Chuva Noturna

A Preparação

Passamos a noite em um pequeno acampamento nas montanhas, perto da fazenda. O plano era chegar até o ponto de encontro, mas agora estávamos esperando, pois não precisávamos ter pressa. Estávamos seguros naquele lugar, escondidos e preparados, e o ponto de encontro agora havia se tornado um ponto de descanso. Nós comemos, conversamos e dormimos. Pelo menos tentamos dormir, porque estava extremamente frio. Tão frio que eu tinha que colocar as mãos dentro da calça para esquentar os dedos. Mas então meu amigo começava a ficar gelado também, e eu começava a reclamar.

São detalhes desnecessários, talvez, mas eu tenho que relatar isso para que você entenda o nível da situação.

Pela manhã, comemos e conversamos mais um pouco, e foi Renato quem puxou a conversa.

- Tive que fazer o relatório ontem. Eu nunca fico com essa função, porque me colocou nessa tarefa, Carlos?

- Pra você ir se acostumando. Pode ser que você seja o único sobrevivente dessa missão no Ártico. E então, quem vai fazer o relatório?

- Muito engraçado. Prefiro morrer na neve gelada do que ficar passando relatório pra sempre.

- É, morrer na neve gelada todo mundo quer, né? Mas e na neve derretida?

Leon cortou o clima azedo que Renato criou na conversa.

- Será que os caras da Red Eyes vão estar lá? No Ártico? Quer dizer, é claro que vão, mas será que vão estar em peso? Com muitos homens e muitas armas?

Paul perguntou.

- É uma base antiga da Sky Science. Eles podem estar lá, ainda tentando recuperar alguma coisa.

Tentei ficar calmo e transmitir confiança na resposta, mas não deu muito certo.

- E o Urso Polar 'Sangue de Neve', o que sabemos sobre ele?

Paul ainda guiava as perguntas, e eu as respostas.

- Não nos deram muita informação, mas as fotos pareciam bem assustadoras.

Eu estava me referindo às fotos colocadas na mesa da cozinha, na casa velha. Elas mostravam a localização da base antiga e também mostravam a criatura que vagava pela neve, protegendo as instalações abandonadas. Um urso polar de 7 metros de comprimento e 4 de altura, uma grande fera terrível criada pela organização bioterrorista mais temida do mundo. As manchas sangrentas em seu pelo branco criavam um contraste macabro, e o nome 'Sangue de Neve' parecia fazer bastante sentido.

A voz de Renato não ficou silenciada por muito tempo, e logo sobressaiu contra a voz de Paul.

- Absurdo! Querem nos colocar nessa missão maluca, mas não falam quase nada sobre o bicho que temos que matar. Falando nisso, se os homens da Red Eyes estiverem lá, eu vou apertar o gatilho sem pensar duas vezes!

Meu Deus, como Renato era insuportável! Essa última frase soava como uma grande provocação. Eu precisava responder de forma rápida e objetiva e precisava deixar claro que ainda estava no comando.

- Claro que vai, apertar o gatilho da M1B Shockwave. Caso contrário, vai ter que fazer o relatório de novo.

- Então você me passou essa função apenas para me punir ?

- Não é questão de punir, cara. Se foi você que matou, você que precisa contabilizar o abate no sistema. Eu apenas mandei você documentar o resto da missão no momento em que você foi relatar a morte do piloto

- Não faça isso de novo, cara. Eu sou bom com armas, não com relatórios. A parte do papel e caneta fica com você, não comigo.

Capítulo 3 :