Capítulo 5

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Quando Celina acordou naquele fim de madrugada, encontrou um par de olhos amarelos fitando-a intensamente. Mal tinha erguido o corpo ainda meio sonolento da cama e a coruja já fazia um sinal afobado com a asa na direção da porta, como se estivesse apressando Celina para a missão de levá-la à benzedeira do vilarejo.

— Meu Deus, quanta impaciência — ela murmurou, bocejando. — Ainda tenho que tomar café...

— Toma rápido — disse a garota-coruja, recém-transformada em humana, dando um susto enorme em Celina.

— Ai, que ódio, garota! Não me assusta assim! — ela exclamou num sussurro e virou-se para encarar a menina, mas recuou o olhar por instinto ao vê-la sem roupas mais uma vez. — Por Deus, veste alguma coisa! — E se levantou rapidamente para abrir as portas do guarda-roupa. — Aqui, pode pegar o que você preferir, eu não me importo.

— Por que você reage desse jeito quando vê um corpo humano sem roupa?

— Sei lá, eu só... Só não tô acostumada, é isso.

— Humanos são tão estranhos.

— Somos mesmo. Agora se veste logo e me espera aqui, vou pegar alguma coisa pra você comer também.

— Aceito besouros, grilos e...

— Vai ser só um pedaço de pão! — Celina bufou, e saiu do quarto a passos rápidos ao som das risadinhas da garota-coruja.

Quando voltou, trazendo também um copo d'água, quase não reconheceu a menina que deixara ali minutos atrás.

— Ficou largo — ela disse, mostrando o vestido azul-clarinho sem mangas que escolhera para vestir.

— É claro que ficou, você é magra — Celina respondeu, colocando o café da garota na mesa, admirando o novo visual dela. — Mas ficou bonito. Vai ficar ainda mais com um cinto. Espera, acho que tenho um aqui nessa gaveta. Ah, aproveita e pega os chinelos ali no canto, você pode ficar resfriada se ficar descalça nesse chão frio.

Celina não demorou muito para encontrar o cinto que procurava, então foi até a menina-coruja, agora devidamente protegida da friagem nos pés, e enlaçou sua cintura com o acessório. Assim que encaixou a fivela, olhou para cima, bem nos olhos dela, e disse, com um sorriso orgulhoso:

— Pronto, agora tá lindo.

— Ficaria mais bonito em você — ela respondeu, olhando nos olhos pretos abaixo dos seus, com um sorriso afetuoso.

As bochechas de Celina ficaram instantaneamente quentes e coradas e, de repente, ela desviou o olhar e deu dois passos para trás.

— O que foi? Não gostou do elogio? — a garota-coruja perguntou, confusa. — Eu realmente acho que...

— Eu gostei, sim, obrigada! — Ela tentava disfarçar a vergonha. — De verdade, obrigada. É que eu não costumo receber elogios, por isso fiquei surpresa, só isso.

— Que absurdo. Você é tão bonita. Parece a princesinha do meu acampamento, os machos todos ficam querendo ter filhotes com ela.

— E... E você, já achou um macho pra... er... ter filhotes? — Celina queria desesperadamente mudar de assunto.

— Não gosto de machos, só de fêmeas.

— Oh... — Celina ficou surpresa e finalmente conseguiu voltar a olhar para ela. — Então, é... Você é lésbica?

— O que é isso?

— É uma mulher que só gosta de outras mulheres.

— Ah, então eu sou, sim. Mas não sei se "mulheres" inclui também corujas fêmeas, então...

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⏰ Última atualização: Oct 26 ⏰

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