Robin - Tayvis

take the moment and taste it

TRAVIS KELCE POINT OF VIEW
13 de maio, 2023
Kansas City, Missouri

Sabe o que Patrick me prometeu? Que esse show seria um momento mágico, que todos se divertiriam e que, acima de tudo, seria um momento tranquilo de conexão com a minha filha.

Repito, filha, o substantivo feminino, e tranquilidade.

Mas aparentemente o que o universo escutou foi: filho, no masculino - aquele que você abandonou ainda recém nascido, Travis! - e apreensão. Eu estava suando frio, transpirando por todas as partes do corpo e sentindo minha respiração, de pouco em pouco, se fechar.

Não julgo a promessa falha feita por Patrick ao me chamar para curtir a The Eras Tour com a Alison, afinal de contas, ele não tem ciência de que a popstar é a mãe da garotinha de cabelos loiros que carrega meu sobrenome - na verdade ninguém, além dos meus pais e meu irmão, sabe. Mas estaria mentindo se, dentro da minha cabeça, não o culpasse um pouco : afinal, se ele não insistisse tanto, eu estaria nesse exato momento deitado na minha cama, provavelmente desfrutando de um pote de sorvete de flocos, enquanto assistia algum filme bobo.

Claramente não era exatamente essa a situação que me encontrava. Ao contrário, andava em passos lentos até a entrava do vestiário, prestes a encontrar não apenas um pequeno admirador, mas também o meu filho.

Eu sonhava com Michael com uma constância que deveria ser alarmante, tinha devaneios vívidos sobre encontra-lo, passar os dedos por seus fios dourados e comentar sobre nossas milhares de similaridades físicas. Mas eu, no fundo, não imaginei que esse encontro fosse acontecer tão cedo - ou nunca, para ser totalmente sincero.

Não por falta de vontade, que isso fique bem claro, mas sim pelas circunstâncias de toda essa situação ridiculamente complicada: era mais seguro dessa forma, para ambos os gêmeos, então me acostumei a apenas engolir o meu orgulho.

O coração batia forte dentro do meu peito enquanto eu caminhava, o aroma do camarim fechado e recém limpo se misturando com a ansiedade que me consumia. Tecnicamente aquele era um encontro qualquer, com um garoto qualquer - mas para mim, era muito mais do que isso. Era meu filho, o menino que eu deixei para trás.

Ele não sabia que era o pai que estava indo ao seu encontro, ao contrário disso, para Michael eu sou apenas um famoso jogador de futebol, e por isso um misto de nervosismo e culpa me corroía lentamente. Como eu podia olhar nos olhos dele, sabendo que, de certa forma, eu havia falhado? Eu tinha tantas perguntas, tantas coisas que gostaria de dizer... Mas a verdade era que eu não poderia revelar nada que comprometesse o maldito segredo de sua paternidade: o que eu mais temia era que, ao fazer isso, eu arruinasse qualquer chance de conexão que pudéssemos ter no futuro.

— Você deve ser o Michael! — tentei disfarçar meus sentimentos negativos com um sorriso doce, vendo o menininho sentado em um dos bancos próximos à minha jersey.

Na verdade eu sabia exatamente quem ele era, sabia que sua cor favorita era o vermelho por conta do álbum da mãe, sabia que dormia com uma lamparina de dinossauro acesa até os sete anos porque costumava ter medo do escuro, sabia que quebrou a perna porque caiu da escada aos oito. Sabia tanto mas, ainda assim, o garoto era um completo estranho - em tese.

— Tra- Travis Kelce — os olhinhos verdes - tão parecidos com os meus, não pude deixar de notar - se arregalaram, um brilho de admiração surgindo em suas feições angelicais — Eu sou, tipo, muito seu fã!

Quando ele me encarou, foi como se o tempo parasse, e o sorriso inocente no rosto dele trazia à tona memórias que eu, por tanto tempo, tentei esquecer. Ele olhou em volta, um pouco inseguro mas definitivamente animado, e tudo o que conseguia sentir, além do estômago embrulhado, era o meu coração apertando. Era difícil ver aquele garoto que era metade de mim, e ainda assim, tão alheio ao momento.