Cap II - Presente

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Quando finalmente abri os olhos, a luz do sol me cegou momentaneamente. O calor que me envolvia era intenso, como se eu estivesse sendo cozida em um forno. Enquanto tentava me orientar, percebi que Aisha e Kafele estavam acordados antes de mim, conversando em sussurros enquanto o aroma do pão fresco se espalhava pelo ar. O cheiro, embora reconfortante, me lembrou da realidade cruel que enfrentávamos.

Levantei-me e me juntei a eles. Aisha, com um olhar preocupado, segurava um pedaço de pão em suas mãos, no qual partiu ao meio compartilhando comigo.

A situação só vai piorar - disse ela, seus olhos sombrios refletindo a incerteza do futuro. - Hoje é o dia da grande celebração.

Então, agora sou um presente? - disparei, minha voz cheia de amargura. - Vão me entregar como se eu fosse um troféu para o faraó? Só isso? Eu nem deveria está aqui.

Aisha me olhou com um misto de pena e compreensão. Ela suspirou, mexendo a areia com os dedos, antes de levantar os olhos para mim.

Não é tão ruim quanto você pensa, S/n. Servir no palácio pode ser melhor do que muitos outros destinos por aqui — ela disse com uma calma que me irritava ainda mais. — Existem coisas piores...

Eu ri, um riso seco e sem humor.

Coisas piores? E o que pode ser pior do que ser tratada como uma mercadoria?

Muitas coisas — Kafele interrompeu, sua voz firme. — Acredite em mim. O deserto está cheio de destinos que você nem pode imaginar. Famílias inteiras que perdem seus entes queridos para a fome, a doença, a escravidão sem fim... No palácio, ao menos há comida, há alguma proteção.

Revirei os olhos, não conseguindo conter minha revolta.

Proteção? Que tipo de proteção eu posso ter sendo oferecida a alguém que mal me conhece? — Eu olhei para Aisha, esperando que ela dissesse algo mais convincente.

Ela hesitou, mordendo o lábio inferior.

Não sei da onde você veio S/n, mas aqui no Egito, é assim que as coisas funcionam. Não estou dizendo que é justo. Eu sei que não é. Mas, às vezes, temos que lidar com o que nos é dado. Pode ser que o faraó nem se importe com você. Talvez você seja apenas mais uma entre tantas outras e, de certa forma, isso pode ser bom. Não chamar atenção pode garantir sua sobrevivência.

Aquela lógica prática me deixava ainda mais frustrada. Eu não queria me esconder. Não queria me submeter a ninguém. Mas, aquele não era meu tempo, por um instante, havia esquecido. Nem direito de fala devo ter por aqui.

Sobrevivência — murmurei, mais para mim mesma do que para eles. — Sobreviver como uma sombra em um palácio de ouro.

Kafele, que havia permanecido mais quieto até então, se levantou de repente e olhou ao redor com uma atenção aguçada. Sua expressão ficou séria, quase conspiratória, como se ele estivesse prestes a revelar algo perigoso.

Escuta, S/n... — ele se aproximou, sua voz baixa. — Se o faraó aceitar você como presente, pode haver uma saída.

Eu o encarei, agora mais interessada do que irritada. Ele parecia estar se preparando para dizer algo importante.

Como assim, uma saída? — perguntei, com o cenho franzido.

Kafele olhou novamente ao redor, certificando-se de que ninguém estava nos observando ou ouvindo.

Existe um guarda no palácio, alguém de confiança — ele disse, quase sussurrando. — O nome dele é Jimin. Ele é de um grupo rebelde chamado SetMet, infiltrado no palácio por um plano maior. Se você conseguir se aproximar dele, pode ter uma chance de escapar.

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⏰ Última atualização: Oct 17 ⏰

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