Náufrago

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Uma vez
Fui o nobre sol de uma nação
Luzes em minha direção
Do alto de um castelo de ilusão
Tochas, forcados, armas e canhões
Socos, chutes e empurrões
Fortes contra os portões
Eles tentaram me alertar

"Reze pela vida, impostor
Apenas os deuses podem lhe salvar
O sal dos sete mares será o seu amargor
Você nasceu para naufragar"

Uma vez
Fui fugitivo
Fiz desvios 
Pelas docas
Pelas cargas
Até o navios
Fui clandestino
Forasteiro
Criminoso bucaneiro
Navegando secretamente
Em agitação
Pancadas marinhas
Enfurecidas
Contra a madeira da embarcação
Insistentes
Elas tentaram me avisar

Então, uma vez
Andei na prancha
Um invasor condenado
Gritos abafados
Jogado aos tubarões
Morte certa
Torci para que fosse breve
Mas despertei aqui
Vivo, nesta praia deserta
Sinalizações
Mensagens em garrafas
Nunca abertas
A se desfazer
Antigas tripulações
Submersas na areia
Eles tentavam me dizer

"Reze pela vida, impostor
Apenas os deuses podem lhe salvar
O sal dos sete mares será o seu amargor
Você nasceu para naufragar
O mundo que você descobriu
Possui fúria ardente
Ele irá devorar o mundo dos homens
E não restará nenhum sobrevivente"

Adentrei a densa e escura selva
Vi coisas que jamais imaginaria
Estive conversando com pedras
Matei o "eu" que não sobreviveria
E o joguei às feras

Fico a voltar à mesma praia vazia
Canto antigas melodias
Como uma ponte
O último resquício
Da vida que deixei no horizonte

Porque eu rezei sem fé como um impostor
Só os deuses puderam me salvar
O sal dos sete mares foi o meu amargor
Eu nasci para desertar
O mundo que eles feriram
Me envolveu com fúria ardente
Eu sou a lenda dos viajantes
Eu sou o sobrevivente

LucasOnde histórias criam vida. Descubra agora