Prólogo | Um Suspiro Já Diz Muito

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𝐓𝐞𝐫𝐜̧𝐚 𝐅𝐞𝐢𝐫𝐚 - 𝟏𝟎:𝟐𝟎 𝐝𝐚 𝐦𝐚𝐧𝐡𝐚̃.

O sol iluminava Verade, e a brisa do vento era perceptível. Para a infelicidade do ruivo de olhos azuis, ele precisou levantar da cama ao sentir o cutucão de seu irmão.

Seus olhos se abriram.

— Bom dia! — disse o de cabelos verdes, balançando o braço do irmão.

— Sério isso? — O outro bufou. — Tá cedo demais, Torajo.

— Eu sei disso, mas é bom que, pelo menos, temos o dia inteiro para gravar e fazer as outras coisas — respondeu Torajo, sorrindo.

— Que merda. — O ruivo se levantou da cama, alongando as próprias costas. — Tá, agora sai do meu quarto. Vou me trocar.

— Tudo bem, só não demora muito. Eu sei que, às vezes, você volta a dormir de novo e...

— Vaza daqui, agora! — exclamou o ruivo, apontando para a porta.

Torajo, surpreso, apenas saiu de fininho, deixando o irmão no quarto.

O ruivo suspirou, tirando a própria camiseta e calça, e foi em direção ao guarda-roupa.

Ele pegou as roupas de dentro e começou a se vestir com suas roupas habituais. Sua expressão era de cansaço, com olheiras visíveis.

Ele desceu as escadas e foi até a sala, onde já estavam Torajo e a garota de cabelos azuis e olhos amarelos.

Então, ele se sentou no sofá e suspirou por um longo tempo, até que a garota se aproximou, sentando-se ao seu lado.

— Bom dia, Morajo — disse ela.

— Bom dia, Zulmi — respondeu Morajo pausadamente.

— Você está bem? Parece que não dormiu muito.

— Estou bem — respondeu, revirando os olhos.

— Tudo bem — ela acenou com a cabeça e se inclinou mais na direção dele. — Sabe, como está indo o remédio que te dei?

— Ah? O remédio? — Ele olhou para os lados. — Tomei, até que está indo bem.

— Que bom saber — respondeu Zulmi.

— Bom, agora só falta o Linn. Vocês se importam de esperar por ele? — perguntou Torajo, que estava com uma câmera na mão, andando em direção às escadas.

— Tudo bem! — respondeu Zulmi.

— Tanto faz — respondeu Morajo.

𝟏𝟏:𝟎𝟎 𝐝𝐚 𝐦𝐚𝐧𝐡𝐚̃

Algo estava estranho. Linn ainda não tinha chegado à casa de Torajo para começar as gravações. A primeira a perceber isso foi Zulmi.

— Ei, o que aconteceu com o Linn? — questionou ela, sentada no sofá.

Logo depois, Torajo voltou da cozinha para a sala de estar, segurando o celular.

— Gente, o Linn pediu uma semana de férias. O Azedo está doente e o Linn está cuidando dele — avisou Torajo.

— Sério? Nossa, o que o Azedo tem? — perguntou Zulmi, preocupada.

— Ah, ele disse que é febre. O Azedo foi brincar na chuva — respondeu Torajo, sentando-se ao lado de Zulmi. — Bom, pelo visto o Shorts de hoje será só nós três.

— Ah, sim. Então... vamos começar a gravar?

— Acho que sim. Vamos, Morajo? — perguntou Torajo, olhando na direção dele e vendo que estava encolhido no sofá. — Está tudo bem?

— Uhum — respondeu Morajo, com a cara emburrada.

— Mesmo? Você parece que...

— Eu estou bem, não enche o saco. Só não dormi muito! — ele suspirou, cruzando os braços.

— Morajo, você ficou dois dias sem gravar um único vídeo. Está acontecendo alguma coisa ou você está só sendo preguiçoso?

Ao ouvir Torajo se referir a ele como "preguiçoso", foi o suficiente para Morajo cerrar os olhos e puxar Torajo pela camiseta.

