Controle de Pragas

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 O carro estava estacionado a poucos metros da casa de shows, mas seus passageiros ainda não haviam saído. O motivo? Uma ligação. O telefone de Yehudah tocava incessantemente, incomodando os ouvidos de Rebeca, sua parceira de banda

— Vem cá... vai atender essa bosta não?

De todos os números... em toda a oligarquia... Ele tinha que trabalhar pros malditos dos Braga e dos Orlando. Se tornar um vampiro foi uma péssima decisão. Virar um faz tudo, a pior delas. Apenas queria ignorar, mas Yehudah sabia que quanto mais o tempo passasse, maior seria a cobrança.

— Boa noite, bonitinho... estava sem sinal?

Como ele odiava aquela voz.

— Dona Amanda, por favor, só vai direto ao ponto...

— Nossa, como você é apressado! Sua mestra não te ensinou etiqueta? Mas enfim, amenidades passadas... Tenho dois trabalhos para você.

"Com trabalhos, 'cê quer dizer limpar a sua sujeira, né?", pensou.

— Meu adorável irmão descobriu sobre minhas aventuras com aquele rapaz da boate. Então preciso que dê um fim nele.

— Ok, isso é fácil.

— Há! Mas com certeza. O outro trabalho também. Descobrimos uns insurgentes bem chatinhos incomodando a vizinhança. Vai lá e finaliza um dos líderes, Ele se chama Pedro alguma coisa... A! Pedro Barbosa!. Só uma mensagem simples, nada demais. — A garganta de Yehudah ficou seca.

Um breve silêncio. Rebeca, curiosa, olhava para Yehudah buscando alguma reação, mas ele não se moveu. Quieto, em um estado catatônico, nem mesmo reclamou quando ela pegou seu celular.

— Beleza Dona Amanda, ele vai fazer seja lá o que você pediu. Agora dá licença que tão chamando a gente pra passar o som.

— Diga que eu preciso de tudo resolvido ainda hoje!

E desligou na cara dela.

Yehudah permaneceu estatelado, agarrando o volante com tanta força que poderia quebrá-lo. Enquanto isso — além do olhar emburrado de Rebeca — as memórias voltavam igual balas disparadas contra sua cabeça. Aquele nome, aquela situação... se existisse um deus, nesse momento ele rezava para que não passasse de uma coincidência mórbida.

— Terra pra Yehudah! Acorda! Aqui, ela mandou uma localização no seu e-mail.

— Tá... eu tô indo agora, vou precisar do carro.

A careta emburrada mudou para uma interrogação. Rebeca apertou o rosto de seu companheiro, virando para olhar em seus olhos, não se surpreendeu com as olheiras, nem com a expressão entediada de sempre. Mas havia um ar de penitência, um prisioneiro indo em direção da forca, com a corda que ele mesmo amarrou no pescoço.

— Certo... não se atrase de novo. O show é meia noite, ouviu?

— Só faz um favor. Bate no Zé até ele esquecer o próprio nome.

— O nosso técnico de som!? Sério?

— Ele tava se engraçando com a madama e agora o Seu Orlando tá fulo da vida.

Apenas um suspiro de incredulidade. Rebeca acenou com a cabeça, saiu do carro carregando os instrumentos e fez questão de lembrar o horário do show. Ainda eram sete da noite, então Yehudah teria tempo para resolver tudo isso, afinal ele conhecia o centro da cidade como a palma de sua mão. Uma palma suja, decrépita, onde prédios coloniais abrigavam bancos e empresas multinacionais, com moradores de rua em suas portas aproveitando as cortinas de vento para aplacar o calor... mas ainda sim, era a sua "mão". Finalmente dando a partida no carro, Yehudah se despediu dela.

O Outro lado das BrumasOnde histórias criam vida. Descubra agora