A Profecia

Capitulo 2

Ao longo dos últimos dezesseis anos, a vida em Wonderland tinha retornado a uma rotina de festividades e celebrações, mas havia um peso muito sutil que pairava sobre a rainha Iracebeth e o vidente, um segredo que os mantinha sob vigília constante. A profecia não era uma lenda esquecida, mas uma verdade angustiante que parecia cercar o palácio como uma sombra disfarçada. A rainha, em um esforço para proteger suas filhas — Red e Bridget — da inevitável escuridão, fez um acordo: a verdade da profecia seria silenciada, seu fardo não seria conhecido nem mesmo pelo próprio sangue.

As filhas da rainha cresceram opinando sobre destinos e explorando cada canto do palácio enquanto maravilhas mágicas eram reveladas, assim como as histórias em que o perigo e a dor eram apenas ecos de um passado distante, mas que um dia ainda poderiam retornar.

No campo de treino do palácio, porém, os sons de aço contra aço quebravam a serenidade. Era um dia claro e ensolarado, as flores balançavam sob uma brisa suave, mas a atmosfera estava embebida de uma tensão palpável. Red, a mais velha, com seus cabelos vermelhos como a paixão e um espírito indomável, atacava com determinação, enquanto Bridget, iluminada por fios rosas e uma personalidade alegre, se esquivava e contra-atacava com uma graça inesperada.

— Aja rápido, Bridget! — Red exclamou, um sorriso travesso nos lábios enquanto a lâmina brilhava sob o sol.

Bridget se lançou para o lado, uma pequena risada escapando de seus lábios enquanto seus olhos brilhavam com determinação. Ela tinha a habilidade de encantar qualquer um com seu espírito jovial, até mesmo durante esses momentos de treinamento intenso. No entanto, Red era uma adversária feroz, e a competição entre as irmãs tornava o treinamento mais emocionante.

Em um movimento quase acrobático, Bridget girou suas pernas, tentando fazer Red perder o equilíbrio. No entanto, a irmã mais velha foi mais rápida e, com um golpe preciso, derrubou Bridget, fazendo-a colidir com o chão com um baque sonoro.

— Renda-se — Red falou, apontando sua espada para a irmã caída.

Bridget, deitada no chão, apenas sorriu — Quase ganhei essa vez! — A adrenalina ainda pulsava em seu corpo enquanto ela olhava para Red com uma mistura de admiração e brincadeira — Você deveria ter cuidado com essa lâmina afiada, Red! É quase como se você não quisesse ser desafiada por mim!

Red deu um passo para trás, afastando a espada e soltando um riso genuíno. As irmãs sempre souberam que, apesar da saudável rivalidade dos combates, o amor entre elas surgia de suas experiências. O que poderia parecer uma luta feroz na realidade era um jogo de respeitos mútuos.

— Você sabe que não dá para me vencer, Bridget. — Red estendeu a mão, um gesto que sempre fora comum entre elas — A batalha não é só sobre habilidade, mas também sobre força de vontade! E você, minha irmã, precisa se concentrar mais.

Bridget segurou a mão da irmã e se levantou, sua expressão ainda refletindo a alegria. Sorrindo, entregou um leve empurrão no ombro de Red. — É o meu trabalho acreditar que posso superar você! Estou melhorando. Você vai ver, um dia vou fazer você comer suas palavras! — Bridget respondeu, com um brilho de desafio.

— Pode ser — Red respondeu, piscando de forma travessa. — Mas até lá, mantenha suas guardas altas. Estamos treinando para um mundo que pode ser mais perigoso do que sabemos.

As duas irmãs voltaram a se preparar, as espadas girando em movimentos de combate ritmados. A atmosfera estava carregada de tensão, mas em meio a risadas e desafios, a gravidade da vida e das responsabilidades que as aguardavam fora do campo de treino parecia distante.

Contudo, no fundo de seus corações, as irmãs não podiam ignorar a atmosfera do palácio, que frequentemente era mergulhada em um silêncio pesado, uma inquietação que rondava os corredores em meio aos serviços e festas. A culpa e o medo estavam sempre presentes, mesmo quando as meninas brincavam entre si.