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Dois dias se passaram e Toge não apareceu mais no ateliê, isso me faz pensar que talvez tenha soado ingrata por ele ter me dado o buquê e que não estaria aceitando ter sua amizade. Soltei um suspiro pesado enquanto me alongava após ter passado horas costurando.

Meu irmão não me falou sobre o que ficaram conversando durante a carona que lhe foi oferecida, mas ambos acabaram ficando amiguinhos bem rápido já que o tempo todo eles trocavam mensagem.

Ouço o temporal do lado de fora e tento novamente ligar para Yuta, no entanto, cai na caixa postal após o terceiro toque. Meu irmão não recebeu nenhuma das mensagens que eu enviei anteriormente e isso é estranho, já que ele a todo instante fica com o celular na mão.

— Pelo jeito vou ter que pedir um uber para ir para casa.

Abrindo o aplicativo, eu ouço a porta do ateliê ser aberta e meus olhos irem em direção a Makoto. Ele observava tudo ao redor com uma cara indecifrável e logo me encarou com as mãos no bolso.

— É aqui que você se esconde agora?

— O que você quer vindo até aqui?

— Vim te buscar, seu irmão precisou ir para o trabalho urgentemente e acabou comentando que não conseguiria te buscar.

— Ele sabe perfeitamente que não quero você próximo de mim — Minha voz acaba soando frustrada — Porque ele não me mandou uma mensagem avisando?

— Sei lá, talvez esteja em reunião — Deu de ombros já revirando os olhos — Para de birra, S/n, e aceita a minha carona. Você pode continuar me odiando, mas me deixa te levar para casa.

Cruzei meus braços querendo negar a carona, mas sei que pagaria uma nota no aplicativo de corrida. Cedendo, eu apenas peguei a chave da loja e caminhei para o lado de fora, fechei tudo e fomos até a garagem.

— Pensei que fosse recusar.

— Apenas me leve para casa — Coloquei o cinto de segurança enquanto o mesmo me entregava as minhas muletas.

Saindo do estacionamento, eu percebia que sem essa carona provavelmente eu sofreria para sair do ateliê, talvez iria até precisar dormir lá. Olhei para o meu celular e nada do Yuta, ele podia pelo menos ter me avisado do imprevisto, mas optou por apenas desligar o celular.

— Por quanto tempo continuara me odiando?

— Não sei, talvez eu leve para o meu caixão toda a raiva que você me fez ter.

— Eu não fiz nada demais — Deu de ombro.

— Me esconder do mundo e agir indiferente comigo é o que? — Paramos em um sinal enquanto iniciávamos novamente aquela discussão.

— Eu não te escondi do mundo, estava te protegendo!

— Me protegendo de que, Makoto? Parece que você esqueceu da forma que me virou as costas quando eu me machuquei no palco. Da maneira como você se distanciou quando o médico me avisou sobre não poder mais ser bailarina.

— E você queria que eu fizesse o que?

— ESTIVESSE DO MEU LADO!

— E EU ESTIVE! — O carro deu uma freada brusca quando começamos a dirigir em plena discussão e não notamos o cruzamento.

Encostando o carro próxima a calçada, ele desligou o motor e resolveu me olhar. Eu não queria que tivéssemos voltado para esse assunto, do jeito que ele explode fácil... Tem tudo para um de nós sair ferido e adivinhem? será eu.

— Pare de falar como se a sua vida tivesse sido mudada de uma hora para outra. Como se não pudesse fazer o que tanto amou.

— S/n, eu estou tentando me desculpar. Estou aqui te levando para casa não por remorso, mas em uma tentativa de mostrar que sou um cara legal.

— Makoto, o passado não pode ser apagado. Eu sinto que você ainda é o mesmo e que se eu desse uma chance para você, seria a mesma coisa de antes.

— Durante esse tempo você se relacionou com alguém? — Sua pergunta me pegou desprevenida — Me responde.

— Eu não tenho que te responder isso — Fui ríspida.