— Preguiçoso? Eu não dormi por causa do barulho lá fora, e você acha que eu vou estar completamente bem depois disso? Pensa bem antes de apontar o dedo e me chamar de "preguiçoso" — esbravejou Morajo, quase arrancando a gola da camiseta dele.

— Morajo! — exclamou Zulmi, pegando no braço de Morajo e o forçando a soltar Torajo. — Deixa de ser grosso, Morajo. Ele só fez uma pergunta.

— Exatamente, só fiz uma pergunta. Eu não afirmei que você é preguiçoso — complementou Torajo, visivelmente confuso e irritado, olhando para ele.

— Eu só estou cansado de vocês sempre pensarem o pior de mim, simplesmente porque se trata de mim! Estou cansado dessa porcaria! — exclamou Morajo, furioso, enquanto suas mãos afundavam e quase furavam o sofá.

— Morajo — disse Torajo —, isso não é verdade. Você só costuma fazer besteira quase sempre e...

— Até quando eu tento ajudar, acabo estragando tudo na cabeça de vocês. Fico me perguntando se, por acaso, eu simplesmente parasse de ajudar com os vídeos e toda essa besteira de YouTube...

— Então, se quer tanto parar de aparecer nos vídeos, tudo bem! Vai pro seu quarto dormir, já que é só isso que você sabe fazer ultimamente! — mandou Torajo, apontando para as escadas.

Morajo simplesmente se levantou do sofá e subiu para o quarto.

— Torajo — disse Zulmi, visivelmente desanimada —, não acha que pegou pesado com ele? Ele parece estar apenas cansado.

— O cara faz chilique toda vez que vai gravar. Aposto que ele está ficando sem dormir só para usar isso como desculpa — reclamou Torajo, inclinando-se para trás no sofá e bufando.

Enquanto isso, Morajo estava deitado em sua cama. Sua cabeça estava a mil, e parecia que sua mente inteira estava sendo rabiscada por uma grande caneta preta, rabiscando todos os seus pensamentos.

Quanto mais ele tentava pensar, mais sentia que sua mente ficava extremamente sensível ao que não se pode ver a olho nu.

"Eu só me lasco nesse negócio. Por que o Torajo nunca percebe o meu esforço? Por que eu sempre pareço ser rebaixado? Será que ele se acha melhor do que eu? Será que ele acha que eu sou idiota... será que ele acha que eu sou um maldito fardo?" pensava Morajo, seus pensamentos eram como facas atingindo pontos estratégicos.

"Estou cansado disso. Sinto que ser irmão dele é estar destinado a viver preso em uma sombra. Eu sou único, mas ele tira toda a minha originalidade e me resume a adjetivos que me marginalizam como um ser pensante. Eu detesto isso... odeio sentir que ele é melhor do que eu!" Mais pensamentos invadiam sua mente, vindo com ainda mais força.

"Não... ele não é melhor do que eu. Ele sempre vinha até mim quando precisava de ajuda, seja com o canal, seja para conselhos, seja para tudo! Mas ele é apenas um cara ingrato com quem sou obrigado a conviver, porque os inscritos miseráveis dele vão ficar perguntando por que eu sumi, sendo que essa falsa preocupação é apenas tola! Estou cansado disso... eu definitivamente estou cansado!" Morajo sentia sua respiração indo embora, quanto mais deixava sua mente divagar e seu rosto pressionado contra o travesseiro.

Até que, de repente, a porta de seu quarto se abriu.

— Morajo — era Torajo. —, se você vai ficar sem gravar, pelo menos vá tomar café.

Morajo levantou o rosto do travesseiro e, logo em seguida, olhou para Torajo.

— Eu já vou descer para comer.

— Tá, seja rápido. — Torajo fechou a porta, e só se ouviram os passos se afastando.

Morajo se inclinou e ficou sentado na cama. Sua mente estava cheia de pensamentos sobre o que havia acontecido e tudo o que tinha ocorrido. Ele estava cansado, tão cansado de tanta coisa, que simplesmente se sentia incapaz de continuar esperando por um milagre.

Pobre coitado, Morajo sempre foi tão marginalizado...

O Pesadelo Ainda Não Acabou - Mundo do TorajoOnde histórias criam vida. Descubra agora