"Há coisas piores que a morte; viver entre pesadelos é uma delas."
Acordei de repente, meu peito subia e descia violentamente, e eu podia sentir o suor na minha nuca. A escuridão era quase absoluta, apenas a luz do luar que entrava pela janela iluminava meu quarto. Suspiro, sobrecarregada; novamente meu sono foi perturbado pelos meus sonhos. O mesmo sonho que tive em uma das minhas últimas noites em Hogwarts, porém, dessa vez, Tom estava parado em frente à enorme mansão, apenas observando, com um sorriso maligno no rosto.
O relógio posicionado em cima da pequena escrivaninha ao lado da cama marcava exatamente 03:33 da madrugada. Revirei os olhos, sobrecarregada. Eu era perturbada pelos meus sonhos desde criança; eles eram parte de mim e sempre estiveram presentes em minha vida. No início, eu apenas acordava assustada no meio da noite, mas, com o passar dos anos, as coisas foram piorando. Diversas vezes eu acordava com machucados no corpo, sem contar quando ele vinha me visitar. Depois que entrei em Hogwarts, os pesadelos diminuíram um pouco, mas, ultimamente, a frequência com que os tenho aumentado significativamente.
Ao lado do relógio, o grimório de capa preta, maltratada pelo tempo, estava posicionado. Meus sentimentos estavam confusos; eu não esperava tantas revelações em um só dia. Sento-me sobre a cama macia, com lençóis cheirosos, pego o pesado livro com minhas mãos pálidas e começo a folheá-lo. Suas páginas estavam amareladas, e seu conteúdo era escrito em uma língua desconhecida que provavelmente era protegida e só poderia ser decifrada com algum tipo de feitiço. Desenhos demoníacos e criaturas horrendas estavam espalhados pelas páginas. Mesmo sem saber interpretar as palavras, eu podia deduzir os diversos tipos de feitiços e poções. Feitiços de sacrifício, magia de sangue, maldições e até mesmo invocações. Que tipo de pessoas meus pais eram? Por qual motivo minha família tinha posse de um livro de feitiços das trevas? Quem era verdadeiramente Tom Riddle? Totalmente exausta de pensar em tantas coisas para as quais não teria respostas tão cedo, fechei o grimório, guardando-o dentro da pequena gaveta. Levantei-me da grande cama de casal, totalmente exausta, porém ansiosa e perturbada demais para voltar a dormir. Antes de sair do quarto, abri o enorme guarda-roupa embutido na parede e vesti, por cima do meu pijama branco de cetim, um casaco de pele preto e bem quente.
Ao abrir a porta, observei o grande corredor que agora estava totalmente escuro. Com minha varinha em mãos, murmurei o feitiço Lumos. Meus olhos arderam, desacostumados com a repentina iluminação. Vozes masculinas invadiram meus ouvidos ao descer as grandes escadas; a iluminação das velas da sala refletia pela pequena brecha da porta mal fechada. Normalmente eu não me importava com o que os outros faziam ou deixavam de fazer, mas, por algum motivo, a curiosidade martelava em meu peito. Por que o Sr. Riddle estava recebendo visitas tão tarde da noite?
Guardei minha varinha dentro do casaco; meus passos eram suaves e lentos, e agradeci mentalmente por estar calçando apenas minhas meias. Depois de agachar lentamente e posicionar meu olhar pela pequena abertura, meus olhos se arregalaram com a visão que tive, e por um momento esfreguei minha vista com as mãos, temendo estar presa novamente em meus sonhos. Três homens altos, vestidos com capas negras e máscaras que escondiam seus rostos, estavam no cômodo frio com Tom. Era uma espécie de reunião; Riddle estava sentado na maior poltrona, indicando a superioridade que provavelmente tinha em relação aos outros.
— Tudo ocorreu perfeitamente bem, meu Lord. Daqui a cinco meses, Azkaban estará em ruínas — um dos homens encapuzados disse.
— Garanta que tudo continue ocorrendo perfeitamente bem; afinal, eu não gostaria de perder tempo te punindo novamente por sua incompetência — respondeu Tom, maldosamente, com um copo de whisky na mão. — Até lá, estarei certificando que o ritual já tenha sido concluído — continuou.
— Tem certeza de que mexer com esse tipo de magia é uma boa opção, meu Lord? Mesmo que não seja o método perfeito, talvez seja melhor continuarmos com as horcruxes. É perigoso demais; temo que magia demoníaca seja demais até mesmo para o senhor — o segundo desconhecido disse, com receio transbordando em sua voz.
— Está duvidando do meu poder, Avery? Elas não são mais uma opção. Você viu o que a profecia dizia caso eu continuasse as usando — rebateu com ódio.
— De forma alguma, senhor. Apenas estou preocupado. Boatos sobre um novo bruxo das trevas surgiram recentemente pelos corredores do ministério — justificou-se.
— Boatos não são um problema. Em breve, meu exército estará estabelecido, e vocês serão os generais responsáveis por... — Riddle foi interrompido pelo único do trio que ainda não havia se pronunciado.
— Meu Lord, temo que nossa conversa esteja sendo observada — disse o homem. Meu coração acelerou, e eu reconheci automaticamente a voz de Abraxas, que agora não soava tão gentil. Os quatro entenderam o recado e observaram a porta. Naquele momento, me arrependi de ter bisbilhotado e não ter sido uma boa garota. A voz de Margaret, a cuidadora das crianças do orfanato, ecoou na minha cabeça.
"Se você não for uma boa garota, Olívia, ninguém nunca vai amá-la."
"Por isso você nunca foi adotada, ninguém gosta de garotas estranhas como você."
Lembrei-me da vez em que fui pega comendo pão escondida antes do horário. Como punição, tive que ficar ajoelhada sob as pedras do quintal durante toda a madrugada enquanto chovia.
"É isso que vadias egoístas como você merecem, Olívia."
Minhas mãos suavam frio, o ar faltava em meus pulmões. Levantei-me e subi as escadas correndo o mais rápido que pude. Meus pés deslizavam por conta das meias, e eu pedia mentalmente para que não fosse pega. O que Tom acharia de mim? Ele passaria a me odiar? Desistiria da minha adoção?
Não.
Não.
Não.
Eu seria uma boa garota, eu prometo. Por favor, não cometerei erros novamente. Após fechar a porta do meu quarto, deslizei minhas costas lentamente e só então notei as lágrimas inundando meu rosto. Minha respiração estava desregulada, e meus pulmões ardiam. Se acalma, Olívia, respira, respira.
Abracei meu próprio corpo, numa tentativa de me auto consolar. Lentamente, minha respiração foi se regularizando, e meus olhos ficaram cada vez mais pesados, até que adormeci.
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𝐌𝐄 𝐀𝐍𝐃 𝐓𝐇𝐄 𝐃𝐄𝐕𝐈𝐋 | 𝐓𝐎𝐌 𝐑𝐈𝐃𝐃𝐋𝐄
FanfictionEm um mundo onde a linha entre luz e escuridão é tênue, Olivia Blackwood, uma jovem bruxa de 18 anos, carrega o peso de um legado amaldiçoado. Criada em um orfanato após a tragédia que dizimou sua família, Olivia se vê sozinha no mundo. Quando Tom R...