Capítulo 1: descoberta

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— Temari, eu não quero morrer...
Arrastei ela comigo.
— Você não vai morrer!
Minha visão estava turva pelas lágrimas, mas eu não podia desistir.
— Eu não sinto mais minhas pernas! Temari! Eu vou morrer.
O som embargado em sua voz me atingiu em cheio, minhas pernas bambearam, mas não parei. Continuei a arrastando comigo.
— Nós vamos sobreviver, aguente firme.
Pedi.
Um forte zumbido atingiu meu ouvido, olhei em volta, tento a visão dos infernos. Todos os meus companheiros...
— LEVANTEM!
Pedir.
Por que eles não se mexem?
— Temari!
Olhei para a minha amiga, e continuei a arrastando, acabou! Estamos mortos.
— DINAMITE!
O zumbido em meu ouvido me fez soltar a minha amiga, minha cabeça dói, lateja tanto que parece que vai explodir.
Junto com aqueles que estavam comigo.
Eu preciso sair daqui.
Meu corpo começou a tremer.
E eu corri.
— Temari!
Olhei para trás.
A cabeça de minha amiga foi explodida, meu Deus! Droga, droga, um sniper.
Tropecei.
Meu coração batia tão rápido que parecia que iria parar a qualquer momento.
Eu não quero morrer!
Com todas as minhas forças, levantei.
Corri.
Nem a dor da bala entrando em minha perna me fez parar.
Eu preciso fugir!
A cena da cabeça dela explodindo não sai da minha cabeça. Ela poderia estar comigo agora! Eu poderia estar morta com ela.
Grito, em desespero.
Sentir minha orelha arder.
Olhei para trás.
Eles estão atrás de mim!

