O Idiota Americano - 2 (Continuação)

O show II

A música pulsava ao nosso redor, cada nota vibrando em meu peito como se fosse parte de mim. Estávamos no meio da multidão, cercados por pessoas que cantavam junto com Shawn Mendes, mas meu foco parecia flutuar entre Diego e Ana, que estavam abraçados ao meu lado, e Noah, que estava mais próximo de mim do que eu havia antecipado.

Diego e Ana estavam na famosa pose de casal, os braços de Diego ao redor da cintura dela, a cabeça dela repousando no ombro dele. Aquela imagem mexia comigo de uma forma que eu não esperava. Não era exatamente ciúmes, mas havia uma pontada de desconforto, como se algo estivesse fora do lugar. Talvez fosse a sensação de estar deslocado, a única pessoa sem alguém ao lado... até que percebi que não estava tão sozinho assim.

Virei meu olhar para Noah, e ele me olhou de volta. Foi rápido, um simples cruzar de olhares, mas havia algo ali, algo que me fez prender a respiração por um segundo. Não era só um olhar, era como se estivéssemos tentando decifrar o que estava acontecendo ao nosso redor... ou entre nós.

Afastei o pensamento e tentei me concentrar no show. Shawn Mendes estava arrasando no palco, cada música elevando a energia da multidão. As luzes dançavam ao ritmo da música, e eu tentei me perder nisso, deixar que a melodia tomasse conta de mim. Mas então ele começou a cantar "Mercy", e tudo mudou.

Era como se cada palavra da música estivesse destinada a mim, ou melhor, a nós. A letra falava de uma forma que eu nunca havia notado antes. Meu coração começou a bater mais rápido, e ao meu lado, Noah, que estava mais quieto até então, começou a cantarolar junto, sua voz baixa, mas clara o suficiente para que eu ouvisse.

"Please, have mercy on me, take it easy on my heart..."

Aquelas palavras ecoavam em minha cabeça, e cada vez que Shawn Mendes cantava, parecia que ele estava falando diretamente para mim, ou talvez... para Noah. Quando Noah se virou para mim, nossos olhares se encontraram de novo, e dessa vez, o que eu vi não era constrangimento. Era algo mais profundo, como se estivéssemos nos entendendo sem precisar dizer uma palavra.

Senti o leve toque da mão de Noah na minha, quase como um acaso, mas nada no que estava acontecendo parecia ser por acaso. Meu coração acelerou ainda mais, batendo forte no peito, quase sufocante. Noah repetiu o toque, mais intencional desta vez, e antes que eu percebesse, nossas mãos se entrelaçaram, os dedos dele deslizando suavemente entre os meus. Eu não tinha forças para resistir, e, para ser honesto, nem queria.

O calor da mão dele na minha parecia dissipar todo o desconforto que eu havia sentido antes. Era como se o mundo ao nosso redor tivesse diminuído, como se o show, a música, as pessoas, tudo tivesse se tornado um pano de fundo para aquele momento.

Senti a mão de Noah deslizar pela minha cintura, e eu me virei para ele, mais próximo do que jamais estivemos. Não havia dúvidas, não havia incertezas. O que quer que estivesse acontecendo entre nós, estava nos empurrando para frente, e eu estava pronto para me entregar.

— Você quer? — ele sussurrou, sua voz baixa, mas cheia de intenção, como se tivesse todo o tempo do mundo.

— Sim — eu respondi, quase sem forças, mas sem hesitação. Aquela palavra carregava tudo o que eu estava sentindo, toda a vontade, toda a certeza.

Então, nossos lábios se encontraram, e o mundo ao nosso redor desapareceu. Foi um beijo calmo, controlado, em sintonia com a música que ainda tocava ao fundo, como se cada nota estivesse alinhada com o ritmo de nossos corações. Não havia pressa, apenas um entendimento mútuo, uma conexão que eu nunca havia sentido antes.

Noah se afastou ligeiramente, seus olhos encontrando os meus mais uma vez, e por um momento, tudo pareceu certo. Estávamos onde deveríamos estar, fazendo o que deveríamos fazer. E naquele instante, no meio de uma multidão em um show que eu jamais esqueceria, percebi que algo havia mudado. E eu estava pronto para ver aonde isso nos levaria.