Tempo

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Ignorar Noah no resort estava se tornando um exercício diário de autocontrole. 

O cara estava por toda parte, mas nós dois tínhamos chegado a um acordo silencioso: nos tratávamos com formalidade, quase como se nunca tivéssemos passado daquele ponto de troca de farpas e provocações. Às vezes nossos olhares se cruzavam, mas eu fazia questão de desviar rapidamente, como se fosse possível apagar aquele momento com um piscar de olhos.

Noah quase não aparecia mais no restaurante. Quando vinha, era só com a família, principalmente quando estava com sua mãe, Claire, que adorava a comida do lugar. E quando isso acontecia, eu não pensava duas vezes antes de pedir para alguém assumir a mesa. Era mais fácil assim. Menos tensão, menos tentação, menos... tudo. Só que, claro, isso não impedia minha cabeça de continuar rodando em círculos cada vez que pensava nele.

Estávamos no quarto — eu, Ana e Diego. Eu me sentia exausto, mas aquela exaustão que vem mais da mente do que do corpo. Os dois estavam jogados nas camas, conversando sobre qualquer coisa, mas, como sempre, Diego tinha aquele jeito de perceber mais do que eu queria que ele percebesse. Ele me olhou direto, com uma expressão séria que me fez revirar os olhos antes mesmo de ele falar.

— Hermano, você está triste. — Diego soltou, sem rodeios. Não era uma pergunta, era uma afirmação.

— Triste? — Fiz uma careta. — Estou só cansado, como todo mundo aqui.

Diego balançou a cabeça, impassível. Ele não ia deixar isso passar.

— Não é isso. Eu vejo como você fica quando está prestes a dormir. — Ele me encarou, com aquela calma dele. — Você parece sempre ter algo na cabeça.

Eu sabia que ele estava certo, mas, antes que eu pudesse dar uma resposta qualquer, Ana decidiu entrar na conversa.

— Diego tem razão. — Ana olhou para mim com aquele olhar travesso, mas que não deixava de ser direto. — Eu também percebo. E mais do que isso, eu vejo a troca de olhares entre você e Noah.

Senti meu estômago afundar. Ela sabia. Claro que ela sabia.

— Vocês dois gostam um do outro, isso é óbvio. — Ana cruzou os braços, com aquele sorriso que já estava me tirando do sério. — Mas são dois burros teimosos.

— Só gostar de alguém não é o suficiente, Ana — rebati, tentando parecer casual. Eu estava pronto para colocar um ponto final nesse assunto. — Eu e Noah somos de mundos diferentes. De países diferentes. Existe mais coisa contra do que a favor.

Ela riu. Riu da minha cara, como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo.

— Eu e Diego também somos de mundos diferentes, — apontou para Diego, que só observava. — Países diferentes, culturas diferentes. E, sinceramente? Nós adoramos isso. Faz a gente se completar.

Diego sorriu, com aquele jeito tranquilo de quem sabe que tem razão.

— Es verdad. O que vocês têm em comum importa mais do que las diferenças.

Eu queria rir da ironia daquilo. O que eu e Noah temos em comum, além de provocações e olhares mal resolvidos?

Suspirei, deixando a frustração falar mais alto.

— Não é só isso... — murmurei, mais para mim do que para eles. — Noah foi um idiota comigo. Eu não sei como reagir a ele. — A raiva que estava ali desde o início começou a subir à superfície. — Ele me faz sentir um turbilhão de coisas. Quando eu olho pra ele, meu coração acelera, minhas mãos gelam, minha boca seca... — As palavras estavam saindo antes que eu pudesse controlar. — E eu sinto raiva. E... e...

Ana me olhou, com aquele olhar de quem já sabia a resposta antes de eu terminar a frase.

— Paixão?

Eu me virei para ela, incrédulo. Neguei com a cabeça, rápido demais.

— Não. — O "não" saiu hesitante. Meio fraco, eu sei. E Ana percebeu. Eu tentei reforçar. — Não pode ser paixão.

Diego se inclinou, sua voz suave, mas cheia de convicção.

— Vocês devem ficar juntos, hermano. — Ele disse como se fosse a coisa mais simples do mundo. — Converse con ele. Esclareça tudo.

Eu me joguei para trás na cama, encarando o teto. Confrontar Noah? Era isso que eles achavam que ia resolver? Como se fosse tão fácil assim?

O quarto ficou em silêncio, mas as palavras de Diego ficaram ecoando na minha mente. Ficar junto de Noah? Conversar e resolver tudo? Era uma ideia tão simples que quase parecia ridícula. Mas, no fundo, eu sabia que o que realmente me assustava não era a ideia de falar com Noah. Era a ideia de finalmente encarar o que eu estava sentindo. E isso me deixava mais inquieto do que eu queria admitir.

Talvez eles estivessem certos. Mas, por enquanto, eu precisava de tempo.

O Idiota Americano - 2 (Continuação)Onde histórias criam vida. Descubra agora