[02] A última foto

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Protagonista: Danielle

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Danielle sempre amou fotografia. Era algo que a fazia sentir conectada ao mundo, capturando momentos únicos que, de outra forma, passariam despercebidos. Naquela noite de Halloween, Danielle decidiu que iria fotografar a cidade. As ruas decoradas com abóboras esculpidas, fantasmas de papel pendurados nas árvores e uma neblina fina que tornava tudo um pouco mais misterioso. Era a oportunidade perfeita para fotografar.

Ela colocou sua câmera a tiracolo e saiu para as ruas. Durante horas, Danielle caminhou pelos becos iluminados por luzes fracas, tirando fotos de vitrines decoradas e crianças fantasiadas correndo pelas calçadas. Mas, ao revisar suas imagens, algo a incomodou.

Numa das primeiras fotos, um vulto distorcido surgia ao fundo, quase imperceptível, como se estivesse espreitando na sombra. Danielle franziu a testa, achando que era um problema de exposição. Talvez um truque de luz ou apenas um reflexo. Ela continuou tirando fotos, mas sempre que parava para ver as imagens, o vulto estava lá, cada vez mais nítido e mais próximo.

Agora, ele não era apenas uma sombra. Parecia ter um rosto. Um sorriso sinistro que se distorcia em uma expressão de satisfação doentia. Danielle tentou ignorar, acreditando que sua mente estava pregando peças devido ao cansaço e à atmosfera sombria da noite.

Ela virou a esquina e apontou a câmera para uma loja abandonada, a luz pálida de um poste iluminando a fachada desgastada. Clicou. Quando olhou a foto, o vulto estava na janela da loja, com as mãos pressionadas contra o vidro, como se estivesse tentando sair. O coração de Danielle acelerou. Aquilo não era normal.

Tentando manter a calma, ela apagou a foto, mas quando voltou para a galeria, a imagem estava lá de novo. Mesmo depois de excluí-la várias vezes, o vulto reaparecia em outras fotos, em posições diferentes. Num momento, estava no fundo da rua; no outro, ao lado de um poste, e, depois, logo atrás de uma árvore onde ela havia acabado de passar.

O que começou como uma noite divertida e artística se transformou em um pesadelo. Danielle decidiu que era hora de voltar para casa, onde poderia descansar e revisar as imagens no computador, longe daquele clima de Halloween que parecia cada vez mais opressivo.

Mas, conforme ela caminhava para casa, a presença na câmera ficava mais intensa. O vulto não estava mais distante. Ele estava ali, próximo, sorrindo, seus olhos fundos e escuros refletindo a luz das ruas. Danielle se forçou a não olhar mais para as fotos, mantendo a câmera desligada e apertando-a contra o peito, como se pudesse se proteger.

Ao chegar em casa, trancou a porta e suspirou aliviada. Foi até o quarto, ligou o laptop e conectou a câmera. Talvez, se revisasse as fotos numa tela maior, pudesse encontrar uma explicação. Mas quando as imagens começaram a carregar, Danielle congelou.

As primeiras fotos apareceram normalmente, mostrando as paisagens e a decoração da noite. Mas então, uma nova imagem surgiu, uma que ela não lembrava de ter tirado: um close do rosto do vulto, tão perto que era possível ver os detalhes das sombras ao redor de seus olhos e o contorno macabro de seu sorriso. Seu coração quase parou. Ela tirou a câmera do cabo e a desligou, tentando afastar o medo. Mas a sensação de ser observada não desapareceu.

Então, a tela do laptop piscou e apagou. Danielle olhou para a câmera em suas mãos e viu, pelo visor, algo que fez seu sangue gelar: seu próprio reflexo, mas distorcido, com o mesmo sorriso sombrio que a figura carregava. Como um sussurro que veio de longe, ela ouviu a voz na sua mente, baixa e arrastada.

— Você não pode me apagar.

Ela largou a câmera, que caiu no chão com um baque surdo. Mas o visor ainda estava ligado. Quando ela olhou para baixo, viu a última foto tirada: uma imagem dela mesma, no exato momento em que largou a câmera, com a expressão de pavor estampada no rosto. E, ao fundo, uma sombra indistinta, quase uma silhueta, se projetava sobre ela, como se estivesse se preparando para abraçá-la.

E então, a câmera desligou, e a casa ficou em completo silêncio. Danielle se abaixou para pegar a câmera, hesitante, mas quando a tocou, sentiu uma onda fria percorrer seu corpo. O aparelho parecia pulsar em suas mãos, como se fosse uma extensão de algo vivo. E, antes que pudesse se afastar, a tela piscou uma última vez, mostrando o vulto, agora nítido, sorrindo para ela. Danielle soltou um grito e a câmera caiu no chão, rachando.

Desta vez, quando a câmera se desligou, as luzes da casa também se apagaram. No escuro, ela sentiu um frio gélido em sua nuca e um sussurro suave no ouvido:

— Eu estou aqui.

contos para (não) dormir 𔓕 newjeansOnde histórias criam vida. Descubra agora