3- Cicatrizes invisíveis

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O dia seguiu de maneira tranquila, e Kirishima cumpriu sua promessa de cuidar de Bakugou, se mantendo atento a cada detalhe. Ele sabia que o orgulho de Bakugou tornava essa situação delicada, mas a preocupação que sentia pelo amigo superava qualquer desconforto que pudesse surgir durante suas ações. Ao longo do dia, se certificou de que Bakugou tomasse os remédios corretamente e preparou uma refeição simples, algo que o loiro comeria sem reclamar, mesmo que não estivesse com fome.

Entre pequenas conversas e momentos de silêncio, Kirishima não forçava nada. Ele sabia que Bakugou odiava ser tratado como alguém frágil, e por isso, tentou manter a atmosfera o mais casual possível, mas sem deixar de lado a preocupação. A todo instante, seus olhos discretamente verificavam se havia sinais de alguma crise se aproximando.

Em um momento, enquanto lavava a louça, Kirishima percebeu que Bakugou havia desaparecido da sala. Ele chamou pelo amigo, mas não obteve resposta. Preocupado, caminhou até o quarto, aonde a porta estava apenas entreaberta.

— Bakugou? — Kirishima chamou com cautela, batendo levemente na porta antes de empurrá-la. Ao entrar, encontrou Bakugou de costas para ele, sem camisa, claramente no meio de se trocar.

Kirishima estava prestes a se desculpar e sair rapidamente quando seus olhos captaram algo que o fez parar. O corpo de Bakugou estava coberto de cicatrizes e cortes — alguns já cicatrizados, outros ainda frescos. Kirishima percebeu que alguns poderiam ser resultados dos treinamentos intensos de suas aulas de ginástica, mas outros... outros eram diferentes. Profundos, desajeitados, marcas de alguém lutando contra algo muito maior do que apenas desafios físicos.

Bakugou congelou ao perceber que Kirishima estava parado ali, olhando para ele. Por um instante, o silêncio tomou conta do quarto, pesado e cheio de tensão. Kirishima sentiu o ar escapar de seus pulmões ao entender o que realmente estava vendo.

— Kirishima, sai daqui — Bakugou disse com a voz tensa, o tom duro, mas tremido, tentando esconder o embaraço e a dor. Ele puxou uma camiseta rapidamente para cobrir o corpo, mas Kirishima não se moveu.

— Bakugou... — Kirishima murmurou, a voz cheia de um misto de tristeza e preocupação. — Isso... você...

Bakugou virou-se bruscamente, raiva cintilando em seus olhos.

— Eu já disse pra sair, droga! — ele gritou, sua voz forte, mas claramente tremida.

Kirishima se aproximou, mas manteve uma distância respeitosa. Ele podia ver a vergonha nos olhos de Bakugou, o orgulho machucado, e a vulnerabilidade que ele tentava desesperadamente esconder.

— Você não precisa esconder isso de mim, Bakugou — Kirishima disse, mantendo a voz calma, mas firme. — Eu tô aqui pra você. Sempre estive.

— Não... isso não é da sua conta, Kirishima! — Bakugou respondeu, se virando de costas novamente, como se isso pudesse afastar o olhar do ruivo atrás de si

Kirishima suspirou, sua voz baixa e cheia de sinceridade

— Você acha que pode lidar com tudo sozinho. Eu entendo isso, de verdade. Mas ver isso... essas cicatrizes... me mostra que você tá carregando muito mais do que deveria. E você não precisa fazer isso, Katsuki. Não sozinho!

Bakugou ficou em silêncio por um longo tempo, os punhos cerrados. A raiva começou a se dissipar, deixando espaço apenas para o cansaço e o peso que ele estava carregando. Finalmente, ele falou, a voz baixa, quase um sussurro.

— Eu... Eu não sei como parar.

Kirishima deu um passo à frente, aproximando se sem invadir o espaço do loiro

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