01 - Mudança

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" Você está pronta? "

Era a mesma pergunta que o meu pai sempre fazia antes de mais uma mudança. Tudo isso era quase o mesmo, idêntico, não importava a hora ou o lugar.

Papai encostado na caminhonete em seu jeans e regata, cigarro na mão e fumaça no ar. O relógio tilinta em sua pulseira enquanto leva o cigarro aos lábios e observa a cidade.

Casa diferente para lugar diferente, mas sempre um pouco decadente, um lugar diferente de onde estava fugindo e pra onde estava correndo mas ainda sim o mesmo lugar de alguma forma.

Sempre muito pequeno e silencioso, mesmo na cidade ainda me sentia sufocada de alguma forma. Sempre com uma nova desculpa.

" O Arizona será melhor para nós, querida "

" Não há nada aqui para nós, temos que encontrar um trabalho melhor "

" Você vai amar a Califórnia "

Esse era o método de John McCoy. Sempre pronto pra correr, mala já pronta e um pé fora da porta enquanto me arrastava atrás dele, sempre com uma resposta.

Havia um mapa antigo em meu diário, algo que eu sempre carregava, agora mais pálido e esfarrapado do que antes.

Em verdes, cinzas e azuis desbotados, desenhava uma pequena linha de traços mapeando minha vida com caneta esferográfica, crescendo lentamente ao longo dos anos.

Louisiana para o Texas, depois para o Arizona. Uma breve estadia na Califórnia e depois para o Oregon... e agora para Washington. Pelo menos dessa vez, ele tinha uma desculpa muito boa.

Eu.

As cicatrizes ainda doíam friamente quando tocava meu pulso, reprimindo a dor com uma careta.

Portland, meu pai havia declarado, era um poço negro de crimes e tive sorte de não ter morrido naquela noite...
Desta vez as coisas seriam melhores. Era a mesma coisa também, John sempre prometia isso.

" Estamos na estrada de novo! Vai ser melhor querida, eu prometo. "

" Pra onde vamos? " - perguntei.

John sorriu, jogando o cigarro no concreto e esmagando-o com suas botas.

" Forks, Washington "

Um fio de tinta correu pelo mapa em uma linha torta de traços escuros, conectando o passado ao futuro. Na verdade, essa é a primeira vez que fico feliz em me mudar.

Antes era sempre tão repentino e eu sempre deixava algo para trás. Seja um amigo, um emprego que realmente gostei, um professor com quem aprendi algo.

Sempre tentei encontrar alguma coisa pequena pra me agarrar, não importa onde os caprichos do meu pai me levassem e isso sempre era tirado, uma e outra vez...

Mas dessa vez, não havia nada que me fizesse ficar. Portland foi infectada pelo terror, as memórias daquela noite ainda queimando.

Elas se espalharam como uma praga pela minha mente, destruindo tudo o que já apreciei sobre a cidade.

Eu estou viva.

Dolorida e paranóica, mas ainda viva.

Depois de três meses, meu corpo havia se curado, nada mais que uma cicatriz brutal deixada para trás. Mas minha mente permaneceu fraturada, pesadelos nunca cessando e a verdade sombria perpetuando sobre mim.

Ele nunca poderia saber.

Ninguém jamais poderia saber  a verdade daquela noite, inventando uma história boa o suficiente para que todos acreditassem.

Até onde meu pai e o resto do mundo sabia, eu fui brutalmente assaltada por uma mulher enlouquecida que nunca foi pega.

Dias depois fui encontrada nas ruas e levada para um hospital, viva. Isso foi o suficiente para os policiais, para o meu pai, para as boas pessoas de Portland, isso foi o suficiente para que todos acreditassem.

E então me tornei apenas mais uma vítima de mais um crime violento, não resolvido como muitos deles costumam ser.

Lembrando-me do papel que tinha que desempenhar, forcei um sorriso e coloquei o mapa em meu diário mais uma vez.

" Estou pronta ". A mentira escorreu docemente dos meus lábios.

Nos últimos meses, tenho me tornado muito boa em mentir, algo que não era comum antes.

Havia algo mais novo, bem novo pra mim pelo menos. O Ford Mustang GT Hatchback preto 1984, estava na garagem do meu vizinho há anos, tendo pertencido ao filho do casal de idosos.

A primeira coisa que fiz quando saí do hospital foi bater na porta e pedir para comprar o carro, oferecendo a maior parte das minhas economias por ele.

Uma boa parte do dinheiro foi para reparos, trabalhando no carro até que ele funcionasse novamente. E valeu a pena, especialmente agora.

Em vez de ficar amontoada na caminhonete frequentemente bagunçada do meu pai, eu fiz minha viagem sozinha, dirigindo meu próprio carro ouvindo minha própria música.

E isso foi suficiente.

Quando Portland desapareceu no espelho retrovisor, senti uma mistura repentina de emoções, a diferença gritante entre os dois era tão estranha pra mim.

Esperança.

A segurança chegou até mim pela primeira vez em muito tempo. Uma parte de mim espera que esteja deixando tudo para trás, pesadelos espalhados nas ruas e perdidos para sempre.

Talvez então eu pudesse dormir novamente e sonhar sem visões de sangue e monstro.



Talvez então eu pudesse dormir novamente e sonhar sem visões de sangue e monstro

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Somente Nosso Amor - Emmett Cullen Onde histórias criam vida. Descubra agora