Alinhados

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Assim que Cross saiu do local, Error foi recebido por um curto período de silêncio, o qual foi quebrado por seu suspiro e por milhares de vozes falando no mesmo segundo. Tomou um instante até repousar a cabeça no pufe, sentindo o crânio sendo esmagado por aquela onda crescente de reclamações acerca da informação que lhe foi revelada.

Mal conseguia raciocinar o que deveria estar sentindo naquele momento. Provavelmente felicidade, correto? Afinal, "quebra-los" significava que as coisas aconteceriam mais rápido. Teria muito menos trabalho a fazer! Isso era bom... não era?

As órbitas dançaram pelas almas vermelhas no teto, apertando as pálpebras com força e trazendo as mãos em cada lado da cabeça para bloquear aqueles gritos reverberados pelo infinito.

Sua respiração entredentes se tornou acelerada, pesando seu corpo. ...Não estava sendo bom. Por que não estava sendo? Fiquem quietos, fiquem quietos! Me deixem pensar!

"Me deixem-... pensar!" - Rangeu os dentes. - "Eu não consigo... ouvir??"

Tentou ignorar aquilo com todas as suas forças, sentindo o corpo travar cada vez mais, gerando uma dor forte. Enfim, acordou com os ossos formigando, sem nem lembrar de quando adormeceu, percebendo que crashou durante o resto da noite.
A sensação de areia no canto dos olhos lhe dava motivo para crer que era a manhã de outro dia. Ou seja, nada interessante ou digno de sua atenção iria acontecer nas próximas horas, o que significava também que não teria como distrair a própria mente da primeira coisa que pensou, após seus olhos rolarem de um lado para o outro no branco vazio enquanto ainda despertava com o corpo mole.

"Ele não vai aparecer."

O destruidor cobriu o rosto com o braço após isso, sacudindo a cabeça para que aquele incômodo fosse embora.

Ainda podia escutar ao longe algumas vozes sussurrando pensamentos avulsos, os quais se espalhavam pelo lugar. Mesmo que não houvesse evoluído para uma briga conjunta de novo, continuava sendo um empecilho para que conseguisse raciocinar perfeitamente e, justo hoje, não conseguia ter total entendimento do que estava sentindo.
Após um bom tempo apenas encarando o nada e remoendo aquela resposta que seu "informante" lhe entregou, tentou desanimadamente retomar a ação que fazia antes do de preto e branco aparecer -enrolar seus fios azulados entre os dedos buscando formar algum desenho aleatório- em uma fraca tentativa de passar o tempo, porém não se sentia inspirado a continuar graças àquela cogitação estúpida que rondava sua cabeça: ter que olhar no rosto de Ink sabendo do ataque e imaginar como ele reagiria se soubesse de suas mentiras. "Ele não ficaria surpreso." era o que tentava se convencer. Afinal, por serem rivais, já mentiram um para o outro diversas vezes, tal como dois maníacos competindo quem seria mais traiçoeiro.
Só que, de todas elas, essa era a primeira vez na qual lembrava de se sentir ansioso. Não exatamente no sentido bom da palavra.

De qualquer forma, era uma cogitação estúpida e que nem sequer fazia sentido, já que, assim como sua mente fez questão de deixar claro desde que acordou: Ink com certeza não iria aparecer naquele dia. E Error não esperava que fosse o ver naquele dia. Não esperava que fosse o ver sorrir, que fosse ouvir sua risada irritante ou que fosse precisar escutá-lo divagando sobre algum tema aleatório de forma ininterrupta. Óbvio que não.
E por isso nunca se sentiu tão confuso quanto naquele instante em que ouviu tinta preta surgir do seu lado.

As vestes marrons com um toque de vinho, a faixa de tintas com apenas um frasco faltando e o pincel gigantesco empunhado. Aquele era Ink, sorrindo largo para si e com os olhos em amarelo.

- Error! Bom dia! - Ele cumprimentou. O som da voz do artista trouxe ao destruidor uma mistura de alívio com choque que mal conseguia expressar.

Precisou encarar aquelas estrelas brilhantes para se dar conta de que não havia recebido detalhe nenhum sobre quando o ataque aconteceria. Poderia ser agora. Poderia ser assim que ele desse um passo na sua direção.
Tudo o que fez foi o observar sem dar um pio, incerto do que dizer ou até de como se mover exatamente para que não entregasse que algo ruim iria acontecer. Pelo menos, essa sensação não foi suficiente para que deixasse de sentir certa gratidão de os sussurros terem cessado de vez, mas também não era um sentimento tão insignificante para que conseguisse fingir ânimo em seja lá que curiosidade o pintor estivesse tentando lhe contar.

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⏰ Última atualização: Oct 14 ⏰

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