Conheço muitos tipos de olhares, já observei uma cota deles enquanto eu crescia em ambiente hostil e lotado da pior nata da humanidade e isso, eu quero dizer... crianças.
As pessoas podem dizer que crianças são inocentes, uns anjinhos mas, pra mim sempre ficou claro, ninguém fere seus sentimentos pior do que uma criança.
E essa era a grande diferença entre mim e Miguel - meu gêmeo - ele estava disposto a perdoar as chacotas e xingamentos, disposto a esquecer as risadas e o distanciamento, disposto a se humilhar por um pouco de aceitação da sociedade ao nosso redor, mas eu não.
Eu vou bater tão duro quanto o soco que eu receber, não deixaria ninguém puxar o meu tapete sem mostrar o quão baixo eu posso deixar o seu chão. Vou abalar o meu oponente tão forte que vou desorienta-lo até que não sobre mais nada além de um pedaço de lixo sob os meus pés.
E deve ser por isso que estamos aqui - suspiro - talves eu tenha pego muito pesado e tenha atraído mais problemas que resoluções. Mas simplesmente me enervava ver Miguel fazer de tudo para se encaixar e ser abusado físico e emocionalmente e infelizmente não podíamos contar com a nossa mãe. Não que ela seja uma mãe ruim, para nós, ela é a melhor mãe do mundo. Porém, a cada dia que eu olhava para ela, parecia que a culpa me corroia por dentro.
Colaborem. Esse é o nosso lema.
Uma equipe?
Não sei bem em que parte mamãe achou que o fardo de responsabilidades era somente dela. Mas ela conseguiu. Trabalhar, cuidar de uma casa, criar dois filhos, passar por sobre a deficiência e trauma de Miguel, aguentar o meu temperamento e ignorar seu coração quebrado. Com o passar dos anos ela parecia estar desaparecendo sob os nossos olhos, definhando a cada mês - e eu não quero dizer apenas no peso.
E se o melhor pra ela fosse nosso afastamento mesmo? Pelo menos por um tempo? Mas nesse lugar? Estremeço, ignorando o ambiente frio que agora seria o meu quarto por alguns meses.
Isso não é uma escola, nem mesmo um reformatório. Por trás dessas paredes bonitas e sorrisos de simpatia, algo muito sombrio e quase... predatório se esconde. Preciso encontrar Miguel e saber o porque ele nos colocou nesse lugar. Miguel precisa aceitar sua condição. Os médicos disseram que não havia possibilidade dele voltar a andar. Na realidade - engulo em seco - o médico disse que nenhum cirurgião seria maluco de fazer uma cirurgia tão arriscada, mas e se ele tivesse encontrado algum sádico nesse lugar? E se houvesse alguém aqui que faria?
_Você é muito calada - minha anfitriã e nova colega de quarto me comprimentou ao entrar no quarto. Seu inglês tinha um evidente sotaque britânico e ela parecia sempre estar sorrindo, como se fosse natural ser feliz o tempo todo - Quando você estiver pronta, posso te mostrar o campus.
_Não obrigada - respondo ao me virar - Posso descobrir sozinha.
_Na verdade você não pode.
_Como é que é?
A ruiva segura a barra de sua saia evidentemente ansiosa com alguma coisa.
_Não posso andar sozinha pelo campus?
_Você pode - ela responde nervosamente - Mas primeiro preciso te mostrar os lugares que você pode ir e os que não pode, assim como os que você deve... evitar.
Nos encaramos por um longo momento. Acho que eu não havia captado bem, com o meu cérebro em narnia e tudo mais. _Olha, Valentina né o seu nome? Veja, acho que eu não entendi muito bem. Você está querendo me fazer uma recomendação ou essa é seriamente uma regra?
Observo os olhos de Valentina e encontro apenas medo me encarando de volta. Ótimo. É uma regra.
_Você precisa entender que aqui as coisas são um pouco diferente das escolas comuns.
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Herdeiros pelo Sangue
Teen FictionIsabela passou por muitos momentos difíceis em sua vida, mas nunca esperou que seu irmão - seu gêmeo, bondoso e inocente - fosse colocá-los em uma ilha na Coreia do Sul com ricos esnobes e estranhos! E como se isso não fosse problemas o suficiente p...