4- O Peso de uma taça vazia

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A noite já estava começando a cair quando Kirishima decidiu iniciar uma conversa que estava engasgada há tempos. Ele sabia que precisava abordar o que acontecia entre Katsuki e seu ex namorado Izuku, algo que sempre pairava sobre a cabeça do loiro como uma sombra. Aquele telefonema de Izuku havia trazido à tona emoções que Bakugou claramente não estava pronto para lidar, e Kirishima sabia que o momento de confrontar isso seria agora.

Ambos estavam sentados no sofá, o silêncio preenchido apenas pelo som do vento lá fora. Kirishima se virou para Bakugou, cuja expressão era uma mistura de exaustão e frustração. As cicatrizes ainda expostas sob a camiseta meio aberta refletiam o caos interno que ele estava enfrentando

— Bakugo, a gente precisa falar sobre o Deku — Kirishima começou, a voz baixa, mas firme. — Eu sei que isso não é fácil pra você, mas… eu acho que essa relação está te afetando de maneiras que você nem mesmo consegue suportar

Bakugou o encarou, o olhar endurecido como sempre, mas com uma ponta de cansaço que Kirishima reconhecia bem. Ele hesitou antes de responder, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado e destreza

— Não tem o que falar. O que aconteceu, aconteceu. Ele seguiu o caminho dele, e eu… o meu. Simples assim, Kirishima.

Kirishima balançou a cabeça, discordando.

— Não é tão simples assim, e você sabe disso. Toda vez que o Deku entra na conversa, ou até mesmo quando ele te manda uma mensagem, você muda. É como se ele ainda tivesse um controle sobre você, mesmo que você não queira admitir algo assim

Bakugou franziu a testa, a raiva começando a crescer, mas Kirishima continuou, sem se intimidar

— Eu sei que você é orgulhoso, e não gosta de depender de ninguém. Mas… Bakugou, e se você tiver ficado dependente de tudo o que vocês viveram juntos? De todas aquelas situações, aqueles momentos em que, de alguma forma, você e ele estavam sempre conectados? E agora que tudo isso acabou, que a realidade de vocês não é mais a mesma, você não sabe como seguir em frente...

Bakugou abriu a boca para retrucar, mas as palavras de Kirishima acertaram um ponto sensível. Ele fechou a boca novamente e desviou o olhar, fixando os olhos no chão. O silêncio se arrastou por alguns segundos antes que ele falasse, em um sussurro.

— Talvez… eu tenha ficado preso a tudo isso. Mas o Deku… na realidade de vida dele, eu nunca fui realmente aceito. Sempre fui aquele que o pressionava sobre isso de certa forma, que o empurrava. E isso… isso me machuca mais do que eu gostaria de admitir.

Kirishima viu a dor no olhar de Bakugou, algo profundo, uma ferida que ele escondia com todo o orgulho e agressividade. Ele sabia que era difícil para o amigo admitir qualquer tipo de vulnerabilidade, ainda mais quando se tratava de Izuku.

— Eu entendo — disse Kirishima, com gentileza. — Mas, Bakugou, você não pode continuar se segurando nessas memórias, tentando manter ele por perto de alguma forma. Isso só vai te machucar mais, porque, como você disse, a realidade de vocês nunca foi a mesma. E tentar segurar algo que já se foi... isso vai te destruir

Bakugou ficou em silêncio, suas mãos apertando os joelhos com força. Ele estava claramente tentando processar as palavras de Kirishima, mas o peso da verdade era esmagador. De repente, ele se levantou, o rosto pálido, e saiu em disparada para o banheiro.

Kirishima o seguiu de perto e encontrou Bakugou curvado sobre o vaso sanitário, vomitando. A pressão emocional, somada ao estresse físico, parecia ter finalmente chegado ao limite do loiro naquele dia

— Bakugou… — Kirishima murmurou, se ajoelhando ao lado dele, colocando uma mão reconfortante em suas costas enquanto ele lutava para recuperar o fôlego. — Tá tudo bem, Deixa isso sair...

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