— Eles estão atrás de mim!
Levantei no susto, gemi de dor. Minha perna, ai minha perna!
— Ei, calma!
Pisquei, confusa.
Olhei em volta, onde estou?
Minha cabeça latejou, me obrigando a fechar os olhos.
— Você deve ter um pesadelo, é meio difícil conseguir dormir quando a gente escuta daqui os tiros.
Abrir meus olhos. A caverna estava escura, mas eu conseguia ver um pouco dele.
Minha perna latejou quando a mexi.
— Está bem?
O observei com calma.
Minhas memórias foram voltando, com calma. Será que ele já sabe que sou inimiga?
— Estou melhor, como você conseguiu retirar a bala?
Ele sorriu. O seu sorriso me deu uma leve sensação de esperança.
— Minha amiga é enfermeira, e a gente tem treinamento de como realizar esse tipo de cirurgia, além do mais, a bala não pegou no osso.
Balancei a cabeça concordando. Ainda bem que não matei ele, como eu mataria?
— Obrigada...
Ele ficou quieto, apesar de falarmos a mesma língua, o seu sotaque é diferente do meu. Tenho quase certeza que ele já percebeu.
Será que ele tem segundas intenções comigo? Não faz sentido, fiquei desacordada por tempo o suficiente para que ele fizesse o que quisesse, e sei que não fez.
Ele tocou a minha mão.
— Não me agradeça — pronto, vai me matar — as vezes penso que morrer, é melhor do que estar atordoado com as memórias desses últimos dias.
Sorri, sem perceber.
— Por isso pedi para você me matar.
Eu não quero morrer. Fechei os olhos com a lembrança de minha amiga morrendo, porque eu a deixei que morresse...Ficamos em silêncio se encarando.
— Eu já gastei minha preciosa anestesia contigo, e não foi em vão, tu vai ficar viva sim!
Acabei rindo. Talvez eu devesse mesmo morrer. Retirei a sua mão da minha.
— Ei, não chorar.
Olhei para ele, não tinha percebido, limpei minhas lágrimas, sabendo que jamais a verei.
A gente cresceu juntas.
— Sei que aprendemos a perder pessoas, mas uma amiga de infância... É doloroso, eu poderia ter evitado...
Evitado sentir o que sinto. Já que morto, ate onde sei, não tem sentimentos.
Talvez se ele soubesse o quão covarde eu sou, ele me matasse.
Estou entre não querer morrer, e não querer viver. Talvez eu não queira viver em uma guerra.
Eu queria tanto não está aqui, o que eu não faria para estar em qualquer lugar agora, desde que não estivesse nesse local, sendo jogada em direção a morte por pura ganância, sendo apenas um peão nas mãos de quem está acima de mim!
— E qual o problema? — me surpreendo — Estamos em guerra, você não é uma super heroína que deve salvar todos, estamos aqui para matar!
Meu coração apertou com força.
Solucei, tentei limpar minhas lágrimas, mas elas não pararam.
— Você perdeu alguém importante?
Perguntei, em meio às lágrimas. Ele respirou fundo.
— Todo mundo perdeu alguém, mesclar quem foi o mais importante não parece ser justo com aquelas que se foram.
Balancei a cabeça concordando.
Suspirei fundo.
— Você tem razão.
— Qual era o nome do seu pelotão?
Engoli o seco.
— Eu não lembro. — parando para pensar, nós nunca tivemos um nome, éramos conhecidos por números — de verdade, tínhamos um nome?
Agora ele descobre e me mata. Poxa, estava achando ele mó gatinho.
Mas será melhor assim. Fechei os olhos com a imagem da minha amiga morrendo.
— Claro, somos bem divididos, acho que sua memória deve estar confusa.
— A única coisa que sei, era que a gente se ajudava, e sonhávamos com o fim dessa guerra, de podermos ter um pouco de felicidade, que pudéssemos aproveitar um jantar em família, até uma mera discussão, mas saber que estamos vivos... Era o que todos sonhávamos, não em sobreviver, mas em conseguir viver depois de tudo isso.
— Você pode fazer isso por eles.
Suspirei fundo.
— Eu não mereço...
Engolir as palavras, pois sabia que diria mais do que necessário.
— Todos merecem, não se cobre tanto assim.
— Mas ainda prefiro morrer agora, melhor do que depois de me recuperar, voltar para guerra e de quebra sair sem um braço e uma perna, aleijada... As vezes a morte parece ser o caminho mais fácil.
Ele pegou um graveto e começou a rabiscar o chão.
Ele sorriu, e levantou. O esperei, e ele retornou com alguns enlatados.
— O caminho mais fácil, nem sempre, é o ideal. Pega, — ele me entregou aberto —  é a única refeição que posso te oferecer.
Não sei o que era, mas na hora da fome, qualquer coisa se torna delicioso.
— Isso aqui já é muito.
Sorrimos um para o outro.
Comemos e ficamos conversando, às vezes ficamos em silêncio.
— Seu sotaque é diferente.
Engoli o seco.
— Você acha?
Sussurrei.
— Você sabe que eu quisesse te matar, já teria te matado, não sabe?
— Aonde quer chegar?
Tentei levantar, mas não consegui.
Droga.
Ele vai me matar.
A não!
Eu já tava me apegando a vida.
Ele caminhou até mim, ficando próximo demais de mim.
— Por que está ofegante?
Engoli o seco, meu coração parece que vai sair pela boca.
— E-eu... — suspirei fundo — você está me assustando.
Contei, cobrindo meu rosto, não quero ter como a última visão da minha vida, seus olhos escuros quase me devorando.
— Agora eu me lembro, era você, que estava correndo.
Puxei o ar com força. Mal consigo respirar.
O empurrei, ele pareceu surpreso, tentei levantar e sair pulando com uma perna só, naquele momento, a dor em minha perna era nada comparada ao meu desespero.
— Você não me pediu para eu te matar?
Ele me puxou pela cintura sem esforço algum, me levantando do chão, como se eu fosse uma boneca.
Tentei tirar as suas mãos, mas sem sucesso.
— Me deixa ir ou me mata logo, não faça joguinhos.
Fechei os olhos, esperando que ele me matasse.
— Você sabe que eu não tenho escolha, não sabe? — Ele me colocou no chão e afrouxou o aperto, e me virou em sua direção. — Eu sinto muito...
Então era isso? Minha vida acaba aqui?
Olhei para a sua mão, que pegava algo do bolso de sua calça.
Para seu rosto.
E para minhas mãos.
Eu iria morrer aqui mesmo?
Agora?
Achei que ele fosse a minha esperança.
Mas a esperança, quer me matar!

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