Echo

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Mesmo que pouquíssimos dias tivessem se passado desde que começou com essa tarefa esquisita de ganhar a confiança de Ink, parecia já estar se acostumando com a inconveniente ideia de vê-lo aparecer no Anti-Void através de uma poça de tinta, lhe convidando rumo algum universo estranho para um passeio aleatório. E era justamente isso que estava aguardando acontecer nesse momento.
Como fora acordado pelo rei da negatividade naquela manhã e não conseguiu mais pegar no sono, agora se encontrava vagando calmamente pelo vazio a espera de que o outro o visitasse, vez ou outra em meio ao trajeto ajeitando com suas linhas os fantoches presos no teto ou realocando-os em uma nova ordem.

Sendo justo, não era como se tivessem combinado horários específicos para se encontrarem -em especial por viverem fora do espaço-tempo e mal conseguirem distinguir o hoje do amanhã- entretanto, seu relógio biológico insistia em dizer que o outro estava demorando demais, como se mesmo sem hora marcada Ink fosse capaz de se atrasar. Pelo visto, ser um incômodo realmente era um dom que o artista possuía de sobra, até mesmo sem querer.

Quando havia começado a se cansar da tarefa de arrumar suas marionetes, captou pelo canto do olho uma pequena mancha de tinta preta surgindo um pouco afastado de onde estava, dela crescendo uma figura a qual imediatamente reconheceu como Ink, esse que continha uma feição preocupantemente alegre em seu rosto. Já conseguia sentir sua paz se esvaindo só de olhar para ele e sua preocupação apenas aumentou quando ouviu ele começar a falar sem parar de modo completamente desconexo.

- Error! Você não vai acreditar no que eu descobri agora há pouco! - Foi como ele começou. - Assim que eu voltei de um universo em que eu estava de vigia, quero dizer, não exatamente de vigia, mas sim fuxicando um pouco ao invés de fazer meu trabalho, porém isso não vem ao caso, foi quando eu parei próximo a um rio e resolvi voltar para checar os outros Au's! E aí... - A partir daqui, o destruidor já sentia sua mente zunindo um ruído branco para ignorar seja lá o que ele estivesse dizendo.

Imaginou que já soubesse a causa de toda aquela empolgação eufórica logo no início do dia, afinal, havia dito que ele poderia o fazer perguntas e isso aconteceria hoje. É claro que o nível de serotonina que aquele artista sem-filtro exalava seria intensificado por qualquer coisa irrelevante que observasse ao seu redor e isso só se provou ainda mais verdade conforme ele continuava pulando de ânimo a sua volta enquanto repetia informações e acrescentava coisas nada importantes à narrativa que estava construindo.
Contudo, assim que o questionou precisamente sobre o que diabos ele estava falando, descobriu que seu ânimo na verdade possuía um nome um tanto... peculiar.

- Echotale? - Repetiu para o de castanho, cujo olhos brilhavam.

- Exatamente! - Juntou os punhos em frente ao peito. - Eu já queria que fôssemos para um lugar mais diferente dessa vez, algo tranquilo, porém que ainda fosse agradável e interessante! E foi então que eu percebi que uma antiga linha do tempo desse Au estava retornando à ativa para ser concluída, daí eu tirei a ideia!

Ele pôs as mãos na cintura orgulhosamente, provavelmente sentindo que havia acabado de apresentar a opção mais inovadora que o multiverso já viu. Tudo isso para apenas alguns segundos depois dar um riso de nervoso, murchando a postura.

- Parando para pensar, eu só presumi que "tanto faz para você" onde vamos, então escolhi sem te perguntar, mas... o que vale é a intenção? - Chiou a pergunta, erguendo as palmas uma para cada lado.

O destruidor revirou os olhos com fraqueza. A essa altura, não adiantava se preocupar com o lugar para qual Ink o arrastaria, até porque mesmo que o desse alguma sugestão contrária ele provavelmente iria esquecer, ou apenas escolheria priorizar aquela que lhe soasse mais animada. Embora, se tivesse que apontar uma preocupação, seria justamente essa: Ink era hiperativo. Elétrico. Temia que por ele apreciar locais desse mesmo feitio, quisesse o levar para um também, rodeado de pessoas, tumulto, caos... ou seja lá o que mais os seres extrovertidos gostassem. Entretanto agradecia que até o momento, nenhum desses havia cruzado a mente do artista. Ainda.

A New Truce - ErrinkOnde histórias criam vida. Descubra agora