03 | Lily e Eleonor 🏁

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Lily pov's

Estou sentada no motor home da Ferrari, observando a movimentação frenética ao meu redor. Meu coração bate mais rápido sempre que vejo um dos carros vermelhos passar. Os mecânicos estão focados, ajustando cada detalhe para o treino livre.

Eu deveria estar focada também, mas meus olhos voltam para a tela vazia do notebook. Mais uma vez, Carlos Sainz não respondeu.

Essa já é a terceira vez que tento marcar uma entrevista com ele nesta semana. A primeira mensagem foi profissional, objetiva. A segunda, tentei ser mais descontraída, descomplicada. Na terceira... nem tive coragem de reler o que escrevi.

Era oficial, Carlos Sainz não queria falar comigo.

Ele dava entrevistas para outros jornalistas. Não deveria ser algo pessoal. Será que é porque tivemos aquele romance no verão? Será que ele ainda pensa nisso? Ou pior... será que ele não me leva a sério? Às vezes, me pergunto se ele me vê como uma jornalista de verdade ou apenas como a "filha de".

Respiro fundo. Talvez ele ache que só estou aqui por causa do Lando ou do papai... E, claro, isso pesa. Desde sempre, sinto o olhar do meu pai mais voltado para o Lando. Ele é o piloto, o prodígio da família, o que está carregando o legado. Eu? Eu sou a jornalista que escreve sobre eles. Às vezes me pergunto se meu pai sequer me vê. Não de verdade.

"Ele não faz por mal", repito para mim mesma, tentando justificar. Mas não adianta. O jeito como ele fala do Lando, com tanto orgulho, como se ele fosse a coisa mais incrível do mundo... E quando fala de mim? "Ah, a Lily também está por aí." Eu sou o "também".

Eu não quero ser o "também". Quero ser reconhecida pelo meu trabalho, pelo meu esforço. Não porque sou filha ou irmã de alguém.

Meu celular vibra, me tirando dos pensamentos que parecem sempre puxar para o fundo. Eleonor, claro. Minha melhor amiga, publicitária, e aquela pessoa que sabe exatamente como me arrancar um sorriso mesmo nos piores dias.

- “Você ainda está tentando arrancar uma palavra do Carlos?"- lê a mensagem. Solto um suspiro frustrado e respondo na hora:

“Sim. Ele vai me fazer implorar em público, só pode.”

Não passa muito tempo até que Eleonor apareça do nada no paddock, com um café na mão e aquele sorriso que sempre denuncia que vem piada pela frente.

- Eu sabia que ia te encontrar assim, com essa cara de quem tá levando um fora. E olha que já levei uns fora na vida, mas de piloto, amiga? Esse é novo -  ela solta, já se sentando ao meu lado. E, claro, eu não consigo segurar a risada.

- Eu devia ter escolhido outra profissão - digo, ainda rindo. -Imagina, estou aqui só tentando fazer meu trabalho, e ele me tratando como se fosse pessoal -

Eleonor balança a cabeça, com aquele jeito que só ela tem.

- Vamos ser realistas, Lily. Ele é homem. Eles são lentos. Você quer que ele responda rápido? Talvez se você perguntar 'qual sua cor favorita?'. Algo mais fácil para o cérebro dele processar - falou

Eu rio de novo, dessa vez com vontade. É sempre assim com Eleonor. Ela sabe me fazer rir até quando parece que tudo está desmoronando.

- Olha, não duvido que ele responda isso antes da entrevista - brinquei

- Por favor, faz isso. E me manda o print - ela sorri, e por um momento tudo parece menos pesado.

Mas mesmo com ela aqui, brincando e tirando sarro da situação, eu sei que o buraco é mais embaixo.

Não é só o Carlos. É o meu pai, essa sensação constante de não ser suficiente, de não ser tão importante quanto o Lando.

- Você sabe que precisa falar com ele, né?- Eleonor me lança um olhar sério, mudando de tom. - Sobre o seu pai, sobre como você se sente - me olhou séria

Eu balanço a cabeça. - Eu já tentei. Ele acha que eu estou exagerando, que é coisa da minha cabeça. Mas não é, Eleonor, eu vejo. Eu sinto. O Lando sempre foi o preferido, mesmo que ele não admita. Está ali, no jeito como ele fala, como ele tem mais paciência com ele...- desabafo de uma vez.

- Lily, eu te entendo. De verdade. Mas você vai ter que resolver isso com ele, ou isso vai te consumir.- ela suspira

E ela tem razão. Eu sei que tem. Mas como faço isso? Como faço meu pai entender que, sem querer, ele me machuca?

Por agora, eu preciso focar em outra coisa. Preciso conseguir aquela entrevista com o Carlos.

- E o que você vai fazer agora? Vai desistir do Carlos? - Eleonor pergunta, levantando uma sobrancelha.

Respiro fundo, tentando parecer mais confiante do que realmente estou.

- Vou tentar de novo. E se ele não responder... vou continuar tentando. Ele não vai se livrar de mim tão fácil.- falo determinada

Eleonor dá risada e me dá um tapinha no ombro. - Isso! Mostra pra ele quem é a chefe. Mas, por favor, se ele responder a pergunta da cor favorita, eu quero saber primeiro - riu

Dou um leve soco de brincadeira no ombro dela, mas o sorriso está de volta no meu rosto. Mesmo nos momentos mais difíceis, Eleonor consegue me fazer sentir que tudo vai dar certo. Pode ser que demore, mas eu vou resolver meus conflitos. Vou lidar com o Carlos, com o papai, com tudo.

Mas, por enquanto, um passo de cada vez.

Opposites ↯ Carlos Sainz Onde histórias criam vida. Descubra agora