A Profecia

Capitulo 7

No dia seguinte, o sol mal havia despontado no horizonte quando o grande salão do trono de Wonderland já estava envolto em uma atmosfera de inquietude.

Os passos da rainha Iracebeth ecoavam pela sala enquanto ela andava de um lado para o outro, suas mãos entrelaçadas atrás das costas, demonstrando a tensão crescente. Ao seu lado, parado na penumbra das colunas de mármore, o vidente a observava com seus olhos profundos e antigos. Ele sempre estivera ali, desde que ela era jovem, a aconselhando em momentos de necessidade, mas dessa vez a questão era muito mais grave.

— Já são anos, tantas luas e só temos mais perguntas — murmurou Iracebeth, a voz carregada de frustração. — Há alguma maneira de evitar isso? — A voz da rainha cortou o silêncio, baixa, mas carregada de desespero contido. Ela não podia permitir que suas palavras fossem ouvidas por qualquer um, especialmente não pelas filhas.

O vidente, envolta em um manto de cores desbotadas, suspirou profundamente. Seus dedos longos e magros passaram por uma das inúmeras runas que cobriam o antigo livro em suas mãos. Ele havia examinado aquele documento profético inúmeras vezes, mas a resposta que a rainha Iracebeth procurava era a mesma de sempre: inevitável.

— Majestade, as profecias não podem ser desfeitas. Elas são um reflexo do que está destinado a acontecer— disse ele, sua voz rouca e arrastada, como o vento que sussurrava segredos por entre as folhas antigas. — Profecias são tecidas nos fios do destino, Majestade. Elas são como um rio, mesmo que mudemos seu curso, ele ainda deságua no mesmo oceano. Tudo que fizermos para tentar evitá-la apenas nos conduzirá de volta ao ponto de origem. A única coisa que podemos fazer é nos preparar para o que está por vir.

A rainha apertou as mãos com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Ela havia buscado durante anos uma maneira de salvar suas filhas desse destino cruel, estudando textos antigos, consultando sábios, vidente após vidente, e, no entanto, estava diante da mesma conclusão: não havia escapatória.

Iracebeth parou abruptamente, virando-se para ele com olhos ardentes de frustração e medo. A coroa de metal negro em sua cabeça reluzia a luz das tochas, lançando sombras irregulares sobre o seu rosto, o que a fazia parecer mais severa do que nunca. Ela não era uma mulher facilmente perturbada, mas a ideia de perder uma de suas filhas a consumia de uma maneira que nem as mais cruéis batalhas jamais haviam feito.

— Não pode ser! — ela insistiu, sua voz baixa, mas feroz. — Não vou perder uma de minhas filhas para essa maldita profecia. — Sua voz falhou por um breve momento, algo incomum para a imponente rainha. Ela inspirou fundo, recolhendo sua compostura antes de continuar. — Há algo que eu possa fazer? Alguma maneira de enganar o destino?

O vidente inclinou a cabeça levemente, seus olhos cintilando em um tom enigmático. Ele sabia que, no fundo, a rainha já conhecia a resposta, mas a dor de uma mãe era um peso que ele jamais subestimaria.

— O destino delas estão ligados ao de Wonderland, minha rainha. E as palavras da profecia... — Ele fez uma pausa, como se escolhesse cuidadosamente suas palavras. — Elas falam claramente. A chama que reluz brilhará em seu sacrifício final. Aquele que é forte e severo, a que brilha sobre a cor de uma chama... você sabe, rainha, que isso só pode se referir à sua primogênita. Aquele sacrifício é necessário para o bem de todo o reino. Sem ele, as sombras prevalecerão.

Iracebeth fechou os olhos por um breve momento, como se estivesse tentando bloquear aquelas palavras de sua mente — Red — sussurrou Iracebeth, o nome saindo de seus lábios como um lamento contido. A imagem de sua filha mais velha, sempre tão forte, com seus cabelos de fogo e olhos decididos, invadiu seus pensamentos. Iracebeth nunca havia duvidado da força de Red, mas esse destino? Não... Ela não poderia aceitar.