Até logo

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          Meu novo humano retornou para nossa toca algumas horas depois que o corvo tinha partido; após me dar aquele alerta. Consigo trouxe um lagarto não mais vivo, que cortou, cutucou, furou, esvaziou e assou. Compartilhou comigo partes cruas e partes assadas. Enchemos o bucho em silêncio e dormimos tranquilamente naquela noite.

         Apesar de eu ter me gabado que não precisaria dele para comer (porque eu realmente nunca precisei de ninguém para isso e nem precisaria), olha... até que ele era um bom caçador e sustentou a nós dois sem reclamar. Só não posso me mal acostumar com isso, porque ele sabia deixar a carne de um jeito diferente do que eu costumava comer, aquela coisa de jogar no fogo era bom pra variar.

          Dessa vez eu acordei pela manhã antes dele, o dia ainda estava chuvoso e fechado, mas não tinha mais chuva desde a noite retrasada. Mesmo assim o tempo continuava úmido com um vento gelado e o chão encharcado, molenga e melequento. Ótimo pra ficar dentro do nosso cantinho, até porque não estávamos com fome ainda para ter que sair. Com sorte o tempo iria melhorar à tarde e poderíamos andar atrás de alguma coisa ou só ir esticar as pernas, escutar o cantar dos pássaros e olhar para o céu nublado um pouco para desentediar.

          Então, me espreguicei e voltei para meu soninho. Mas a minha ideia de ficar em nosso canto quieto foi por água abaixo não muito tempo depois entre um cochilo e outro. Uma barulheira lá fora fez com que ele se levantasse e me obrigasse ao mesmo; se levantou de forma como se já estivesse em alerta, quase caindo no chão, que ao contrário dele me espreguicei e bocejei sem entender muito bem qual motivo de tanto alvoroço — e dessa vez não era chuva como antes que nos chamava a atenção.

         Achei que ele fosse correr para a saída pra bisbilhotar o que era, mas não, correu em direção oposta para os fundos da nossa mini caverna de encontro com os sacos de coisas estragadas no canto, arrancando-os dali depressa como se soubesse do que se tratava a bagunça lá fora e que tivesse ali naquele canto algo que poderia resolver isso.

          Olhei-o atentamente tirando os sacos o mais rápido que podia e uma tampa de madeira mais fina que a da porta surgiu sob os sacos. Interessante, eu não tinha nem notado. A arrancou do lugar com um certo grauzinho de dificuldade, estava toda empoeirada e quase fundida ao chão de terra, devia fazer um certo tempo que não era removida e por isso lhe deu trabalho. Vi seu rosto distorcido de pavor quando por fim a retirou, olhos estalados a boca contorcida num arco para baixo apertado, olhou para onde ele tirou os sacos, depois para a saída e por fim acenou para mim. O som lá fora aumentava; eram vozes humanas e cascos de cavalo.

           Entendido! Me dirigi a ele e encontrei o que ele queria me mostrar, um buraco escuro e não muito agradável era o que a portinha escondia. Que surpresa interessante! Parecia pequeno, ele conseguiria vir? Devagar ele me empurrou para lá e desci, para meu alívio ele veio logo atrás sem ter problemas para se contorcer junto a mim. A tampa foi posta por ele novamente na entrada, nos deixando totalmente no breu, o que pra mim não era nenhum problema e pra ele também não foi (por incrível que pareça) pois o caminho era um só. Em frente. Não tinha como errar, mesmo sem ver.

          Se arrastou pelo túnel e fui junto dele, quase embaixo de seu corpo, visto que ele só conseguia transitar ali de quatro, assim como eu. O trajeto era todo debaixo da terra, uma passagem escavada e pouco utilizada pelo jeito, tinha alguns empecilhos, montinhos de terra, pedras, plantinhas crescendo, pedaços de raízes de algo que sairia mais a cima de nós na terra que batemos a cabeça, besouros e minhocas (que ele não me deixou pegar nenhum, ficava me empurrando para frente); até que alguns minutos depois o caminho se encerrou em outra tampa de madeira, essa parecia mais pesada e ele teve que forçar seu corpo contra ela para empurrá-la dali e tirar pra nos dar saída.

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