Chuva Noturna

Dragões das Trevas

Não sei se gritei essa frase quando acordei, mas sei que as bombas ainda caíam sobre as árvores ao meu redor. Contudo, eu não estava em nenhuma vala, e a floresta estava quente e úmida, bem diferente da floresta do Nepal.

Estaria eu na memória errada? Ainda não havia chegado à base secreta na neve do Alasca? Ou seria no Polo Norte? Sul?

Ah, por favor, Círculo Polar Ártico, não sou tão ingênuo assim. De qualquer forma, ainda estava alucinando, mas a dor concentrada na virilha apontava para as criaturas sanguinárias que estavam sugando minha vida aos poucos. Não sei se elas me ajudaram a despertar do pesadelo, mas sei que a dor era incômoda e que o barulho das explosões foi substituído por tiros que me alertaram. O combo perfeito para me tirar da ilusão de minhas memórias perdidas. Sanguessugas na virilha e tiros ao meu redor.

Explodi em um movimento brusco, indo em direção aos arbustos próximos e seguindo pelas árvores caídas, trepadeiras penduradas em paredões rochosos e seções de desafio selvagem. Cortesia das palmeiras espinhosas e das bananeiras dominadas por abelhas. As árvores ao meu redor pareciam responder à destruição dos tiros, que provavelmente eram disparados pelos marceneiros da Organização RE. Certo, o cenário era parecido. Tiros cortando árvores, inimigos armados e o risco de perder a vida, sempre batendo à porta do coração, fazendo o corpo se contorcer com o medo nos ossos e o frio na barriga. Ouvi a voz de meus companheiros, talvez a voz de Renato, e talvez a voz de Leon. Ele era bem calado, mas estava falando demais, e eu percebi que estava ficando louco. Iria ceder à alucinação? Mais uma vez? Eu não sabia, apenas continuei correndo até que uma árvore enorme que estava ao meu lado despencou e fez o chão tremer com o impacto. Logo depois, os tiros pararam de acertar galhos e troncos e passaram a atingir camadas duras de couro animal, couro de réptil. O barulho denunciou o novo alvo.

O chão voltou a tremer, e os mercenários começaram a gritar desesperadamente.

Não olhei para trás. Na verdade, não havia olhado para trás em nenhum momento desde que comecei a correr, mas tenho certeza de que eles estavam atirando e correndo, tentando diminuir a distância entre mim e eles. Mas, quando os gritos começaram, eles passaram a correr no sentido oposto, procurando a segurança da distância . E eles não estavam correndo de mim. Quando me perdi em um caminho sem volta, entre dois paredões rochosos enormes em uma saliência cortante, encarei a máquina selvagem que havia assustado meus perseguidores.

Um Dragão das Trevas? Acho que não. A descrição do biólogo criacionista sugeria um animal antes perfeito e que agora sofria dos efeitos do pecado. Isso seria verdade? Aqueles dentes enormes e as patas dianteiras desproporcionais ao tamanho do corpo apontavam para o pecado visível em sua manifestação pura. Ele estava coberto de lama, com algumas marcas em seu corpo. Era o mesmo que eu havia visto no rio lamacento e agora ele estava pronto para me enfrentar.

O ponto de vista mais assustador, a solução mais problemática e a perspectiva terrível de um animal aparentemente invencível que havia escapado do fundo de um rio de lama para me perseguir e me eliminar em meio àquela saliência estreita na rocha.

Mas eu não estava pronto para enfrentá-lo, e seus olhos vermelhos pareciam responder ao chamado da Organização RE, o Chamado da Destruição.

Call of Destruction, como eles chamam. No documento oficial da base do Alasca, o nome já estava grifado. Não sei por que me lembrei disso naquela hora; era uma informação irrelevante. Eu não conseguiria enfrentar a criatura sozinho, mas eu não estava sozinho. Meus inimigos se aproximaram novamente e se prepararam para a batalha contra a fera. Não sabiam que eu estava na saliência, pois seu principal objetivo era acabar com aquele bicho que ocupava seu ponto de extração.

O dinossauro estaria atrapalhando os planos dos mercenários e o helicóptero da Organização não poderia pousar enquanto a criatura estivesse presente. O monstro pré-diluviano foi atingido por uma rajada de tiros e dardos de controle, em seguida entrou em um estado de choque, graças ao efeito dos dardos, que direcionavam ondas vermelhas para o cérebro do Dragão das Trevas, que era apenas uma aberração genética ou ilusória. Por fim, a explosão do RPG-7 em uma árvore próxima assustou o dinossauro, que se afastou e desapareceu na floresta.