inarizaki. Foi um momento que deveria ter sido um triunfo para ambos, mas o peso do sucesso de seu irmão era um laço em volta do pescoço de Atsumu. Ele sentiu a percepção esmagadora de que sempre seria o segundo melhor Miya, aquele que não se encaixava no molde que seu pai havia criado tão meticulosamente. O ar ficou denso com o cheiro do fracasso, sufocando-o até que ele não aguentou mais.

Na calada da noite, Atsumu escapou, com o gosto amargo nos lábios. Ele deixou para trás a prisão opulenta de seu lar, o abraço frio do favoritismo de seu pai e o irmão que, sem saber, se tornara seu rival. As luzes da cidade tremeluziam como estrelas distantes, acenando para o desconhecido, prometendo um futuro onde ele poderia escrever sua própria história, livre da sombra que o havia definido por tanto tempo. Mal sabia ele, sua jornada estava apenas começando, e a trama estava prestes a tomar uma reviravolta sombria e inesperada.

Enquanto ele corria pelas ruas labirínticas de Inarizaki, sua respiração embaçando no ar frio, um par de figuras corpulentas emergiu dos becos. Seus olhos, afiados como facas, o perfuraram. Antes que Atsumu pudesse reagir, uma bolsa preta foi jogada sobre sua cabeça, e mãos ásperas o içaram para a parte de trás de uma van indefinida. Seu coração batia forte contra sua caixa torácica enquanto o veículo rugia para a vida, levando-o para longe da única vida que ele já conhecera e para as mandíbulas da yakuza de Itachiyama. A mesma gangue com a qual sua família havia brigado por gerações.

Quando a bolsa foi arrancada, Atsumu se viu em uma sala mal iluminada, cercado por um círculo de rostos desconhecidos. No centro da sala estava um homem com cabelo preto e ondulado, duas pintas no lado direito da testa e um olhar penetrante que parecia cortar as sombras. Este era o líder deles, Sakusa, a própria personificação do inimigo que Atsumu havia sido ensinado a desprezar.

— Por favor — Atsumu engasgou, sua voz tremendo com uma mistura de medo e desespero. — Acabe comigo. Eu não valho a pena. — Ele pensou nos olhos frios e calculistas de seu irmão e na carranca desaprovadora de seu pai. Talvez a morte fosse uma doce libertação da dor de nunca ser o suficiente.

Sakusa, no entanto, ofereceu-lhe uma escolha que o pegou de surpresa.

— Você não precisa morrer, Atsumu Miya — ele disse, sua voz um estrondo baixo. — Você pode se juntar a nós. — Atsumu olhou para cima, as palavras ecoando em sua mente.

Juntar-se aos Itachiyama? O próprio pensamento era traiçoeiro, uma traição a tudo o que lhe fora ensinado. No entanto, ao observar a figura magra e imponente do líder, algo dentro dele se agitou.