— Não, né? Está na cara que ninguém quer uma aleijada ao lado — Sua fala foi ácida, justamente para me ferir — Acha que eu não fiquei perdido também quando vi minha namorada completamente perfeita virar uma deficiente? Minha vida iria mudar também! Eu iria precisar me adaptar a você.

Após cuspir suas palavras de uma só vez em minha cara, foi então que ele se deu conta do que havia dito. Eu estava com a boca aberta sem saber como reagir, eu sabia que Makoto falaria merda se eu não retribuísse suas "boas" intenções. Dei um sorriso de lado já retirando o cinto de segurança e pegando minhas muletas.

— Que cara legal você é — Abri a porta imediatamente com ele tentando me impedir — Me solta.

— S/n deixa eu me explicar.

— ME SOLTA CARALHO! VOCÊ SEMPRE FAZ ISSO, VOCÊ SEMPRE MOSTRA ESSE SEU LADO MERDA.

Makoto me soltou assim que eu gritei e logo sai do seu carro, sem me importar com a chuva ou com qualquer resfriado que pudesse vir de brinde. Atravessei a rua usando minhas muletas enquanto me xingava mentalmente por não ter recusado, como eu gostaria de ter evitado tudo isso.

A chuva embaçando minha visão dificulta para me localizar e saber onde esta o ponto de ônibus, é final da tarde e a escuridão se faz cada vez mais presente. Piso em uma poça e quase caio por não ter notado o buraco, o barulho dos carros esta por todo lado, o trânsito parece caótico.

— Que inferno — Sem conseguir esconder a frustração eu começo a chorar, o frio esta se fazendo presente já que o vento que bate em meu corpo molhado arrepia cada partezinha.

Uma freada é escutada a minha frente e por reflexo eu fecho os olhos em completo pânico, para completar o pacote eu quase fui atropelada. Me seguro mais firme ainda nas muletas em uma tentativa de correr, porém meu corpo cansado esta quase desistindo e me deixando cair.

S/n? — Aquela voz baixa e calma... Eu sabia de quem era.

Olhando para o carro parado que quase me atropelou, Inumaki estava correndo em minha direção e imediatamente me pegando no colo. Eu chorava copiosamente totalmente desorientada pelo que ocorreu.

Me colocando sentada em seu banco, ele entrou no carro e puxou um casaco do banco de trás e me entregou.

Tira essa camisa molhada e coloca o casaco, não se preocupe, não irei olha-la.

— Toge... — Meus lábios tremiam de frio e o rapaz não poupou em aumentar o aquecedor — Você está sempre me encontrando.

Posso dizer que o destino esta mais a favor do que contra nós — Soltou uma risada e virou a primeira esquina

— O caminho da minha casa não é por ai.

Eu sei, estou te levando para outro lugar. As ruas principais estão inundadas, não tem como passar.

Sem dizer mais nada, apenas assenti. Me virei um pouco pro lado e retirei a minha camisa encharcada, coloquei o casaco moletom que me emprestou, notei que o mesmo ia até metade da minha coxa, então questionei se ele se importava se eu tirasse minha calça também.

Seu silêncio para mim foi uma confirmação, então com cuidado eu me permiti usar seu casaco como um vestido. Me encolhi no banco e fiquei quietinha soltando alguns soluços baixos.

— Obrigada... Obrigada por estar me encontrando... Eu nem sabia o que podia ter acontecido comigo.

Onde esta o seu irmão?

— Ele não recebe nenhuma mensagem minha... Meu ex me buscou no trabalho e eu fui idiota em aceitar.

É por isso que você esta assim?

— É... — Dei um sorriso fraco — aleijada e burra...

Não diga isso.

— É o que eu sou, Toge.

Vi Inumaki apertar o volante com certa raiva e logo soltar um suspiro pesado. Virei meu rosto para a janela enquanto a chuva continuava forte do lado de fora, me abracei fechando os olhos e cochilando.


SPEAK NOW | Inumaki TogeOnde histórias criam vida. Descubra agora